Indústria preservou araucária no
maior reflorestamento do mundo
Levantamentos
chegaram a três milhões de metros cúbicos de araucária na Fazenda Monte Alegre
em 1943, reserva suficiente para os primeiros dez anos da indústria de papel.
Conífera de fibras longas, a araucária entra com 80% na composição da celulose
e o eucalipto, de fibras curtas, com 20%, o processo à época. A pasta mecânica
de papel-jornal, porém, é só de araucária, economicamente industrializável a
partir da idade mínima entre 20 e 25
anos.
Sendo uma árvore de
longo prazo, já em 1942 a Klabin iniciara o reflorestamento com araucária no
alto e médio Tibagi.
Em 1943, as
madeiras em geral já representam 49,5% do valor da exportações paranaenses e na
década de 1950, o pinho – ou seja a araucária – passa a ser a madeira
predominante. Com a metade dos pinheiros em idade de corte no sul do país em
1953, o Paraná põe no mercado 1,750 milhão de m³, equivalentes a 54% da
produção nacional, vendida em toras, beneficiada, em laminados e compensados —
estatística no livro A Madeira na Economia Paranaense, de Aída Mansani
Lavalle (Grafipar/Secretaria da Cultura e do Esporte do Paraná – 1981).
As serrarias
avançam do sul para sudoeste, fazendo supor a extinção da árvore. Mas, até
1951, a Klabin já havia plantado 70 milhões de araucárias, sete mil hectares. E
previa a continuidade com 20 milhões de mudas anualmente em áreas desmatadas e
de campo.
Em 1954, a
Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) informa
que, incluindo outras essências, “o maior reflorestamento particular do mundo”
está em Monte Alegre.
Com a seca
prolongada em 1963, incêndios destroem florestas e matam animais e gente. “O
interior do Paraná está pegando fogo”, escuta-se no rádio em 29 de agosto de
1963. No médio Tibagi, fagulhas atravessam o rio das Antas, passando aos
pinhais e eucaliptos da Fazenda Monte Alegre.
Em 4 de setembro,
as chamas se aproximam de Harmonia; preventivamente, parte da população se
refugia na fábrica, há notícias de mortos em outros lugares e ao hospital
chegam, procedentes de Ortigueira, pessoas queimadas. Quatro mil homens do
Exército, Marinha, Força Aérea, da Polícia Militar e bombeiros entram em ação,
além das equipes da Klabin e voluntários; um helicóptero orienta as unidades
militares.
“Monte Alegre
bastou-se, mas nos seus arredores morreram famílias inteiras.” O fogo durou
pelo menos 20 dias na região e no Estado chegou a 40 municípios durante quatro
meses.
Arderam 36 mil
hectares reflorestados na Fazenda Monte Alegre e também pinhais nativos. Das araucárias plantadas, 70% queimaram, conforme a história no
livro Monte Alegre, cidade-papel. A chuva, que começou em 18 de setembro, ajudou a apagar o fogo e se constatou que aves e mamíferos silvestres morreram aos milhares.
“Os pinheiros
carbonizados permaneceram de pé, esqueletos negros num cemitério de cinzas com
milhares de hectares” e o plano de autossuficiência da Klabin ficou
irremediavelmente prejudicado. Mas, “dos grandes pinhais, por onde passara o
primeiro fogo, restaram áreas extensas; araucárias chamuscadas resistiram, numa
promessa de recuperação”.
Na cobertura de 17%
resta pouca araucária
Primitivamente, a
cobertura florística do Paraná cobria 164.800 km² (= 16,4 milhões de hectares):
83,7% da superfície estadual, dos quais aproximadamente a metade, 43,8% ou 7,2
milhões de hectares, de araucária.
Atualmente,
conforme o levantamento da Universidade Federal do Paraná divulgado em 2003, a
cobertura arbórea nativa, que se observa em três estágios de regeneração, ocupa
17% da superfície do Estado. Acrescentando-se várzeas, campos, cerrados etc.,
chega a 18%. Os índices de regeneração no ecossistema da araucária totalizam
24%, contra 10% no restante.
Portanto, evoluindo.
As araucárias em estado avançado de regeneração,
porém, constituem “poucos e dispersos fragmentos em franco processo de
desaparecimento, por estarem sob risco de extração, queimadas, substituição
etc.” — segundo analistas da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental.