“Catequese e civilização”
de índios no baixo Tibagi
Na primeira
metade de 1800, os caingangues têm grupos submetidos a massacres no Alto
Tibagi, até serem expulsos, mas permanecem em áreas margeando o curso inferior
do rio. E o governo imperial decide confiná-los, para ceder as terras a outros
interessados, que tinham a posse facilitada.
Já em 1845, o
imperador Pedro II havia regulamentado as “missões de catequese e civilização
de índios”, a cargo de capuchinhos italianos contratados e remunerados. Atendia
os interesses do Estado e da Igreja Católica. Na Província do Paraná, criada em
1853, quem determina a localização dos aldeamentos é o senador João da Silva
Machado, Barão de Antonina, o maior latifundiário. Pelo seu próprio interesse e
o do governo, colonizar, Machado já mandara abrir o caminho de Castro a Jataí,
na década de 1840.
Caingangues
armados de flechas e lanças assaltam a Fazenda São Jerônimo, em 14 de novembro
de 1859. Para não ser morto, o administrador foge e os índios se apoderam de
ferramentas e de quase tudo que podem levar.
Meses antes, a fazenda havia sido “doada”
pelo Barão, para ser convertida em aldeamento. Caingangues: mais conhecidos por
coroados, porque “tonsuravam no alto da cabeça. E assim ficavam com uma
coroa – ou careca – semelhante à dos
padres recém-ordenados, a prima tonsura”. A descrição é do naturalista
francês Saint-Hilaire, que os conheceu. Os coroados pertencem ao tronco jê.
Frei Luiz de Cimitille relatou que os conheceu “altivos e independentes,
exímios caçadores, ferozes e vingativos” na resistência ao branco.
Os índios na Província do Paraná, em 1856,
seriam 40 mil de diversas nações, segundo uma estimativa. Ou 10 mil, conforme
outra mais acreditada. Possivelmente 10 mil, apontou o
engenheiro, estudioso e vice-presidente da Província, Henrique Beaurepaire
Rohan, em relatório à Assembleia Legislativa. O número de índios aldeados mais
tarde confirmaria seria uma amostra da estimativa de Beaurepaire.
Em 1879, estão
“definitivamente” em São Jerônimo 405, exclusivamente coroados, dos quais 168
com menos de 10 anos de idade, conforme relatório ao presidente da Província
assinado pelo “missionário-diretor”, frei Luiz de Cimitille, que assumira o
cargo em 1867. Anteriormente, haviam sido diretores Joaquim Francisco Lopes,
John Henry Elliott e Telêmaco Borba. Frei Luiz permanece até 1881, retorna à Itália e morre em 1902.
Um
norte-americano
entre os
caingangues
Filho de inglesa e norte-americano, John Henry
Elliott chegou ao Brasil em 1825, numa fragata da marinha dos Estados Unidos.
Tinha apenas 16 anos de idade, transferiu-se para a marinha brasileira, no
posto de tenente, e foi combater na Guerra Cisplatina. Aprisionado por forças
inimigas do Uruguai, consegue fugir após dois anos, quando passa ao serviço do Barão de Antonina.
Explorador e cartógrafo, Elliott faz o mapeamento de rios e terras ao sul do
país, Minas Gerais e Mato Grosso, até se fixar em São Jerônimo.
Em 1874, Elliott
relatou a Thomas Bigg-Wither que toda a margem direita do Tibagi “havia sido
libertada de índios hostis. Ou que foram expulsos ou forçados a viver em paz
com os colonizadores”.
A John Henry Elliott se deve a primeira
novela indianista paranaense, “talvez concebida nos sertões de São Jerônimo”. A
informação é do historiador Ermelino de Leão sobre Aricó e
Caocochée, “história baseada em
fatos, dedicada ao Ilmo. e Exmo. sr. Barão de Antonina”. Pulicada inicialmente no periódico “O
Jasmim”, em 1857, veio a merecer um suplemento da “Ilustração Paranaense” em
1928, com apresentação do próprio Ermelino. Os personagens são caingangues dos
Campos de Palmas (sudoeste), mas Elliott já estava em São Jerônimo quando
escreveu a novela, deduziu Ermelino de Leão. Resta uma contradição: Elliott,
que expressou simpatia pelos índios ao escrever, ao mesmo tempo trabalhava para
limitar o espaço deles.