Companhia Monte Alegre, negócio fabuloso em terra de caingangue
Widson Schwartz
Vegetação nativa de Tibagi -PR
Foz do Rio Iapó junção com o Rio Tibagi
Desde a passagem de Thomas Bigg-Wither, em 1874,
sucedem-se as informações de que o garimpo compensador sempre fora no monchão e
em aluviões nas margens do Tibagi; raramente no leito do rio. A geologia,
segundo o explorador, fazia
supor “a cidade de Tibagi (…) situada em um campo de diamantes de considerável
extensão, faltando apenas (…) meios modernos e inteligentes para explorá-lo”.
A fama de terra dos
diamantes chega ao século 20 e os herdeiros da Fazenda Monte Alegre fazem uma
sociedade. A seguir vendem a participação e surge, com acionistas europeus e mexicanos, a
Companhia Agrícola e Florestal e Estrada de Ferro Monte Alegre, com a
finalidade de explorar os recursos naturais da fazenda e introduzir a
agricultura com a participação de cinco mil famílias alemãs.
Foge à história o nome do francês que
conquistou a confiança dos herdeiros, fato inexplicado segundo a histriadora Hellê Fernandes no livro Monte Alegre,
cidade-papel.
Mesmo em sua
grandiosidade de 143.500 hectares e tantos recursos a serem explorados, a
Fazenda Monte Alegre valia bem menos de 30 mil contos de réis, valor constante
no laudo obtido por aquele misterioso homem da França em 1926. “O certo é que
ele integralizou o capital com apenas 250 contos de réis que possuía” e
transformou o total da sociedade em 1 milhão e 200 mil ações. Sócio menor, em dois anos negocia suas ações no
exterior e compra a participação dos herdeiros da fazenda.
“Encetou, então, na
base de empréstimos, um dos mais fabulosos negócios vistos e havidos em terra
de índio caingangue.”
O titular da Companhia Monte Alegre faz “especulações inacreditáveis” e atrai
investidores, entre os quais um sindicato alemão, uma mineradora mexicana e uma
imobiliária francesa. Em Londres, constitui-se a Tibagy Diamond and Gold
Mines Cy Ltd., cujos acionistas esperam lucro de 3.600 quilates de
diamantes. Antes, porém, havia que se fazer explorações, infraestrutura e
adquirir máquinas, contratar técnicos estrangeiros. Os custos são pagos com
empréstimos de bancos estrangeiros e do Banco do Estado do Paraná.
Em 1931, cinco anos
após o início da sociedade, a falência da empresa é requerida por um credor e
os acionistas europeus “ficam apenas com (…)
os sonhos de riqueza fácil em ouro, diamantes (…) e terras nos sertões
do Brasil”. O grosso do dinheiro havia sido gastos em viagens ao exterior e na
contratação de técnicos e projetos; nenhuma atividade produtiva inciada.
A falência
requerida em 1931 é suspensa pelo Supremo Tribunal Federal, mas em 1932 o Banco
do Estado do Paraná entra na Justiça. Com quatro mil contos de réis em haver, o
banco requer a segunda e irreversível falência e arremata a fazenda em leilão,
em 1933. Só havia o valor das terras realmente, porque as benfeitorias eram
irrisórias, mesmo levando-se em conta a abertura de uma estrada de 42
quilômetros até a cidade, uma balsa próxima a Salto Peludo, no rio, e uma linha
telefônica funcionando precariamente.
Quem eram
os herdeiros
José Félix da Silva
e a esposa, Onistarda, tiveram uma filha, que se tornou mãe de Manoel Ignácio
do Canto e Silva. Quando morre o avô, Manoel Ignácio, casado com Cândida
Novais, herda o latifúndio. A filha do casal,
Ana Luísa, se casa com o tropeiro e político José Bonifácio Batista,
deputado estadual de 1854 a 1859, chefe do Partido Liberal e coronel comandante
da Guarda Nacional em Castro, futuro Barão de Monte Carmelo, título que lhe
será outorgado em 1886 por D. Pedro II.
Nascido em 1827 na Vila do Príncipe (mais
tarde Lapa), o Barão de Monte Carmelo morre em 1897. São os seus herdeiros e de
Ana Luísa que fazem a sociedade em 1926 para explorar as riquezas florestais e
minerais da Fazenda Monte Alegre e se retiram a seguir, encerrando o domínio da descendência de José
Félix da Silva há mais de um século.