O Imperador e seu “infrene
galopar” nos Campos Gerais - Widson Schwatz
Depois de atravessar o rio Tibagi pela ponte, a caravana de D. Pedro II é recebida por 500 cavaleiros a uma légua de Ponta Grossa, em 26 de maio de 1880. Conforme O 19 de Dezembro, os “augustos viajantes” entraram na cidade às 18 horas; até às 20h30, em “um coreto ricamente levantado no pátio da matriz, fez-se ouvir uma bem concertada banda de música, notando-se grande entusiasmo (…) entre os habitantes”. O Imperador e a Imperatriz são hóspedes do major Domingos Ferreira Pinto.
Observando que “a criação de gado vacum“, cavalar e muar (…) faz a riqueza dos fazendeiros ali residentes”, o jornal sugere que “já é tempo de se criar, na região propriamente dita dos Campos Gerais, uma companhia pastoril, que não poderia deixar de dar bons resultados”.
Em regozijo à visita de Pedro II, fazendeiros libertam escravos e o major Domingos, ao despedir-se de Sua Majestade, proclama: “Libertei todos os meus e peço a Vossa Majestade o favor de lhes entregar as cartas de liberdade”. Eram sete os cativos. O gesto muito impressionou, pois o major tinha pouca escolaridade. De volta à corte, o Imperador não quis nomeá-lo Oficial da Ordem da Rosa. “Isso é pouco para esse benemérito, faça-o barão”, disse o Imperador ao ministro com quem despachava. “Mas é quase um iletrado”, contestou o ministro. “Não será o primeiro, e este é muito digno. Mande-me o decreto fazendo-o Barão de Guaraúna”, ordenou o Imperador. E concedeu o título, em 31 de agosto de 1880.
Uma “viagem vertiginosa”, informou a Gazeta de Notícias sobre as andanças de D. Pedro II nos Campos Gerais: acidentes, cansaço e a incrível disposição do Imperador, que, “com sua prosa de forte, não tem parado no seu galopar infrene de quinze léguas por dia”.
Os acompanhantes, entre os quais o presidente da Província, Rodrigo Otávio de Menezes, chegaram exauridos a Ponta Grossa. Cavalos mortos e extropiados, carros partidos, informa o jornal. No dia seguinte, em excursão às colônias, o carro de Suas Majestades quase tomba, inutilizando dois cavalos; a Imperatriz “sofre grande incômodo” e regressa. Já o Imperador monta a cavalo e prossegue, deixando para trás o resto da comitiva. Os “carros” mencionados eram as carroças diferenciadas, geralmente de dois lugares. Denominavam-se cupê, com a cabine fechada; caleça, de capota conversível; berlinda, um pouco maior e capota fixa.
Ponta Grossa evoluiu de uma paragem de tropeiros “no começo do sertão do Tibagi”, em se usando a expressão de Rocha Pombo, e foi elevada a freguesia pelo alvará imperial de 15 de setembro de 1823. “Freguesia da Província de São Paulo no distrito da Vila de Castro”, talvez a primeira anotação histórica resumida. Chamava-se Freguesia da Estrela, estabelecida sob invocação de Sant'Ana, em área doada pelo sargento-mor Miguel Rocha Ferreira Carvalhaes. No centro construiu-se a igreja. Em 1842 a Freguesia tem 3.200 habitantes, famílias de agricultores e pecuaristas.
Segundo o folclore, veio a se chamar Ponta Grossa pela característica do lugar: “encostado naquele capão que tem a ponta grossa”. Elevou-se a município em 1855. Mais tarde, no período de apenas um ano, 1871-1872, chamou-se Pitangui.
Encontro com os
russos-alemães
Além dos fazendeiros ricos, havia em Palmeira e Ponta Grossa pequenas colônias de imigrantes europeus e o Imperador “indignou-se” ao constatar o fracasso dos que receberam terras improdutivas. “Causou lástima ver o estado desgraçado em que se encontra a colonização no Paraná. Se por um lado existem colônias com terras boas, cujos moradores estão contentes, por outro há núcleos abandonados”, informou um jornal da corte, referindo-se aos russos-alemães no Capão da Anta, em Palmeira; e em Uvaranas, Ponta Grossa. No Capão, o Imperador pediu a um soldado que revolvesse a terra com a espada. E comentou: “Isto não dá nem capim. Isto é cascalho não é terra”. E concluiu: “No Volga, esses pobres homens tinham muito melhores terras, não precisavam vir tão longe”.