Na mudança de curso, os vales suspensos no paredão do Tibagi
A transição do
médio para o baixo Tibagi ocorre entre os municípios de Tamarana (margem
esquerda) e São Jerônimo da Serra (margem direita), início do trecho mais
impressionante. Primeiro afluente a assinalar a mudança, à direita, o rio
Apucaraninha tem bacia de 579,8 km² e com o salto de 125 metros de altura,
próximo à foz, compõe “um vale suspenso
na margem do Tibagi”, definição de Reinhard Maack.
A força
geradora de 9.300 kilowatts é aproveitada desde 1949, quando a Empresa Elétrica
de Londrina construiu a usina, atualmente propriedade da Copel, que paga
royalties aos caingangues pela cessão da área em terra indígena. E é ponto
turístico.
Com a mudança
de curso, o Tibagi passa também do segundo para o terceiro planalto; na margem
direita, o rio do Tigre é o afluente que assinala a transição. Seu panorama
assemelha-se ao do Apucaraninha na margem oposta. Com o salto de 148 metros de
altura, o Tigre tem o próprio vale “em suspensão no paredão do vale do Tibagi”,
segundo Maack na Geografia Física do
Paraná.
Situa-se em São
Jerônimo da Serra, onde há outros rios nas alturas, sob uma linha reta que, a
partir de Apucarana, “corta” o vale do
Tibagi do centro-norte para nordeste, passando por Tamarana e a Serra dos
Agudos. Essa faixa se inclui nos 26% do território paranaense com altitude
acima de 800 metros e até 1.150.
Por um vale a
700 metros de profundidade o Tibagi transpõe a Serra dos Agudos, percorrendo 10
quilômetros até “quebrar” para oeste, quase em ângulo reto, e por mais quatro quilômetros indo atingir a
escarpa íngreme do terceiro planalto. Os
14 quilômetros que deixou para trás, repletos de corredeiras, é o trecho mais
emocionante de todo o percurso. Por ali, os maciços distribuem-se por altitudes
acima de 800 metros.
Os acidentes
mais notáveis de longa distância são o pico com 1.224 metros de altitude, a
leste, e a crista da serra, 1.212 metros, no sentido sudoeste-noroeste. O distrito
de Terra Nova é um dos lugares que permitem avistar-se, parcialmente, o
magnífico panorama, em que “o rio serpenteia entre as montanhas, lá embaixo,
como um risco prateado pelo reflexo do
sol ou da lua cheia”, conforme a descrição de João Dias Ayres em seu livro Portal da Esperança, crônicas do
anteontem. Refere-se, em especial, à Serra dos Agudos, “beleza
indescritível, muito bem evidenciada quando se aprecia de avião em baixa
altitude”.
Assíduo
apreciador do Tibagi desde que chegou ao norte do Paraná, em 1937, para exercer
a medicina, doutor João (1913-2008) observou que “o borbulhamento da água ao
contato com as pedras e os golfos das corredeiras” expande o oxigênio,
atenuando o efeito da poluição sobre os peixes. “Diríamos, então, que o Tibagi
é um rio que se lava a si próprio.”
O desafio invencível
em 200 milhas de rio
Quem conhece
tão-somente a nascente e a formação do Tibagi nas altas campinas, recebendo
alguns ribeiros e regatos, não imagina a grandiosidade que atingirá, deduziu
Thomas Bigg-Wither em 1874, após regressar de aventura até o curso inferior.
Guiado por Telêmaco Borba e dois caingangues viajara “300 milhas através do grande cenário de
montanhas e florestas”, descobrindo o Tibagi “feroz e belo como o próprio Éden”.
Os trechos mais
bravios tiveram de ser contornados por terra. Mas Bigg-Wither pôde ver o rio
“despenhando-se em cascatas e cataratas, até que, por fim, a suas águas se
confundissem com as do rio ainda mais caudaloso, o Paranapanema”. Na viagem de
regresso, a exemplo de expedições anteriores, a de Bigg-Wither e Telêmaco não
conseguiu vencer o desafio das 200 milhas de rio entre a Colônia Militar de
Jataí e a cidade do Tibagi.
Numa das vezes,
quando já se congratulavam por terem “saído bem” do desfiladeiro dos Agudos,
subitamente lhes apareceu “um salto e catarata combinados”, formando “uma
gigantesca e intransponível barreira de rocha, espuma e volume de água”.
Base do Pico Agudo |
Rio Tibagi vista Pico Agudo |