A completa influência
dos barões tropeiros
Widson Schwartz
Rio Cará Cará, que passa pela Fazenda Bugio, em Tibagi
Capela Santo Antônio, na Estrada BR-153, em Tibagi
Nascente do Rio Tibagi, na Fazenda Bugio, em Tibagi
Na recém-instalada
Província do Paraná, o imposto sobre a movimentação de animais representa 70%
da receita pública, assinalados na lei n.º 4 de 1.º de agosto de 1854, relativa
à normatização do Registro de Rio Negro, o mais importante no caminho das
tropas. Mas o porcentual, tão elevado, teria contribuições de outras passagens,
faz presumir a lei do orçamento provincial, de 18 de setembro de 1854, que
autoriza a designação de funcionários para “arrecadação e fiscalização do
imposto de animais” em Palmas e na divisa com Itararé “ou onde o governo julgar conveniente”.
A província tem 62.257 habitantes e orçamento
estimado em 123,6 mil contos de réis no
primeiro ano, expõe Samuel Guimarães da Costa no volume I da História da
Assembleia Legislativa do Paraná. Inerente à força econômica é o prestígio
político dos fazendeiros e tropeiros, que impõem a capital da Província.
“Conquistado pelos
liberais e pelos fazendeiros liderados pelo Barão de Tibagi”, o presidente da
Província, Zacarias Góes de Vasconcellos, “influi na Assembleia Provincial em
favor da escolha de Curitiba, repetindo argumentos antes sustentados por
Jesuíno Marcondes, que funcionara como auxiliar da presidência na administração
provincial.” O Partido Conservador propusera Paranaguá.
José Caetano de
Oliveira, o Barão do Tibagi, é o pai de Jesuíno Marcondes, deputado e líder do
Partido Liberal. Artigo primeiro da lei número 1, de 26 de julho de 1854: “A
cidade de Curitiba é a capital da província do Paraná”.
De oito títulos de
nobreza concedidos entre 1842 e 1888 a residentes na 5.ª Comarca de São Paulo,
a seguir Província do Paraná, seis couberam a tropeiros. Barão dos Campos
Gerais corresponde à notável posição de David dos Santos Pacheco, natural da
Lapa e que fora iniciado no comércio de tropas pelo padrinho de batismo, João
da Silva Machado, futuro Barão de Antonina. Depois, associou-se a parentes,
tornou-se um dos mais ricos no ramo, com criatório também no Rio Grande do Sul,
David, eleito deputado e vice-presidente provincial. Organiza e equipa, por sua
conta, 150 voluntários para a Guerra do Paraguai. Em 1880, hospeda D. Pedro II
em sua residência na Lapa.
O aluguel de
pastos, para as tropas de passagem, impõe o declínio da pecuária nos Campos
Gerais. É a imensidão do latifúndio que faz ser mais lucrativo alugar para
invernada do que criar os animais e produzir alimentos. Tomas Bigg-Wither
constata em 1874 que na Fazenda Fortaleza, a maior da província, de 100
escravos restam oito. E o proprietário
mudou-se para a cidade. Em Fortaleza, é possível engordar 16 mil animais em
três meses, mediante o pagamento de dois mil réis por cabeça. A pastagem, porém,
permanece vazia quase o ano inteiro.
“Mais algumas
fazendas como a Fortaleza nas mãos de homens como o sr. Manuel Ignácio Costa –
o dono – transformariam toda a província do Paraná num deserto”, conclui
Bigg-Wither.
O latifúndio e o drama
da Fazenda Fortaleza
Manuel Ignácio da
Costa herdara o fantástico latifúndio de seu avô José Félix da Silva,
abrangendo. 340 milhas quadradas,
equivalentes a 544 quilômetros quadrados, calculou Thomas Bigg-Wither em 1874.
“Todavia,s eu proprietário não a cultivava, a não se em insignificante extensão,
nema vendia.” O latifúndio era formado pelas Fazendas Fortaleza, Lagoa e Mone
Alegre. e suas ramificações, a Alagoa e
a Monte Alegre.
David Carneiro
escreveu “O Drama da Fazenda Fortaleza”, romance baseado em lendas e fatos
anotados por Saint-Hilaire em 1820. José Félix maltratava escravos, empregados
e a própria família; a esposa, Onistarda, reuniu cúmplices para assassiná-lo.
Ele resistiu aos atentados, mas ao morrer – ainda na década de 1820 – estava
coxo de uma perna, sem os dedos em uma mão e a outra atrofiada. A esposa havia
sido condenada e Félix, por sua influência, a mantinha prisioneira na Fazenda
Fortaleza.