Havia os diamantes, mas
tropeirismo deu impulso
Widson Schwartz
Cará Cará, Fazenda Bugio, em Tibagi
Fazenda Bugio, Nascente do Rio Tibagi
Ponte do Rio Tibagi, entre Ponta Grossa e Curitiba
Fazenda Cambiju, em Ponta Grossa
Antônio Machado Ribeiro, o Machadinho, despediu-se da Fazenda Fortaleza, onde era capataz, e deu origem a Tibagi, em terras que recebera de José Félix, o ex-patrão, em agradecimento pelos serviços. Por outra versão, oficializada, Machadinho obteve por conta própria a extensão entre o rio Pinheiro e o arroio Santa Rosa e foram seus herdeiros Manuel das Dores e esposa, Maria Gertrudes dos Santos, que doaram 12 mil metros quadrados para a construção da igreja de Nossa Senhora dos Remédios, em 1833.
Pela escritura, lavrada na Câmara de Castro, a doação incluiu a casa que fora de Machadinho. Desenvolveu-se o núcleo, elevado a freguesia em 6 de março de 1846. Já pela lei provincial de 18 de março de 1872, passou de freguesia a Vila de Tibagi.
O garimpo – ou mineração – é precedente na perspectiva da povoação, mas o tropeirismo, que tivera o início um século antes, a impulsionou; mais tarde, o garimpo de diamantes voltou a ter relevância. A grande corrida ao ouro de Minas Gerais, nas primeiras décadas de 1700, estimulou paulistas à pecuária nos campos paranaenses, para suprir aquele mercado em expansão e, também, a Bahia e o Rio de Janeiro. Destacam-se Pedro Taques de Almeida, chefe de uma família detentora de sesmarias nos domínios de Castro, e Bartolomeu Paes de Abreu.
Em 1727, o capitão-general de São Paulo, Caldeira Pimentel, manda abrir o que seria o primeiro Caminho das Tropas ou de Viamão. Conforme o Dicionário Histórico-Biográfico do Estado do Paraná (Livraria Editora do Chaim/Banestado - 1991) era “a
estrada de Laguna” (menção à localidade catarinense) que, “ligando os campos do
Rio Grande aos de Curitiba, possibilitasse a subida das tropas de gado”. E a primeira
passagem
se
deu
em
1731: Cristóvão Pereira de Abreu conduziu “três mil cavalgaduras e 500 vacas” do Rio Grande do Sul a Sorocaba.
A Feira de Sorocaba, propriamente, começa em 1733. Será o maior entreposto
comercial
de
bois
e
principalmente de mulas e burros – os muares –, excelentes
para
tração
e
carga.
Os paulistas estabelecidos nos Campos Gerais “logo se
tornaram os mais numerosos tropeiros, comprando animais no sul, conduzindo-os e
vendendo em Sorocaba”.
Já no século 19, tornam-se mais lucrativas as invernadas, para a
recuperação das tropas, que perdiam muito peso na longa marcha. Tal opção
restringia a criação de animais de corte e a produção de alimentos básicos nos
Campos Gerais, do que resultaria uma crise de abastecimento na Província e
queda na arrecação de impostos.
O
principal entre
outros
caminhos
Na realidade, eram caminhos de tropas, e não apenas o caminho, com o decorrer do ciclo. Desde o Rio Grande do Sul, passando
por
Santa
Catarina,
o
de
Viamão
chega
ao
Paraná
por
Rio
Negro,
dali
estendendo-se a Lapa, Palmeira,
Ponta
Grossa,
Castro,
Piraí
e
Jaguariaíva.
O
caminho
a
partir
de
Cruz
Alta
passa
em
Chapecó
(SC)
e
atingia
Palmas,
sudoeste
paranaense.
De
Palmas
estende-se a Guarapuava,
Tibagi
e
Castro.
Caminhos paralelos interligados por dois atalhos: entre Palmas e Palmeira, passando por Imbituva; e entre Guarapuava e Ponta Grossa. Só adiante
de
Castro
o
caminho
é
um
só.
Em
Contribuição ao Estudo da História Agrária do Paraná, Brasil Pinheiro Machado expõe o mapa dos caminhos de tropas no sul, nos quais a Capitania de São Paulo e depois a Província do Paraná cobravam impostos sobre animais.
Segundo o governo, uma parte da arrecadação se
destinava a custear a manutenção dos caminhos. Mas, por outra versão, muito
pouco dispendia, porque os tropeiros tinham nos Campos Gerais caminhos
naturalmente abertos, nas campinas entremeadas de capões de araucária, limpos
por baixo, e de rios encachoeirados, em leitos de pedra fáceis de atravessar.