(25
de julho de 2013 – Widson Schwartz.)
De
Jataí à foz um rio
exuberante
em 1876
Jataizinho - Enchente |
No ensolarado amanhecer de 1.º de
janeiro de 1876 quase toda a população da Colônia Militar do Jataí – naquele ano 296 pessoas das quais apenas
três militares conforme estatística oficial – encontra-se no porto, espreitando
os arranjos da expedição dos irmãos Nestor e Telêmaco Borba, que irá descer
o último trecho do Tibagi e através do Paranapanema atingir o Paraná. Objetivo:
Sete Quedas, em Guaíra.
Vão
em duas canoas, uma com 16 metros de comprimento por um de largura, escavada em tronco de peroba, com um toldo
de dois metros de extensão na popa, coberto de folhas de palmeira. A segunda,
de cedro, tem dez metros por 70 centímetros de largura.
Quem os acompanha é Bento,
o
mulato,
e
dois
caiguás,
o
cacique
Bandeira
e
Bruno,
o
mais
hábil
canoeiro
– ou
piloto
– do
Tibagi
e
Paranapanema.
Muito
mais irão navegar no Paranapanema e Paraná, mas os 78 quilômetros do Tibagi
entre Jataí e a foz serão de sobressaltos, tantas as corredeiras. Mesmo
descendo, vão demorar dois dias. Em compensação, terão paradas em alguns
lugares paradisíacos.
Às 9 horas entram na corredeira do
tira-fubá, com seus canais ao longo de três quilômetros. Largura do rio: 500 a
600 metros, conforme anotações de Telêmaco. Ao entardecer, encostam na Ilha dos Cágados, assim denominada pela abundância dessa pequena tartaruga. Suas ninhadas cobertas de areia contém de 16 a 20 ovos, “tesouro alimentar para o homem”.
Dormem na Ilha dos Cágados,
estimando-se que tenham vencido
metade
dos
78 quilômetros de Jataí ao Paranapanema. No dia seguinte, passam pelas corredeiras do Cerne e do Congonhas – nomes de afluentes – e entram na mais perigosa de todas: Sete Ilhas. Há notícia de naufrágio e mortes nesta corredeira em 1856, uma canoa carregada de “trem bélico” em que morreram
seis soldados e um cabo do 2.º Batalhão de Artilharia, em trânsito para Mato
Grosso. “É a mais violenta do baixo
Tibagi, pesadelo de todos os pilotos”, observa Telêmaco. “Apesar de tudo, um dos
lugares mais pitorescos do rio.”
Dezoito quilômetros adiante de Sete Ilhas as canoas entram em um dos raros trechos calmos do Tibagi. É ao término da corredeira do Biguá que começa o remanso da Ilha das Araras, habitat da majestosa
ave
de
plumagem
azul
e
vermelha.
Há centenas de araras na
pequena
ilha, onde se vê uma choça de índios coroados, que apreciam a carne e usam as penas para fazer trajes festivos. Outras aves muito notáveis:
o
maracanã,
a
jandaia,
a
pomba
parda.
E
a
jacutinga,
nome
de
um
dos
principais
afluentes
na
margem
esquerda
e
de
um
ribeirão
na
margem
direita.
Altera-se o panorama com o rápido São Xavier e o baixio do Jacu, que os navegantes atingem ao entardecer do segundo dia. Estão chegando à foz do Tibagi, mas decidem pousar, evitando entrar no Paranapanema ao anoitecer. “Dia 3, oito horas. Eis o Paranapanema!”
A foz (ou barra)
do Tibagi tinha 205 metros de largura e
profundidade de 2,50 metros no canal. Medições dos engenheiros Keller em 1865.
Um dourado
e cinco anzóis
Cacique Bandeira e Bruno, índios caiguás,
preferem pacu; os Borba e Bento apreciam dourado. E pescam na Ilha dos Cágados.
“Nestor
admira-se de perder cinco anzóis de sua vara inglesa. Telêmaco fisga enorme
dourado. Um metro. E na boca do peixe encontra os cinco anzóis perdidos por
Nestor!”
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(FONTES: “O indomável republicano”, Túlio Vargas – O
Formigueiro, 1970; e Boletim do Arquivo do Paraná n.º 6 – abril/1980.)