Uma disputa de 140
anos na terra
indígena
Estância Rio Branco - Tamarana PR
Face à perda do habitat primitivo, à
contaminação e o aculturamento, o quase extermínio dos coroados não significou
para São Jerônimo o progresso. Instalado o município em 1920, sucede fato
inusitado em 1928: a Justiça Federal determina o despejo do poder público e de
toda a população urbana: a cidade ocupa terra indígena. A sentença acaba não sendo executada, mas em 1932 a
comunidade é rebaixada a distrito de Jataí, assim permanecendo até 1939.
O então prefeito de
Jataí, Odilon Borges de Carvalho, sugeriu ao interventor no Paraná, Manoel
Ribas, que propusesse à União a transferência dos índios para a Reserva
Apucaraninha. E se liberasse São Jerônimo às 2.752 pessoas que exploravam a
terra que, legalmente, pertencia a “148 índios errantes e vagabundos,
consumidos pela tuberculose e pelo álcool, doentes e inúteis”.
Apesar da reserva, que se mantém, São
Jerônimo recupera a condição de município em 1939 e muda de nome em 1943:
Araiporanga. Mas permanece “em situação de atraso, sem
luz e sem água. Não possui os requisitos de uma modesta sede”, informa o
prefeito, major José Scheleder, em relatório ao interventor no Estado. A
solução seria mudar a cidade para fora da terra indígena, em lugar oferecido
pela empresa J. Sguário, na Fazenda Alagoa. Proposta rejeitada.
Em 1944, Araiporanga
é rebaixado a distrito do recém-criado município de Congonhinhas. Só em 16 de
outubro de 1947 o antigo município é restabelecido, agora denominado São
Jerônimo da Serra.
Acordo entre o Estado do Paraná e o Governo
Federal, em 1948, diminui a reserva indígena de 14 mil para 2.200
alqueires. Legaliza-se a cidade e os
arredores. O tratado inclui em permuta as glebas Água Branca e Cedro, que o
Governo do Paraná transfere aos índios. Essas terras, porém, estão parcialmente
ocupadas por detentores de 40 títulos expedidos no tempo do Império e
legitimados pelo Estado.
Começa um novo
litígio, que só terminará entre 1980 e 1990, após uma sucessão de conflitos,
por vezes sangrentos, entre índios e invasores na Água Branca. Sentença da
Justiça Federal determinou a expulsão dos intrusos; já as famílias portadores dos títulos aceitaram
trocar a gleba do Cedro por lotes em Tamarana. Desde a origem de São Jerônimo, em 1854, a disputa na terra
indígena havia durado 140 anos. Atualmente, são 770 os
índios, em duas reservas: São Jerônimo e Barão de Antonina.
O primitivo
município de São Jerônimo tinha aproximadamente 3.300 km²; atualmente, 663,8
km2. No antigo território estão desmembrados 10 municípios.
Os últimos sinais
de Lopes e Elliott
John Henry Elliott
era desenhista e entre as aquarelas que legou, uma retrata o Aldeamento de São
Jerônimo, fundado por ele e Joaquim Francisco Lopes. Em 1874, Thomas
Bigg-Wither conheceu Elliott no aldeamento, casado com Reginalda, “mulata e
megera, uma loucura de meia-idade”, que dava ordens ao marido “como se ele
fosse um cão”. Alquebrado fisicament, Elliott possuía a casa e a terra que
recebera do Barão de Antonina. Teve cinco filhos, um deles com o nome do pai aportuguesado, João
Henrique, se tornou tabelião substituto de São Jerônimo.
Em 1920, o advogado
Sá Carvalho, a serviço de herdeiros do Barão de Antonina, encontrou um neto de
John Henry, chamado Claro Elliott, intérprete na reserva indígena Apucaraninha.
Lopes
e Elliott morreram e foram sepultados em São Jerônimo, em 1884. Sá Carvalho localizou os túmulos e guiado por
Claro chegou, também, aos últimos sinais da
Colônia Militar de Jataí. Num “batelão” desceram o Tibagi até a foz do
Congonhas. Lá estava a pedra em que Lopes e Elliott, em 1846, gavaram as
iniciais de seus nomes.
Joaquim Francisco
Lopes era natural de Minas Gerais e casou-se três vezes; a segunda esposa,
filha natural do Barão de Antonina, chamava-se Maria Conceição Vergueiro. Dos
três matrimônios, ele teve 12 filhos.