“O Rio Iapó nasce perto de Castro, corre abaixo dessa cidade e se joga no Tibagi”,
anotou o botânico francês Augustin de Saint-Hilaire
Em Castro, uma nova ponte foi construída em 1840, supostamente a que D. Pedro II conheceu 1880,
talvez restaurada ao longo de 40 anos
O Iapó e as “maiores
fortunas da
Província” Widson Shwartz
Ainda nas cercanias do curso superior do rio Tibagi, em 28 de
maio de 1880 a comitiva de D. Pedro II é recebida em Castro, “onde estão as
maiores fortunas da província”, tema dos jornais. Numa berlinda puxada
por quatro cavalos, cedida pela Baronesa do Tibagi, Suas Majestades deixam
Ponta Grossa às 7 horas e às 14 entram em Castro, percorridos 46 quilômetros. O
imperador e a imperatriz são hóspedes do juiz de Direito, Manoel da Cunha Lopes
de Vasconcelos.
Segundo os jornais
da corte, “a importante cidade confirma os foros de grande, culta e adiantada”,
que havia disputado “as honras de
capital da província”. Elevara-se a comarca e a cidade (município) em 1854 e
1857 respectivamente. O roteiro de D. Pedro II inclui a ponte no rio Iapó, o
principal afluente do Tibagi.
Onde “estão as
maiores fortunas”, o coronel Manoel Inácio do Canto e Silva é o mais rico, seu
patrimônio inclui 14 mil bois. Castro atinge as margens do Tibagi e do Paranapanema;
são notáveis a exportação de erva-mate, a agropecuária e até mesmo a ocorrência
de pedras preciosas (diamantes, ágatas, coralinas, topázios etc.) “em toda a
extensão regada pelos rios e nos campos”. Metade da jurisdição territorial é
coberta por floresta virgem, em que despontam a cabreúva, o jacarandá e outras
espécies na zona temperada; o jataí, a canjarana, o arribá e a peroba na “zona
mais quente”. Os troncos de peroba permitem canoas de 1m10 "de boca"
(largura) por 15m40 "de pontal" (comprimento).
Margeando o Tibagi
e o Paranapanema encontram-se o cedro, o óleo e outras madeiras “aplicáveis à
construção”.
Observa-se que as
“terras são (...) de uma fertilidade prodigiosa, mas a nenhum colono deu-se
terras em Castro”. E compara-se à localização dos russos-alemães “no Capão da
Anta e outras do mesmo jaez”, abandonadas por serem improdutivas.
Pouso do Iapó, eis a origem de Castro, desde
quando “a ponte no rio sempre foi a necessidade mais imperiosa”, ante a
necessidade de os habitantes se comunicar com Sorocaba, escreveu Rocha Pombo.
Há uma reforma da ponte em 1774, ao elevar-se o povoado a freguesia, denominada
Sant'Ana do Iapó.
Em 1820, o
botânico francês Augustin de Saint Hilaire encontra “uma ponte de madeira,
cujos 26 arcos tinha ao redor de sete passos de largura, quase inteiramente
destruída.” O visitante soube que “a Câmara de Castro estava em extrema
pobreza”. Cinquenta anos depois, D. Pedro II conhece a ponte, supostamente
restaurada, pois não há observações em contrário nos jornais.
“O rio Iapó nasce
perto de Castro, corre abaixo dessa cidade e se joga no Tibagi”, anotou
Saint-Hilaire. No caminho entre a Fazenda Fortaleza e Castro, ele havia passado
a noite na Barra do Iapó, “perto do lugar onde este rio lança suas águas no Tibagi”.
Por causa da chuva, permanece mais um dia e “passeia”, num piroga, até a foz do
Iapó. “Onde as águas se misturam os dois rios “são muito profundos e correm (…)
sobre leito rochoso”, anotou o explorador. Ambos margeados por “uma cinta de
árvores e arbustos acima dos quais a araucária majestosa se eleva”.
O canyon e a
bacia do Iapó
Retomando a
jornada, Saint-Hilaire e seu guia chegam à “pequena Fazenda Guartelá”, 48
quilômetros antes de Castro. “A dona
dessa propriedade, cujo marido estava ausente, deu-me, com muita delicadeza,
licença de fazer alto em sua casa”, escreveu o visitante. A senhora ofereceu-lhe “não somente a sala de
hóspedes, mas [também] um quarto e uma cozinha”. Após o chimarrão, “fez servir jantar para mim
e minha gente. Se os habitantes dos Campos Gerais não são dotados de
inteligência igual à dos mineiros, eles não são menos hospitaleiros”.
Embora não
mencione, Saint-Hilaire atingira um ponto nas cercanias do Canyon Guartelá, no
curso do Iapó. Conforme dados atuais, são 32 quilômetros entre Castro e Tibagi,
o sexto maior canyon do mundo. Sua porção central integra o parque estadual
criado em 1992, abrangendo as cavernas com pinturas rupestres legadas pelos
primitivos habitantes da região, há sete mil anos segundo avaliações mais recentes.
Difunde-se a lenda
de que o topônimo Guartelá vem de um desbravador português: “Guarda-te-lá, que
bem fico cá”, mandou um mensageiro alertar um vizinho sobre a presença de
índios.
Pela configuração
política atual, o Iapó nasce em Piraí do Sul e corre do leste para o centro do Estado, incluindo
outros dois municípios, Castro e Tibagi, onde tem a foz. A bacia abrange 3.180
quilômetros quadrados, com 13 afluentes. Os geógrafos, geralmente, assinalam o
Iapó e o Fortaleza em conjunto para configurar o maior afluente do Tibagi.
O topônimo iapó
corresponde a “rio que alaga”, segundo a interpretação mais difundida e não
dicionarizada. No Vocabulário Tupi-Guarani Português organizado por Silveira
Bueno, o termo mais aproximado é igapó = lugar alagadiço ou água de
enchente. Saint Hilaire também chegou a informação semelhante, que se
atribui a “meandros do rio numa ampla várzea pantanosa”.