(2
de outubro de 2013 – Widson Schwartz.)
Uma
época de rios e
gente intoxicados
O modelo agrícola americano no Brasil implicou a poluição das águas pela erosão do solo, agrotóxicos e a agroindústria. Despontou a
rotação soja-trigo, com o atrelamento do setor primário à indústria de máquinas
e implementos e à de agroquímicos. “Cambé não beberá água do rio Tibagi”, afirmou nos primeiros anos
80 o então prefeito, Luiz Carlos Hauly, ante a perspectiva de captação para
abastecer Londrina e a sua cidade.
No Paraná, a soja evoluiu de apenas cinco mil hectares para 304 mil na década 1960-1970 e
chegou a 2,4 milhões de hectares em 1980. O governo federal cogitou, na década de 70, a autossuficiência em trigo, baseado principalmente na produtividade paranaense. Não chegaria a tanto. Mas, em 1981, o Estado colheu 1,350 milhão de toneladas, 51% do trigo brasileiro. E 35% da soja, 5,4 milhões de toneladas, colocando-se em segundo lugar.
Já a participação do café paranaense na produção nacional havia recuado para 15,8%, apenas.
A modernização com insumos abrange culturas temporárias e permanentes e o Sistema
Nacional de Crédito Rural, isento de juros e correção monetária, condiciona 15%
do total do custeio à compra de defensivos químicos, fertilizantes, sementes
selecionadas e até a contratação de pulverização aérea (aviação agrícola).
Uma fase de rios e agricultores intoxicados, morrem dezenas
entre milhares atingidos. Documento minucioso da transformação é a Circular
Iapar n.º 49 (fevereiro/1987), do Instituto
Agronômico do Paraná, mencionando estatísticas do IBGE, análises do Ipardes
(Instituto Paranaense de Desenvolvimento) e levantamentos da Secretaria de
Agricultura e Abastecimento do Estado. A rotação soja-trigo evoluiu de cerca de 7% da área total cultivada no Paraná em 1970 para 31,3% em 1979; o café, que ocupava 42,69% de toda a área, desceu a 30,34%.
Tratores no período 1970-1980: nas propriedades menores de 50 hectares aumentaram de 9 026 para 35 184 (+ 290%); nas maiores de 50 hectares, de 9 593 para 44 498 (+ 364%). Total: de pouco menos de 20 mil para 79.600 em dez anos.
Sem o plantio direto e outras métodos preservacionistas que ainda viriam a se expandir, a mecanização causava a erosão do solo para os rios, geralmente desprovidos de matas ciliares. Na
década de 70, Herbert Bartz, na Fazenda Renânia, em Rolândia, e Rolf Derpsch,
na Fazenda Maravilha, em Londrina, experimentavam inicialmente o plantio
direto; a Embrapa-Soja ainda se estruturava e só na década seguinte o controle
biológico de pragas daria os primeiros passos. Enviado pela Missão Agrícola
Alemã, Derpsch integrava um programa de cooperação com Instituto de Pesquisas
Agropecuárias Meridional (Ipeame), do Ministério da Agricultura, e contribuiu –
a exemplo de Bartz – para a pequisa do Iapar (Instituto Agronômico do Paraná)
em termos da adequação de máquinas às condições de solo.
Notificados eram só 10%
da intoxicação humana
De 1970 a 1980, os
gastos no Paraná com pesticidas nas propriedades menores de 50 hectares cresceram 276% e nas maiores, 550%, verificando-se no algodão índice de
aplicação entre os mais elevados. Seguramente havia excesso, atingindo os próprios trabalhadores na
agricultura em geral: 3 603
intoxicados e 73 mortos entre 1982 e 1984, relatório de Reinaldo Skalisz, da
Secretaria de Agricultura.
Referia-se,
porém, somente aos casos notificados. E isso era apenas 10% das ocorrências segundo entidades
ambientalistas e sindicatos de trabalhadores. Afirmava-se que no Brasil morria
uma pessoa intoxicada a cada hora e meia, além daquelas incapacitadas e, assim,
aposentadas precocemente.
Segundo a
Associação Nacional de Defensivos (Andef), o Brasil havia consumido 105,4 mil
toneladas de agrotóxicos em 1983, das quais 21,9 mil no Paraná, segundo maior
mercado depois de São Paulo, com 37,8 mil toneladas.