(23 de agosto de 2013 – Widson Schwartz.)
Tragédia indígena antes de Ibiporã, a terra bonita
Na margem esquerda, em área do atual município de Ibiporã, existiu o Aldeamento de São Pedro de Alcântara,
regulamentado pelo Império e fundado
em 1855 sob orientação do senador João da Silva Machado, o Barão de Antonina,
com a finalidade de cercear os índios. Em frente, na margem direita, estava a
Colônia Militar de Jataí, também por iniciativa do Barão.
No alto da colina e a uma distância da beira do Tibagi, o aldeamento era quase imune à malária, mas os
índios não escapavam da gripe, sarampo e alcoolismo,
males dos “civilizados”. Em 1893, no mais amplo relatório
de frei Timóteo, consta que os índios haviam assimilado “os vícios mais baixos” dos colonizadores: “a ociosidade e a embriaguez”.
O missionário
afirma que tinha visto “morrerem mais de dois milhares”. E não havia “remédio para se obstar semelhante
desordem”, razão de seu pessimismo quanto ao futuro: “E penso que poucos escapam por muito tempo.” O aldeamento se encontrava em decadência e frei Timóteo, velho e frustrado, logo
morreria.
Ibiporã vem do
tupi-guarani e significa terra bonita, referência à cidade que o
engenheiro Alexandre Beltrão fundou em 1935, distante do rio, no km 195 da Estrada
de Ferro São Paulo-Paraná, cuja estação foi inaugurada em 15 de julho de 1936.
Situada no imóvel
Jacutinga, concessão do governo estadual que a empresa de Beltrão dividiu em
pequenos lotes, Ibiporã cresceu rapidamente, impulsionada pela cafeicultura. Criou-se em 10 de outubro de
1947 o município, instalado em 8 de novembro,
área desmembrada de Sertanópolis. Com 298 km², Ibiporã tem hoje 48.190
habitantes, 95% urbanos. Produto interno bruto: 903 milhões de reais em 2010;
renda per capita, R$ 18.740
São Pedro de Alcântara
e o futuro que se perdeu
Com 12 escravos e talvez uma dezena de índios, frei Timóteo de Castelnuovo funda o aldeamento em 17 de março de 1855, em “lugar pitoresco, alto e sadio, sem par na Província”, conforme relatou. Frei Timóteo, pseudônimo do capuchinho italiano Domingos Antônio Luciani, nascido em Castelnuovo-Magra. Tinha 41 anos ao chegar.
São Pedro de Alcântara se transforma em comunidade agrícola que comercializa excedentes e dá renda aos habitantes
proporcionalmente ao que produzem em parcelas. Atinge a maior população em 1876, com 1.487 moradores. A principal fonte
histórica é o livro Pai dos Coroados, biografia de Timóteo escrita por
frei Casimiro Maria de Orleans – 1959.
O aldeamento
estendia-se por seis léguas – ou 37,2 quilômetros
– margeando o rio; e da margem para dentro, três léguas – ou 18,6 quilômetros. Em 1864, os coroados vendem 90 barris de aguardente, 60 arrobas de açúcar, 300 cargueiros de milho e 2.170 litros de feijão. Valor: 1 (um) conto e 760 mil réis. Os caioás têm participação menor.
De 1876 para 1880, os habitantes diminuem de 1.487 para 764, muitos coroados tinham ido embora e caioás haviam sido “dizimados pela varíola”. Frei Timóteo relacionou 134 “portugueses e mistos”; 43 africanos, que classifica de semilibertos; 210 coroados; 191 caioás e 185 guaranis.
Com a “terra fertilíssima e matas tropicais cortadas de grandes rios, São Pedro de Alcântara poderia ser um dos lugares mais importantes do Brasil”, segundo frei Timóteo. Ali, a abertura do Norte do Paraná seria antecipada, se não houvesse o desinteresse governamental. O Império e a Província intensificaram a colonização com europeus em Curitiba e nos Campos Gerais e abandonaram São Pedro de Alcântara e Jataí.
Isoladas de comunicações, as duas comunidades no sertão já não eram estratégicas após a Guerra do Paraguai. Frei Timóteo morre em 1895 e é sepultado em Jataí. Em 1909, despede-se o último pároco no aldeamento. Por volta de 1923, o comissário de terras Mábio Palhano informa que a malária e a tuberculose mataram quase todos os índios remanescentes.