E surgia São Jerônimo, no
meio da floresta luxuriante
A origem de São
Jerônimo, a segunda povoação mais avançada no sertão depois da vila do Tibagi,
se deve a Joaquim Francisco Lopes e John Henry Elliott que, com 30 homens, chegaram à Serra dos Agudos em 20 de novembro
de 1846. Do ponto mais alto que
atingiram, avistaram dois campos no meio da floresta, um a 28 milhas a nordeste
– cerca de 45 quilômetros –, que
escolheram para o futuro povoado.
Em sentido oposto,
o outro campo viria a se chamar Inhô-Ó, mais tarde a imensa fazenda da
qual uma parte é hoje o distrito de Terra Nova. Lopes e Elliott tomaram posse
de quase todo o nordeste à margem direita do Tibagi em nome do Barão de
Antonina.
Inicialmente
chamado São Tomás de Papanduva, o vilarejo se firma em 1854 e só em 1870 se
denomina São Jerônimo, ao ser erigida a capela em louvor, por frei Luís de
Cimitille. A referência mais conhecida, porém, será “Aldeamento de São
Jerônimo”, por causa da reserva indígena contígua.
Comprovante é o
livro de registro de nascimentos aberto em 22 de abril de 1876, assinado pelo o
vereador Salvador Baptista Ribeiro, em nome da Câmara Municipal de Tibagi.
Apesar de específico para o “aldeamento”, o livro não contém registro de
índios, só de brancos moradores no vilarejo a seis quilômetros. “No
Aldeamento de São Jerônimo, distrito e município de Tibagi, registra-se o
nascimento...” — O precioso livro se encontra no cartório cível do Fórum de
São Jerônimo da Serra.
Na vila do Tibagi
em 1874, Bigg-Wither calculou que a 70
milhas em linha reta, à sua frente, erguiam-se os dois picos culminantes da
serrania. “Tão clara estava a atmosfera (…) que julguei poder distinguir, com o
binóculo, as árvores isoladas no cume”,
anotou. Naturalmente um tanto exagerado para reforçar a figuração à
distância do que ia constatar. Geologicamente,
uma só cordilheira, a Serra dos Agudos, que “atravessa quase em ângulo
reto o Vale do Tibagi, continuando do outro lado com o nome Serra da Apucarana”, descreve-a,
baseado em mapas da época. O caminho que percorreu, guiado por Telêmaco Borba,
seria trecho da Estrada do Cerne, para carroças e automóveis um século
depois.
“Nas últimas horas
da tarde de nosso sétimo dia depois de sair do Tibagi, avistamos a pequena vila
de São Jerônimo, isolada num campo aberto que, inexplicavelmente, surge ali,
desprotegida e deserta, no meio de uma floresta luxuriante.” Frei Luís de
Cimitille, diretor do aldeamento indígena, lhes informa sobre a presença de Elliott.
E Bigg-Wither o conhece e ouve histórias de aventuras “nos grandes sertões
interceptados ao contato do homem civilizado e, por vezes, cercados por índios
hostis”.
O “império da posse”
e o avanço do Barão
Com o término, em
1822, das concessões de sesmarias, vastas extensões a quem as requeresse,
começa o período de 28 anos sem nenhuma regulamentação, conhecido por “império
da posse”. É dono quem chega primeiro. E João da Silva Machado, Barão de
Antonina, se converte no maior latifundiário da 5.ª Comarca de São Paulo,
futura província do Paraná.
“Não houve região
alguma da comarca vastíssima onde Silva Machado não registrasse posse de terra
escolhida entre as melhores”, segundo Romário Martins. Pela Lei n.º 601, de 18
de setembro de 1850, o governo imperial
reconhece as posses. Em 10 de junho de 1859 há uma solenidade no
Ministério dos Negócios do Império, no Rio de Janeiro: o Barão de Antonina
“doa” ao governo a Fazenda São Jerônimo, de 14 mil alqueires, para uma reserva
indígena, que se oficializa em 27 daquele mês.
A Província do
Paraná fora instalada em 1853 e o seu primeiro presidente, Zacarias de Góes e
Vasconcellos, proclamara que os índios eram “uma desgraça”, por impedirem a
entrada de outros interessados na terra. Precedendo o Aldeamento de São
Jerônimo, fundara-se o de São Pedro de Alcântara em 1855, na margem direita do
Tibagi, em frente à Colônia Militar de Jataí.