A evolução das paragens
nos caminhos de tropas
Widson Schwartz
Morro do Jacaré, em Tibagi
Monumento das Águas do Tibagi
A evolução de Tibagi em 1833, assinalada pela construção da igreja, teve influência do tropeirismo
Ladeira da Nhá Cota
A exemplo de outras povoações, a evolução de Tibagi em 1833, assinalada pela construção da igreja, teve influência do tropeirismo, que se iniciara com a corrida ao ouro de Minas Gerais nas primeiras décadas de 1700, estimulando paulistas a criar bois e muares nos Campos Gerais, para suprir aquele mercado, a Bahia e o Rio de Janeiro. Em 1727, o capitão-general de São Paulo, Caldeira Pimentel, mandou abrir o que seria o primeiro Caminho das Tropas ou o trecho que faltava, pois os historiadores se referem à “estrada de Laguna”, localidade catarinense de onde prosseguiria no sentido de Rio Negro.
Conhecido também por Caminho
de
Viamão,
pelo
qual
a
primeira
tropa
passou
em
1731: Cristóvão Pereira de Abreu conduziu “três mil cavalgaduras e 500 vacas” do Rio Grande do Sul a Sorocaba, “retificando inclusive o caminho, tornando-o mais fácil e transitável”, registra o Dicionário Histórico-Biográfico do Estado do Paraná (Editora do Chain/Banestado – 1991). .
A Feira de Sorocaba, propriamente, começa em 1733 e logo se transforma no maior entreposto
comercial
de
bois
e
principalmente de mulas e burros – os muares –, excelentes
para
tração
e
carga.
Na realidade, eram caminhos de tropas, e não apenas o caminho, no decorrer do século, observa em Contribuição ao Estudo da História Agrária do Paraná, de Brasil Pinheiro Machado. Desde o Rio Grande do Sul, passando
por
Santa
Catarina,
o
Caminho
de
Viamão
chega
ao
Paraná
por
Rio
Negro,
estendendo-se a Lapa, Palmeira,
Ponta
Grossa,
Castro,
Piraí
e
Jaguariaíva.
Já o caminho a partir de Cruz Alta tem um trecho de Chapecó (SC) a Palmas, sudoeste paranaense. De Palmas estende-se a Guarapuava, Tibagi e Castro. São caminhos paralelos interligados por dois atalhos: entre Palmas e Palmeira, passando por Imbituva; e entre Guarapuava e Ponta Grossa. Só adiante
de
Castro
havia
um
só
caminho.
As tropas se diferenciavam em números, de dezenas a centenas de animais, por vezes até um mil ou mais. Conduzi-los podia demorar meses, com sucessivas interrupções da jornada para o descanso. Tibagi a última paragem.
Os
animais,
magros
e
cansados,
pousam
por
três
semanas
ou
até
por
mais
de
um
mês.
Assim
recobram
a
resistência
e
o
peso
antes
de
chegarem
a
Sorocaba,
320 quilômetros adiante.
“Para ser bem-sucedido no comércio de mulas era preciso ter constituição de ferro, a quem a fadiga e as privações não alquebrassem”, anotou o engenheiro inglês Thomas Bigg-Wither, baseado no depoimento de um velho tropeiro de Tibagi, em 1874. Era preciso “ser bom cavaleiro, bom laçador e, finalmente,
bastante
conhecedor
da
natureza
dos
muares,
em
todas
suas
características físicas e morais”. Nos “quadros vivos pintados” pelo tropeiro surgiam ataques noturnos de índios, encontros com jaguares, debandadas de animais. Reuni-los exigia trabalho vigoroso. “Tudo isso e muito mais o velho tropeiro traçou graficamente” e o repórter teve a sensação de “estar ouvindo alguma história nova e emocionante, narrada por um talentoso capitão do far west”.
A província
de tropeiros
A importância do tropeirismo se traduzia econômica e politicamente. Tropeiro era João da Silva Machado, representante da 5.ª Comarca na Assembleia Provincial de São Paulo, que determinou a criação da Província do Paraná e se tornou mais conhecido por Barão de Antonina. Paraná, uma província
de
tropeiros,
efetivada
em
19 de
dezembro
de
1853. Já
a
primeira
sessão
da
Assembleia
Provincial,
marcada
para
15 de
maio
de
1854, teve
de
ser
adiada
para
15 de
julho.
O
presidente
da
Província,
Zacarias
de
Góes
e
Vasconcellos, pediu o adiamento por dois motivos: 1 – não concluíra o bem-detalhado relatório a ser apresentado; 2 – dos 135 deputados, um número substancial se encontrava na Feira de Sorocaba e não poderia regressar a tempo. Convenientemente, o presidente da Província evitaria dirigir-se a um legislativo esvaziado.