(1.º de agosto de 2013 – Widson Schwartz.)
Baixo Tibagi perdeu
beleza e cerâmicas
Desapareceram
a flora e a fauna exuberantes
encontradas pela expedição dos irmãos Borba no baixo Tibagi em 1876; o rio,
hoje, é poluído por esgoto de chácaras e o agrotóxico da agricultura
mecanizada. Na margem direita, abaixo de Jataizinho, Rancho Alegre (168 km² e
4.190 habitantes) e Sertaneja (446 km² e 6.520 habitantes) mudaram a economia
do café e do algodão para a soja, trigo e milho principalmente.
O Consórcio
Intermunicipal para a Proteção da Bacia do Tibagi – Copati – vem coordenando o
plantio de essências, mas ainda não se formaram matas ciliares protetoras. Há
períodos de água suja, barrenta, consequência das enxurradas que conduzem o
solo de áreas agrícolas para dentro do rio.
Houve, também o
alagamento pelo reservatório da Hidrelétrica
Capivara, que descaracterizou a foz e inviabilizou a continuidade de muitas
olarias e cerâmicas por falta de argila.
Olarias e cerâmicas têm história no baixo
Tibagi, onde o perímetro urbano de Jataizinho ocupa o imóvel antigamente
conhecido por Olaria Velha, titulado
pelo presidente da Província em 1873. Situava-se no “rocio [roça abandonada] da
Colônia Militar”. Em 1929, o escocês Ian Fraser constrói, na barranca do rio, a
olaria da Companhia Territorial Maxwell, empresa com interesse imobiliário em
Jataí, que visava a um próximo mercado de materiais com a fundação de Londrina
naquele ano.
Natural de
Pirassununga (SP), descendente de alemães, Dionísio Striquer arrenda a cerâmica
Maxwell em 1933, limitando-se a produzir telhas “batidas a mão”. Em 1937, chega
Antônio Vialta, um espanhol que passa a produzir tijolos.
Desenvolvendo-se Londrina e outras
cidades no Norte Novo, a indústria cerâmica de Jataizinho dá sucessivos saltos, chegando à melhor fase: a
década de 70, com o Banco Nacional de Habitação (BNH), que financia casas
populares e o saneamento básico. “Jataizinho, a capital nacional das cerâmicas”, eis um tópico na
história. Já eram 35 produzindo telhas, tijolos e manilhas, com mercados no
Paraná e outros Estados.
Participante
daquela evolução, o advogado Albino Striquer expôs dois conceitos: olaria, que
significa a produção um tanto artesanal; cerâmica, já usando máquinas, tem
caráter industrial. Em Jataizinho, as olarias, que faziam tijolos maciços,
compraram máquinas e se transformaram em cerâmicas, produzindo tijolos furados.
Sucedeu o
declínio com a recessão econômica nos anos 80, a chamada “década perdida”. A
inflação anual de 100% entre 1980 e 82 chegou a 200% em 83. E atingiria 1.700%
no final da década. Vieram os planos econômicos, cessaram os investimentos
e quem estava com dinheiro punha na
poupança. A produção das cerâmicas de Jataizinho
tinha evoluído de
quatro milhões de peças/mês e chegado à superoferta de 12 milhões. O excedente fez o preço do milheiro no mercado cair para a metade do custo de produção em 1983.
Desativa-se o BNH
em 1986, seguindo-se o fechamento de muitas cerâmicas, entre as quais a Bela
Vista, da família Striquer. De 35 cerâmicas em Jataizinho na década de 70,
restam sete atualmente.
Inundação chegou
a 14.150 alqueires
Estima-se que
dezenas de olarias e cerâmicas cessaram atividade no baixo Tibagi ao perdeem
acesso à argila. A
hidrelétrica Capivara, no Paranapanema, fechou as comportas em 20 de dezembro
de 1975 e na margem paranaense 11 municípios tiveram áreas inundadas pelo
reservatório, perfazendo 14.150 alqueires.
Quanto mais perto
da foz, mais se elevou o nível do Tibagi, cobrido reservas de argila (os
“barreiros”) nas margens. As cerâmicas, em sua maioria, ficam sem matéria-prima e cessam a produção.
Em
Jataizinho, bem acima da foz, restaram disponibilidades e a
concessionária da hidrelétrica, por um acordo, permite o aproveitamento. Mas a
extração supre só 50% das necessidades das cerâmicas; a outra metade vem de
Sapopema, a 100 quilômetros.