(17 de outubro de 2013 – Widson Schwartz.)
Pesca predatória e degradação continuam a empobrecer o rio
Os peixes grandes desapareceram, os pequenos estão rareando e
“ninguém precisa ser especialista” para saber a causa. Quem afirma é Noel
Soares, em sua chácara margeando o Tibagi em Maravilha, distrito de Londrina: “Primeiro, muita poluição e esse desmatamento; segundo, plantações na beira, com esses venenos brabos aí, que vão para dentro do rio quando chove. Não tem como o peixe reproduzir, né? Depois, vem a pescança”, refere-se à predação, que afirma ser tão
flagrante quanto a ausência de polícia para coibi-la.
“Essa tal de
Força Verde – a polícia ambiental – funciona só no papel”, declara Noel. “Pega essa margem de baixo até em cima, ali da ponte de Jataizinho até Tamarana, ou bem cedo ou na boca da noite vai ver o que tem de gente estendendo rede nesse rio.”
Para Janderson
Marcelo Canhada, secretário-executivo do Copati, o rio “comporta a pesca de subsistência, está passando por um processo de
regeneração”, mas ainda “longe de saudável”, que ofereça condição para o
repovoamento das espécies originais para a pesca econômica.
A fauna original
é prejudicada também pela introdução do tucunaré, da bacia amazônica, um
predador. Estudos mencionados pelo biólogo Mário Luís Orsi, professor da
Universidade Estadual de Londrina (UEL), indicam que o tucunaré já
causou a extinção de sete espécies de pequenos lambaris na bacia do
Paranapanema. Neste rio, a foz do
Tibagi “é afetada pela usina de Capivara, ou seja, isso já é uma
descaracterização de hábito, e ainda vem a introdução de espécie, se torna bem
complicado”, segundo Orsi.
Contribui para a raridade dos peixes grandes ou nobres no Tibagi a degradação, “por mais que se faça todo um trabalho de recuperação, a bacia ainda sofre muito com o impacto de lavoura incorreta, despejo de agrotóxico”,
segundo Orsi. “Uma sequência de eventos que vai diminuindo o tamanho dessas populações de peixes.”
E apareceu, em Maravilha, o “juro-que-pensei”. Segundo Noel Soares, pesava um quilo, parecendo pintado, pela mancha. Mas não pela cabeça, achatada. “Juro que pensei que fosse um pintado”, disse o pescador.
Marcos Albuquerque, da Expedição CBN, constatou
no curso superior “lugar de
pescaria, que é a Fazenda da Viúva”. Situa-se na foz do Guaraúna, entre Ponta Grossa e Uvaia. “Ali a pescaria é intensa, pelo menos para a
diversão serve. A gente vê as pessoas sempre com peixe.”
Só miudezas, até
onde o rio é maior
Indicativo de que
Aílton Luiz Boletti costuma ir ao rio é
a canoa com as iniciais de seu nome, no quintal da casa, em Maravilha,
onde nasceu e mora há 45 anos. Seu parecer é uma incógnita: “Peixe tem bastante, difícil é pegar”. E faz um inventário: “Dourado está difícil. O finado meu pai pegava dourado igual pegar lambari no córrego. Nas corredeiras (hoje) tem cascudo,
piapara, curimba, pintado, dourado, surubim. O difícil é achar onde eles estão, mas tem...
Para Noel Soares “o que mais tem é mandi”. Há uns quatro anos, ainda conseguiu pacu, curimba e até “aquele tambaqui”
(amazônico talvez introduzido). “Cascudo tem bastante...”
A largura do Tibagi é variável em Maravilha e em
período de seca há um ponto
em que se o transpõe a pé. Em
Jataizinho, cerca de 40 quilômetros abaixo, já atingindo o maior volume e 700 metros de largura, também só dá peixe pequeno. “Muito mandi e mandiúva, aquela amarela. Antigamente tinha muito cascudo (…),mas o pessoal começou a armar muita rede”, afirma
Manoel Luiz Lopes, próximo à Corredeira do Tira-Fubá.
“O pescador se sente hoje lesado por causa dessa fiscalização que é muito pobre”, repete Manoel o
“diagnóstico” comum rio acima. “A pessoa chega e atravessa uma rede daqui para o outro lado. O pescador no barranco, que vem pegar o peixe para comer, não o tem.” Recorda o concurso anual de pesca amadora em
Jataizinho, os competidores no barranco. “Tudo isso acabou faz tempo...”