Contrastes do Tibagi
de Palmeira a Uvaia
Widson Schwartz
Junção dos rios Guaraúna e Tibagi
Prainha entre Ponta Grossa e Teixeira Soares
É nas cercanias das colônias,
estabelecidas no Império e nos primeiros anos da República, que o rio Tibagi
começa a crescer em volume. Do Caminho das Tropas à era das rodovias e automotores, quem avista atualmente a placa no rio Quebra
Perna na BR-376, está identificando um afluente do Tibagi. Conforme o Atlas do
Estado do Paraná editado em 1987, os primeiros tributários são o Guabirotuba e o
Cantu, na margem esquerda, ainda no município de Palmeira; a seguir, o arroio
Quebra-Perna à direita, em Ponta Grossa.
Na Geografia Física
do Paraná, anterior ao Atlas, Reinhard Maack menciona o rio do Salto entre os
afluentes em Palmeira. Comparando-se as duas publicações, há nomes diferentes,
talvez levando em conta ou certificações ou referências mais em voga
ultimamente.
A produção do Atlas
envolveu 17 instituições entre secretarias e empresas governamentais (Estado e
União), os Departamentos de Geografia e História da Universidade Federal do
Paraná (UFPR) e o então Instituto de Terras, Cartografia e Florestas (ITCF),
editor juntamente com a Secretaria de Estado da Cultura. Edição patrocinada
pelo então Bamerindus (“o banco da nossa terra”), “retrata com fidelidade todas
as características paranaenses” e inalterado em termos hidrográficos nos anos
2000, à exceção de uma nova hidrelétrica e intervenções predatórias do
homem. Politicamente, o número de
municípios evoluiu de 316 para 399.
Uvaia é a primeira comunidade ribeirinha no Alto Tibagi, adiante do trecho inicial de 45 quilômetros do
rio. Esse trecho, em que já aparecem corredeiras, contrasta com o seguinte, ao
sul de Ponta Grossa. Aqui o rio se mostra sinuoso e desprovido de degraus, num panorama
alterado pelos reflorestamentos e a extração de areia. Antes de atingir Uvaia,
distrito ponta-grossense, o Tibagi recebe mais três afluentes na margem
direita: o Guaraúna, o Pau Furado e o Imbituva, assim nominados no Atlas.
Acessível pela BR-373, Uvaia situa-se na
divisa de Ponta Grossa e Ipiranga; seu panorama é uma mescla de mata ciliar,
preservada rio abaixo, com áreas de agricultura mecanizada nas cercanias. Os
Campos Gerais detêm ótimos índices de plantio direto na palha e de
produtividade das principais commodities agrícolas no sul do país.
Lenda da
Cecília
no livro
de Zélia
Best-seller escrito
por Zélia Gattai, com sucessivas tiragens (Editora Record) na década de 1980 e
que deu enredo à série de televisão homônima, “Anarquistas, graças a Deus”
inclui um relato envolvendo o compositor Carlos Gomes e D. Pedro II com a
Colônia Cecília. Sabe-se que é uma lenda.
Mas é verídico que
Argía e Francisco Gattai, avós paternos de Zélia, deixaram a Itália para viver
na Colônia Cecília, com quatro filhos menores, até que se mudassem para São
Paulo. A autora baseia-se em relatos que ouviu em família e nas “respostas às
suas indagações” que encontrou em “Colônia Cecília”, livro de Afonso Schmidt
publicado em 1942. “Na casa dos Gattai [na colônia] ardia fogo, uma fumaça azul
saía alegremente pela única janela”, consta no livro entre outras citações.
Zélia atribui ao
pai, Ernesto Gattai, a narrativa da lenda segundo a qual estimulado por Carlos
Gomes, de quem se tornara amigo em Milão, Giovanni Rossi fez chegar uma carta a
D. Pedro II. Aproveitara a visita de Sua Majestade àquela cidade italiana. De
volta o Brasil, D. Pedro lê a carta e um livreto com a perspectiva da colônia,
sensibiliza-se e oferece os meios de realizá-la.
Na realidade, Rossi
decidiu-se já na República, quando frustrara-se uma tentativa na Itália. E nos
ensaios que escreveu, traduzidos no livro “Colônia Cecília e outras utopias”,
não menciona D. Pedro II, nem contatos no tempo do Império. Falta saber qual a
extensão da Colônia Cecília, que abrangeria espaços abandonados por outros
imigrantes. Segundo Cândido Muricy, a Cecília surgiu onde existira a Colônia Adelaide.