(30 de agosto de 2913 – Widson Schwartz.)
Três Bocas norteou a fundação de Londrina
A margem esquerda
do Tibagi tem 60 quilômetros no município de Londrina e não está livre da
degradação. Há, porém, remanescentes da mata ciliar original e o rio desponta
pelo volume, as corredeiras, a divisão por ilhas. Em determinadas épocas do
ano, serpenteia entre a brancura do trigo ou o amarelo da soja em maturação,
que contrastam com o verde de pequenas reservas florestais.
Nas imediações da
foz do Ribeirão Três Bocas, a 20 quilômetros da cidade, trinta hectares estão
declarados de utilidade pública para o futuro Parque Municipal do Tibagi, projeto de 2003, já completando 10 anos sem
sair do papel. Os afluentes principais do Tibagi no
município são os ribeirões Apertados, Taquara e Três Três Bocas. E o Rio
Apucaraninha, marcando a divisa com Tamarana.
Mas o Três Bocas, paralelamente a seus encantos,
norteou os que vieram dar a partida à colonização do Norte Novo, os
britishies – britânicos, como os escoceses liderados por lorde Lovat
preferiam ser chamados, em vez de ingleses. E se relaciona à povoação e ao
sentimento de famílias que ainda o encontraram na plenitude.
A ferrovia e a
estrada de automotores de Jataí a Londrina, projetadas pelos britânicos, acompanharam
o “Velho Picadão Três Bocas”, assim conhecido por situar-se na bacia esquerda
do ribeirão. Fora aberto em 1927 pela turma do comissário de terras Joaquim
Palhano, “um picadão escuro, barrento, cheio de tocos e buracos”, relatou
George Craig Smith, integrante da expedição que o percorreu em 21 de agosto de
1929 e fundou o Patrimônio Três Bocas, origem de Londrina.
A data de fundação oficializada pelo Museu
Histórico é 21 de agosto de 1929 ao entardecer, segundo a memória de Smith.
Mas, pelo que anotou outro integrante da expedição, o alemão Erwin Frölich, foi
na manhã de 22 de agosto, por volta das 10 horas. O engenheiro russo Alexandre
Razgulaeff localizou o marco e determinou a abertura da primeira clareira na
floresta, onde seria o prieiohoel e o almoxarifado da colonizadora.
Na margem
esquerda do Tibagi, Londrina surgiria também
à esquerda do Três Bocas, que, logo,seria mencionado numa história de
liberdade: 13 famílias russas fugitivas do comunismo se estabeleceram à margem
do ribeirão, em 1935. Estavam refugiadas na Índia e para trazê-las,
a Liga das Nações comprou lotes de cinco alqueires da Companhia de Terras Norte
do Paraná, que designou um funcionário russo, Vladimir Revensky, para
recebê-los..
Membro de uma
daquelas famílias, Miguel Polskih recordou terem encontrado a mata virgem, por
onde transitavam raposas, onças e outros bichos, que rondavam os ranchos. E
muito peixe. Por situar-se no limite ao sul, o clima relativamente frio era
impróprio ao café, mas excelente para a saúde dos imigrantes, que progrediram
com outras culturas.
Acima de tudo,
aquele mundo verde lhes parecia um prêmio à determinação de terem buscado a
liberdade, afirmariam.
Parque ecológico ao
redor da hidrelétrica
Da nascente à foz
do ribeirão Três Bocas a linha reta é de
42 quilômetros, mas a extensão pela
sinuosidade é desconhecida. Há trechos de corredeiras e quedas e a Empresa Elétrica de Londrina construiu a
Usina Três Bocas, em 1943.
Geradora de 440 kilowatts, encampada e desativada pela Copel,
atualmente compõe o Parque Ecológico Municipal Daisaku Ikeda, nome de um
filósofo budista japonês. Está em Londrina a maior comunidade nipo-brasileira
do Paraná. A barragem encontra-se restaurada, com a passarela sobre as
comportas pela qual se transpõe o lago. E quem subir no mirante, terá uma visão
ampla dos arredores.
A 12 quilômetros da
cidade, por rodovia asfaltada, o parque tem 51 alqueires nas duas margens do
ribeirão, com remanescentes da floresta primitiva. Ali são encontradas 96
espécies de aves e 12 de mamíferos.