Diamantes em Tibagi antes do troperismo
Widson SchwartzCará Cará - Tibagi-PR |
Tibagi - PR |
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“Diferente das outras cidades aqui da região, Tibagi passou por
vários ciclos econômicos, começou pela mineração, não pelo tropeirismo”,
observa o dentista José Tibagy de Mello,
o “Zezito”. Aos 80 anos, ele é personalidade imediatamente lembrada
quando se imagina Tibagi, tanto por conhecer a história do lugar como fazer
parte dela.
Três vezes prefeito
do município, Zezito nasceu em Tibagi e seu aniversário coincide com a data do
município, 18 de março. “O meu pai era paulista e eu nasci aqui, em homenagem a
cidade ele pôs o meu nome”, explica. Pela vontade do pai, seria só “Tibagy de
Mello, mas os padres não registravam se
não tivesse nome de Santo. Como eu nasci na véspera de São José, ele pôs José Tibagy. E 18 de março vem a ser
o aniversário do município”.
A ocorrência de
diamantes em Tibagi é mencionada desde 1720, com sucessivas notícias de um
século para outro. “De todos os rios dos Campos Gerais que têm
diamantes e ouro, o Tibagi passa pelo mais rico”, anotou em 1820 o botânico
francês Saint-Hilaire. “Existem mesmo diamantes nas terras próximas e,
principalmente, a algumas centenas de passos da vila a que o rio dá o nome”,
complementou.
E depois de
Saint-Hilaire, houve o atestado de Thomas Bigg-Wither, “um inglês que passou
por aqui e disse que Tibagi está assentada em cima de um lençol de diamantes,
porque onde se pesquisa tem cascalho”, comenta Zezito.
No livro que
escreveu, Bigg-Wither conta que chegou à “cidadezinha de Tibagi” em 1.º junho
de 1874 às 10 horas da manhã. Já nas cercanias, surpreendera-se com “um campo
fenômeno”, sua classificação para “um grande aglomerado de chácaras” onde
vicejavam plantações, frutíferas e pastagens repletas de vacas e mulas. “Tão
incomum na província do Paraná, a visão excitava algo mais do que surpresa
ordinária e prodígio.” Antes, só
conhecera as imensas fazendas de baixa produtividade e colônias malsucedidas
ainda que financiadas pelo governo.
Sem nenhuma proteção
governamental, aquele “caso resolvido” em Tibagi era resultado da mineração
intensiva de diamantes que havia cessado, explicou ao visitante um inglês
chamado Mercer. Recém-estabelecido, Mercer havia prosperado muito e estava para
noivar com a filha de um dos fazendeiros mais ricos. Naquele “campo fenômeno”,
16 km² aproximadamente, havia o núcleo de moradias de mineradores.
Escasseando os diamantes, em vez de irem embora, decidiram “cultivar o solo (…) tão maravilhosamente fértil em
comparação a outras terras de campo”. Autossuficientes e dispondo de animais
cargueiros, passaram a colocar a produção excedente nas feiras de Ponta Grossa,
Castro e Curitiba, obtendo preços vantajosos.
A busca aos
diamantes não cessou, porém. Deslocou-se a uma propriedade a cinco quilômetros
de Tibagi.
Novo caminho no
Brasi meridional
A presença de
Bigg-Wither no Vale do Tibagi se deveu ao projeto de uma ferrovia, mas ele se
mostrou repórter da geografia humana. Thomas
Plantagenet Bigg-Wither tinha 26 anos, um dos 16 engenheiros ingleses e suecos
incumbidos de definir o melhor traçado de “um sistema misto de vias férreas e
fluviais”, se pelo vale do Iguaçu, do Ivaí ou do Tibagi, para atingir Mato
Grosso, o Paraguai e a Bolívia.
A serviço do
Visconde de Mauá e sócios, ele permanece no Brasil de junho de 1872 a abril de
1875. A seguir faz uma preleção na Real Sociedade Geográfica de Londres e
escreve Pioneering in South Brazil (“Pioneirismo
no sul do Brasil”), editado na Inglaterra em 1878. “Novo Caminho no Brasil Meridional – A
Província do Paraná”, é a tradução de Temístocles Linhares, editada em 1972
pela Imprensa Oficial do Paraná. O livro é “dedicado, com a sua permissão, a
Sua Excelência o Visconde de Mauá, a quem o autor é especialmente devedor pelas
oportunidades que teve de viajar e fazer observações em região pouca conhecida”
(...)