Baianos iniciam o ciclo
diamantífero em Tibagi
Widson Schwartz
Garimpeiros do Rio Tibagi
Usina abandonada em Tibagi
Usina abandonada em Tibagi
Ao mesmo tempo em que fracassa a tentativa de acionar
uma sofisticada exploração na Fazenda Monte Alegre, ocorre o surto diamantífero
no rio Tibagi propriamente. Daí, entre 1930 e 1936, o garimpo transformará a cidade na “capital brasileira
do diamante”, com a presença de milhares de baianos – há menções de três mil a
cinco mil – e o uso de escafandros. Chegam das Lavras Diamantinas da Bahia,
atraídos pela notícia de uma “mancha” de cascalho assombrosa, tal a quantidade
de diamantes. É o “assombro do Tibagi”, descoberto por Waldemar Santos, o
Santinho.
Estupefato, ele erguera as mãos juntas, pedindo: “Se for
castigo, meu Deus, faça desaparecer essa mancha!” E os baianos iriam ganhar até
representatividade política, nomeando prefeito e elegendo deputado.
A
Companhia Monte Alegre pretendia monopolizar a mineração; os garimpeiros não
permitiram e coube a eles iniciar o ciclo, muito breve, estendendo-se de 1930
aos primeiros anos 40. Liderados por Rogaciano Pereira, mobilizaram-se contra a
“empresa francesa”, a Monte Alegre, que reconheceu a impossibilidade de
assegurar o monopólio da atividade, ainda que a fazenda abrangesse as margens
do Tibagi num longo trecho e outros rios diamantíferos.
Supõe-se que o fato de uma empresa
baseada na perspectiva de muito diamante e ouro no sertão do Paraná tenha sido
a notícia que despertou a atenção dos baianos, tendo sido Augusto dos Santos o primeiro a chegar. E a
seguir a “grande corrida” motivada pelo “assombro”.
Os
baianos estabelecem o garimpo até certo ponto empresarial, oferecendo
participação nos resultados. Predomina o sistema de “meia-praça”, assim chamados os
garimpeiros que entram com o trabalho em troca da alimentação, acampamento e de
50% dos diamantes. Os “meias-praças” são agregados ao dono do “serviço”,
financiador da atividade. É quem fornece o escafandro e os acessórios
indispensáveis à extração do cascalho no fundo rio e a apuração.
Há um código de ética: cada
mergulhador tem a sua produção honestamente controlada na superfície pelos
companheiros. As informações sobre a presença e os métodos dos baianos constam
em reportagens de Widson Schwartz e Dorico da Silva (Folha de Londrina
de 15 de julho de 1976 e de 4 a 9 de julho de 1977), que alcançaram os últimos
remanescentes do ciclo.
No
linguajar do garimpo, a palavra “influência” se traduz por ocorrência de
preciosidades. E de todas as “influências” no Tibagi, o “assombro” se
caracteriza pela intervenção maciça dos baianos.
Moacir de Campos, o Sizote, contou haver
sido um dos primeiros a mergulhar no “assombro”, ainda sem escafandro. “Para
esquentar tomou uma meladinha” – cachaça com limão e mel – e foi bater num
“cascalho encangado, duro como piso de calçada e... cheio de diamantes”. Em
parceria, Sizote e Rogaciano Pereira apuravam o cascalho dentro da canoa e de
início encheram “um prato”.
No
“assombro” era
de
se encher chapéu
Falta certificar quando Waldemar dos
Santos revelou o “assombro”. Em 1970, rico e morando em Curitiba, ele disse que
foi em 1934 que chegou a”pegar chapéus cheios de diamantes” no rio Tibagi.
A
concorrência no “assombro” era tanta, que causava o congestionamento de
escafandristas no fundo do rio; velhos garimpeiros contaram que os mergulhadores tinham
o espaço restrito, ficavam quase juntos, tal a concentração. Daí as confusões
de propósito. O escafandrista de uma equipe vendo o balde de um concorrente
quase vazio, antecipa o sinal, dando puxões no cabo, para que façam subir o
recipiente. Menos cascalho, menos diamantes. Era preciso cavoucar a superfície
debaixo d'água para descobrir o depósito e o escafandrista podia permanecer até
por três horas na tarefa, recebendo o ar enviado pela máquina na superfície.
Mas o normal era o revezamento no “assombro”, havia muitos”meias-praças”
dispostos ante a certeza que lá estavam os diamantes.