Visões de Palmeira no alvorecer republicano
Widson Shwartz
No alvorecer republicano, Palmeira “ostenta (…) ampla praça retangular cingida por palmeiras, no meio da qual ergue-se a igreja”, descreveu-a em abril de 1890 o italiano Giovanni Rossi, que ia fundar nova colônia
Nascente do Rio - Fazenda Bugio Palmeira
Com a queda da monarquia, em 15 de novembro 1889, a República encontra um palmeirense na presidência da Província do Paraná. “Foi a cidade de Palmeira a sede do poderio político liberal na Província durante o Império, sob a chefia do conselheiro Jesuíno Marcondes de Oliveira Sá”, escreveu o contemporâneo José Cândido da Silva Muricy.
Nascido em Palmeira, Jesuíno distinguira-se no reinado de Pedro II, desempenhando entre outras funções a de ministro da Agricultura, Comércio e Obras, tendo recebido o título de conselheiro; o de barão
lhe foi negado, desde que fora posto sob suspeita de ter influído na venda de
terras imprestáveis para a colonização.
Exercendo a presidência da Província quando é proclamada a República, Jesuíno comunica ao marechal Deodoro da Fonseca, chefe do novo poder, que o Partido Liberal do Paraná servirá a Pátria com o governo provisório. E dá por encerrada a sua tarefa, passando a administração da Província ao comandante da Brigada do Exército.
No alvorecer republicano, Palmeira
“ostenta (…) uma ampla praça retangular cingida por palmeiras, no meio da qual
ergue-se a igreja”, descreveu-a em abril de 1890 o italiano Giovanni Rossi, que
ia fundar uma nova colônia. “Em volta [da praça], asseadas casinhas. Poucas
ruas compõem esta jovem cidadezinha” , no dizer de Rossi, que lá encontrou
telefone. “Há um hotel, uma sala de bilhar, um clube literário, uma sociedade de
amadores de teatro, uma fábrica a vapor para a preparação da erva-mate e várias
casas de comércio.”
Instalara-se, recentemente, o escritório da
Inspetoria de Terras e Colonização em Palmeira, para supervisionar novos
assentamentos coloniais também na banda do rio Iguaçu.
“Supérfluo dizer que Palmeira tem um
correio e um posto telefônico”, anotou Rossi, embora a telefonia ainda fosse
rara adiante de Curitiba.
O médico em Palmeira, o italiano
Franco Grillo, recebe o mais alto conceito de Rossi: “bom, honesto” e
“benemérito da ciência pelas informações e coleções [presumivelmente da flora regional] que tem
enviado à Sociedade Geográfica Italiana e ao Museu Cívico de Ciências Naturais
de Gênova”. Há 17 anos estava o dr. Grillo no Brasil e acolheu Rossi e os
outros conterrâneos pretendentes à nova colônia “como irmãos, porque filhos da
mesma terra e da mesma ideia”,declarando-se republicano porém socialista em
economia.
“As terras em volta de Palmeira são
constituídas por colinas docemente onduladas, em parte apenas cobertas de capim
– e esta parte chama-se campo –, em parte coberta de matas”, segundo
Rossi, que faz outras classificações no panorama rural. “As matas mais próximas
da cidade são jovens e recebem o nome de capoeira; as mais distantes,
como Santa Bárbara, onde irá se estabelecer a nossa colônia social, são
virgens, mas de uma virgindade relativa.”
Simpática e pitoresca,
à margem do lajeado
Outra descrição de Palmeira na
primeira década republicana se deve ao sociólogo, militar e explorador Cândido
Muricy (1863-1943). “Construída à margem de um lajeado, afluente do Caniú [ou
Cantú], por sua vez afluente do Tibagi, Palmeira sobe a encosta em doce declive
de uma extensa e bonita coxilha, tendo porém, seu núcleo principal na baixada”,
despontou aos olhos de Muricy provavelmente em 1896 , um ano antes de ser
elevada a município, desmembrado de Ponta Grossa.
“É alegre e pitoresca a cidade, a
única estação da via férrea, dessa categoria, de Curitiba a Ponta Grossa. Seu
casario é de estilo português, pesado e desgracioso, sem ser no entanto do
estilo dito colonial, tão em voga hoje
nas construções citadinas”, observou Muricy.
“Seu conjunto, entretanto, não deixa de ser alegre e simpático.”
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