Ereta a vila no Iapó, o povo
dá “vivas” à rainha Maria I
Widson Shwartz
Situa-se Castro “numa colina alongada que se estende do sul ao norte até o rio Iapó”, visão de Saint-Hilaire em 1820
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Embora
Saint-Hilaire mencione apenas Castro, o lugar se denominava Vila Nova de Castro
quando de sua passagem; de freguesia, elevara-se a vila em 24 de janeiro de
1789, em homenagem a Martinho de Mello e Castro, ministro dos Negócios
Ultramarinos de Portugal. As terras paranaenses estavam na jurisdição da
Ouvidoria e Comarca de Paranaguá, Capitania de São Paulo, governada por
Bernardo José de Lorena.
Historiadores
mencionam uma “ouvidoria gigante”, Paranaguá, abrangendo também partes de São
Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, alcançando a fronteira com a
Argentina.
Quando o ouvidor,
Francisco Leandro de Toledo Rendon, declarou ereta a Vila Nova de Castro, “o
povo prorrompeu em estrepitosos vivas à rainha, D. Maria I, e se ouviram
descargas [das armas de fogo] pela tropa de cavalaria”.
O toque dissonante
com o advento da vila foi a designação do sargento-mor, o paulista Miguel
Pedroso Leite. Ostentando a patente de capitão da guarda, ele tinhas péssimos
antecedentes em outras capitanias; sua ficha corrida incluía cumplicidade em
homicídio. Nomeado assim mesmo, assumiu ainda em 1789 e arvorou-se em
autoridade absoluta, cometendo todo tipo de arbitrariedade. Extorquia moradores
e até ameaçou rapazes, para induzi-los a casarem com suas filhas. “Foi a tal
ponto o terrorismo que a população, de medo, já não concorria à missa.” A
Câmara de Oficiais da Vila decidiu enfrentá-lo, e conseguiu que fosse removido
em março de 1791. Restou na Câmara “formidável representação contra este
Pedroso”.
Situa-se Castro “numa
colina alongada que se estende do sul ao norte até o rio Iapó”, visão de
Saint-Hilaire em 1820. A leste da vila, onde a topografia é menos elevada, o
viajante observou o predomínio das pastagens e uma orla de araucárias
contornando o banhado. No lado oeste, “o
mais montanhoso e pitoresco as araucárias coroam as colinas”. Debaixo dessas
árvores majestosas existem algumas choupanas e um vasto tabuleiro de relva
alcança a cidade.
“O rio Iapó
serpenteia aos pés das colinas a oeste” tendo nas margens arbustos repletos de
líquens esbranquiçados, que parecem barba de velho. O mais abundante é o pau-de-sebo,
uma leguminosa, cuja madeira é muito mole e da qual “se comem os frutos
chamados vulgarmente cambuí”.
Em 1820, Castro tem
uma centena de pequenas casas de taipa e no distrito inteiro cinco mil
habitantes. Pessoalmente Saint-Hilaire constatou o número de habitações, que
formavam três ruas e tinham semelhança com as dos camponeses de Sologne, na
França. “Três ou quatro comerciantes, mulheres da vida [prostitutas], alguns
operários formavam, mais ou menos, toda a população permanente da vila”,
segundo o visitante. “A instrução pública é absolutamente nula.”
Há uma produção de
milho, feijão, arroz e trigo, “mas os habitantes da campanha pensam menos em
cultivar a terra do que em criar animais de chifres e cavalos”. Além do
mercado, a criação de animais exige “cuidados pouco variados”. Uma evolução teria
início, porém.
Elevação a cidade
e nome definitivo
Rocha Pombo
assinala “verdadeiro e admirável progresso de Castro” no período que vai de
1820 a 1860. “Em 1840 se levantou uma nova ponte sobre o Iapó (…) e o vigário
da paróquia, padre Inácio de Almeida Faria e Souza, benzeu a sacristia da nova
matriz em construção.”
Nas primeiras
décadas de 1800 as terras paranaenses constituem a Comarca de Paranaguá e
Curitiba, a seguir 5.ª Comarca de São Paulo. São estabelecidos o “termo” – ou
jurisdição – de Castro, em 1842, e a comarca em 1854. Em 21 de janeiro de 1857,
com a transformação legal da vila em cidade, o nome é restrito a uma palavra:
Castro.
Assim a admirável
evolução, assinalada por Rocha Pombo, desde os primórdios numa redução
jesuítica fundada em 1627, ou perto da barra do Iapó ou na Fazenda Pitangui.
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