Jesuítas, índios e minas
de sal no médio Tibagi
Paisagem em Ortigueira
Usina Mauá, em Telêmaco Borba
No curso médio do
rio Tibagi, entre o Salto Mauá (município de Telêmaco Borba) e a foz do rio
Apucaraninha (município de Tamarana), a referência colonizadora mais antiga é a
redução jesuítica Nossa Senhora da Encarnação, que existiu entre 1625 e 1628,
na margem esquerda, até ser atacada pelo caçador de índios Raposo Tavares.
Chegou a ter 500
famílias indígenas, produzia inclusive uvas e explorava minas de sal.
Na então região del
Guairá, domínio espanhol, os padres da Companhia de Jesus (jesuítas)
estabeleceram as primeiras reduções indígenas na margem direita do
Paranapanema, a partir de 1610. Entre 1622 e 1625 eles atingem o baixo e o
médio Tibagi, agregando índios na margem esquerda. Nossa Senhora da Encarnação
é fundada em 1625, pelos padres Antônio Ruyz de Montoya e Cristobal de Mendoza, “em terras de Taiati,
dominadas pelo cacique Pindoviiú, à margem esquerda do rio Tibagi”.
Presumivelmente,
abaixo da foz do rio Barra Grande, área na margem esquerda do Tibagi hoje
município de Ortigueira. Nos mapas arqueológicos do Paraná a redução tem o nome
resumido a Encarnação. “...dimosle princípio la vispera de S. Lorenzo
del año de 625 y levantamos una muy hermosa cruz (…) echamos suertes sobre el
nombre que avia de tener el pueblo y salio três bezes el de encarnacion” —
registrou Montoya.
Os caingangues
resistiram à presença jesuítica no médio Tibagi e houve a mudança da redução
para lugar mais propício à agricultura. Do vasto registro sobre a ação
jesuítica para catequizar os índios, em
maioria guaranis, a fonte para esta reportagem é a síntese do professor Igor
Chmyz em Arqueologia e História da Vila Espanhola Ciudad Real del Guairá
(Cadernos de Arqueologia – n.º 1, 1976 – Universidade Federal do Paraná).
Em 1627, Encarnação
mudou de lugar, por dois motivos: 1 – as invasões de índios chamados “campeiros ou coroados” — os
caingangues. 2 – Havia uma “ameaça de fome”. Por essa vaga menção supõe-se que
o núcleo situava-se em lugar desfavorável à produção de alimentos. Já no outro
lugar, a redução não está imune aos ataques de caingangues e também de tupis.
Gradativamente, os caingangues se integraram à redução e os tupis acabaram
aprisionados.
“A fertilidade da terra
e o clima aprazível possibilitavam fartas colheitas”, afirmam historiadores
sobre o novo lugar de Encarnação, relacionando 500 famílias indígenas. “Outro
aspecto interessante dessa redução: a descoberta de minas de sal em suas
proximidades.” Valiosa alternativa. Antes, “o fornecimento de sal ao Guairá era
feito da longínqua Assunção”.
Havia na província
espanhola do Guairá pelo menos três comunidades ou “cidades” (Ontiveros, Ciudad Real del Guairá e Villa
Rica el Espírito Santo), que produziam artefatos de ferro e até armas de fogo,
e 14 reduções jesuíticas. A alguma reduções eram circum-muradas de taipa,
possuíam armas de fogo e resistiam às investidas de bandeirantes. Não há
indicativos de que Encarnação estivesse entre elas.
Ataque final
a Encarnação
Os portugueses, que
a princípio respeitavam o índio cristianizado, “devido ao vulto" da ação
jesuítica, passaram a buscá-los nas reduções, “as vantagens eram enormes”,
porque haviam sido treinados para o trabalho. Já entre 1923 e 1924 Manuel Preto
capturava índios diretamente nas reduções do Paranapanema e baixo Tibagi, sem
destruí-las, porém.
Com três mil
portugueses e 900 mamelucos, a bandeira do caçador de índios Raposo Tavares
chegou ao planalto paranaense através do vale do Ribeira. Em 8 de setembro de
1628, atravessou o Tibagi e destruiu Encarnação. A seguir deslocou-se para os
vales do Ivaí e do Piquiri, rumo a outras reduções e aldeias, e regressou a São
Paulo em 1.º de maio de 1629, levando 20 mil índios.
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