Esplendor
e conflito político na
“capital
brasileira do diamante”
Widson Schwartz
Usina abandonada em Tibagi
Salto Conceição entre Tibagi e Telêmaco Borba
Procedente da Bahia, passando por garimpos em Mato Grosso, Minas Gerais e Goiás, Polybio Cotrim chega a Tibagi em 1933. Garimpeiro, lapidário e comprador, ele será também memorialista e, por suas anotações, o auge do garimpo no rio Tibagi se dá entre 1930 e 1936, “uma festa permanente, porque a alma do garimpeiro é o diamante e muito diamante havia”. A cidade do Tibagi passou a ser “a capital brasileira do diamante”.
E cresce a animosidade
entre
baianos
e
tibagienses
(ou
tibagianos),
pesando
a
representatividade política dos garimpeiros, que ganham a simpatia do governo.
Concentravam-se no Tibagi aproximadamente três mil baianos com 265 escafandros, segundo Polybio Cotrim. Mas havia diamantes
em
outros
rios
da
região
e
foi
num
serviço
no
Jaguariaíva
que
Polybio
obteve
o
maior:
56 quilates
e
10 pontos.
Não
se
tem
notícia
que,
desde
então,
um
igual
tenha
sido
encontrado
no
Paraná.
Pelas margens do rio passavam”capangueiros” até da Europa; levavam pedras valiosas e deixavam “um dinheirão” que raros garimpeiros guardaram. “Capangueiro” e “pedrista”, sinônimos de comprador. “Quem ganhou dinheiro foi o capangueiro, o garimpeiro era só extravagante”,
comentou
o
Sezefredo
Novais
Taques
aos
83 anos.
Ele
mesmo
conhecera
o
Tibagi
“por
cima
e
pelo
fundo”,
nas
grandes
“influências”, inclusive o “assombro”.
Sezefredo disse que permaneceu pobre não por falta de diamantes,
mas
por
causa
da
regra:
perdulários
eram
quase
todos
os
garimpeiros.
“Caíam
na
farra,
esquecendo-se do serviço
enquanto
durasse
o
dinheiro.
Bebendo,
jogando,
envolvendo-se com mulheres.”
Pensando
que
os
diamantes
nunca
iam
se
acabar, esperavam por novas oportunidades para guardar dinheiro.
Na década de 40 ainda se vendem bons diamantes do Tibagi no Rio de Janeiro, mas o declínio do garimpo está em marcha; além do rareamento das “influências”, o governo passa a controlar rigidamente a atividade: acionar um “serviço”
implica
requerer
previamente
a
área
e
o
garimpeiro
ser
matriculado
num
departamento. Aos desobedientes, cadeia.
Os compradores, por sua vez, precisam ter as licenças aprovadas pela presidência da República. Polybio Cotrim guardou autorização assinada por Getúlio Vargas; a de seu irmão César, tem o visto de Eurico Gaspar Dutra. A falência da Companhia Monte Alegre, ainda na década de 30, contribuiu para a decadência, porque a Indústria Klabin comprou o patrimônio e fechou a área, não mais permitindo o garimpo.
Ânimos acirrados
dividiram a cidade
Conforme o historiador
Aroldo
Fonseca
Mercer,
baianos
e
tibagienses
não
se
misturavam
na
cidade,
era
como
se
houvesse
uma
linha
e
quem
a
ultrapassasse, causaria o confronto violento. Guataçara
Borba
Carneiro,
tibagiano,
atribuiu
aos
baianos
arbitrariedades, pelo mando político, e até assassinatos. Eles tinham a conivência
do
interventor
no
Estado,
Manoel
Ribas,
e
o
prefeito
fora
nomeado
por
indicação
do
líder
baiano,
segundo
Guata.
Embora admitindo dois assassinatos, Polybio Cotrim disse que foram cometidos por cuasa de desavenças pessoais e que a única disputa realmente envolvendo tibagienses e baianos foi política.
Augusto dos Santos, o primeiro baiano que chegou, era coronel. A origem dessa patente não se sabe, mas fora “chefe político” na Bahia, posição que assumiu em Tibagi na condição de adepto da ditadura Vargas, a que se opunha a maioria dos tibagianos. Com o advento da constituição de 1934, Augusto é eleito deputado estadual, derrotando Laerte Munhoz, o candidato dos tibagienses. Em 1935, Guataçara Borba Carneiro é eleito prefeito, concorrendo com Nélson dos Santos, filho de Augusto. Mas o Tribunal Regional anula a eleição, acatando denúncia de fraude em algumas urnas.
Afirma-se que o Ribas mandou anular o pleito. Guataçara recorre ao Supremo e ganha o direito de assumir a Prefeitura.
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