quarta-feira, 26 de dezembro de 2012


Visões de Palmeira no alvorecer republicano  
 Widson Shwartz


 No alvorecer republicano, Palmeira “ostenta (…) ampla praça retangular cingida por palmeiras, no meio da qual ergue-se a igreja”, descreveu-a em abril de 1890 o italiano Giovanni Rossi, que ia fundar nova colônia

Nascente do Rio - Fazenda Bugio Palmeira
  

            Com a queda da monarquia, em 15 de novembro 1889, a República encontra um palmeirense na presidência da Província do Paraná. “Foi a cidade de Palmeira a sede do poderio político liberal na Província durante o Império, sob a chefia do conselheiro Jesuíno Marcondes de Oliveira Sá”, escreveu o contemporâneo José Cândido da Silva Muricy.
            Nascido em Palmeira, Jesuíno distinguira-se no reinado de Pedro II, desempenhando entre outras funções a de ministro da Agricultura, Comércio e Obras, tendo recebido o título de conselheiro; o de barão lhe foi negado, desde que fora posto sob suspeita de ter influído na venda de terras imprestáveis para a colonização.
            Exercendo a presidência da Província quando é proclamada a República, Jesuíno comunica ao marechal Deodoro da Fonseca, chefe do novo poder, que o Partido Liberal do Paraná servirá a Pátria com o governo provisório. E dá por encerrada a sua tarefa, passando a administração da Província ao comandante da Brigada do Exército.
            No alvorecer republicano, Palmeira “ostenta (…) uma ampla praça retangular cingida por palmeiras, no meio da qual ergue-se a igreja”, descreveu-a em abril de 1890 o italiano Giovanni Rossi, que ia fundar uma nova colônia. “Em volta [da praça], asseadas casinhas. Poucas ruas compõem esta jovem cidadezinha” , no dizer de Rossi, que lá encontrou telefone. “Há um hotel, uma sala de bilhar, um clube literário, uma sociedade de amadores de teatro, uma fábrica a vapor para a preparação da erva-mate e várias casas de comércio.”
             Instalara-se, recentemente, o escritório da Inspetoria de Terras e Colonização em Palmeira, para supervisionar novos assentamentos coloniais também na banda do rio Iguaçu.
            “Supérfluo dizer que Palmeira tem um correio e um posto telefônico”, anotou Rossi, embora a telefonia ainda fosse rara adiante de Curitiba.
            O médico em Palmeira, o italiano Franco Grillo, recebe o mais alto conceito de Rossi: “bom, honesto” e “benemérito da ciência pelas informações e coleções  [presumivelmente da flora regional] que tem enviado à Sociedade Geográfica Italiana e ao Museu Cívico de Ciências Naturais de Gênova”. Há 17 anos estava o dr. Grillo no Brasil e acolheu Rossi e os outros conterrâneos pretendentes à nova colônia “como irmãos, porque filhos da mesma terra e da mesma ideia”,declarando-se republicano porém socialista em economia.
            “As terras em volta de Palmeira são constituídas por colinas docemente onduladas, em parte apenas cobertas de capim – e esta parte chama-se campo –, em parte coberta de matas”, segundo Rossi, que faz outras classificações no panorama rural. “As matas mais próximas da cidade são jovens e recebem o nome de capoeira; as mais distantes, como Santa Bárbara, onde irá se estabelecer a nossa colônia social, são virgens, mas de uma virgindade relativa.”

Simpática e pitoresca,
à margem do lajeado 

            Outra descrição de Palmeira na primeira década republicana se deve ao sociólogo, militar e explorador Cândido Muricy (1863-1943). “Construída à margem de um lajeado, afluente do Caniú [ou Cantú], por sua vez afluente do Tibagi, Palmeira sobe a encosta em doce declive de uma extensa e bonita coxilha, tendo porém, seu núcleo principal na baixada”, despontou aos olhos de Muricy provavelmente em 1896 , um ano antes de ser elevada a município, desmembrado de Ponta Grossa.
            “É alegre e pitoresca a cidade, a única estação da via férrea, dessa categoria, de Curitiba a Ponta Grossa. Seu casario é de estilo português, pesado e desgracioso, sem ser no entanto do estilo dito colonial, tão em voga  hoje nas construções citadinas”, observou Muricy.  “Seu conjunto, entretanto, não deixa de ser alegre e simpático.”

  

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