segunda-feira, 2 de setembro de 2013

(30 de agosto de 2913 – Widson Schwartz.)     

Três Bocas norteou a fundação de Londrina






            A margem esquerda do Tibagi tem 60 quilômetros no município de Londrina e não está livre da degradação. Há, porém, remanescentes da mata ciliar original e o rio desponta pelo volume, as corredeiras, a divisão por ilhas. Em determinadas épocas do ano, serpenteia entre a brancura do trigo ou o amarelo da soja em maturação, que contrastam com o verde de pequenas reservas florestais.
            Nas imediações da foz do Ribeirão Três Bocas, a 20 quilômetros da cidade, trinta hectares estão declarados de utilidade pública para o futuro Parque Municipal do Tibagi,  projeto de 2003, já completando 10 anos sem sair do papel. Os afluentes principais do Tibagi no município são os ribeirões Apertados, Taquara e Três Três Bocas. E o Rio Apucaraninha, marcando a divisa com Tamarana.
            Mas o Três Bocas, paralelamente a seus encantos, norteou os que vieram dar a partida à colonização do Norte Novo, os britishies – britânicos, como os escoceses liderados por lorde Lovat preferiam ser chamados, em vez de ingleses. E se relaciona à povoação e ao sentimento de famílias que ainda o encontraram na plenitude.
            A ferrovia e a estrada de automotores de Jataí a Londrina, projetadas pelos britânicos, acompanharam o “Velho Picadão Três Bocas”, assim conhecido por situar-se na bacia esquerda do ribeirão. Fora aberto em 1927 pela turma do comissário de terras Joaquim Palhano, “um picadão escuro, barrento, cheio de tocos e buracos”, relatou George Craig Smith, integrante da expedição que o percorreu em 21 de agosto de 1929 e fundou o Patrimônio Três Bocas, origem de Londrina.
            A data de fundação oficializada pelo Museu Histórico é 21 de agosto de 1929 ao entardecer, segundo a memória de Smith. Mas, pelo que anotou outro integrante da expedição, o alemão Erwin Frölich, foi na manhã de 22 de agosto, por volta das 10 horas. O engenheiro russo Alexandre Razgulaeff localizou o marco e determinou a abertura da primeira clareira na floresta, onde seria o prieiohoel e o almoxarifado da colonizadora.
            Na margem esquerda do Tibagi, Londrina surgiria também à esquerda do Três Bocas, que, logo,seria mencionado numa história de liberdade: 13 famílias russas fugitivas do comunismo se estabeleceram à margem do ribeirão, em 1935. Estavam refugiadas na Índia e para trazê-las, a Liga das Nações comprou lotes de cinco alqueires da Companhia de Terras Norte do Paraná, que designou um funcionário russo, Vladimir Revensky, para recebê-los..
         Membro de uma daquelas famílias, Miguel Polskih recordou terem encontrado a mata virgem, por onde transitavam raposas, onças e outros bichos, que rondavam os ranchos. E muito peixe. Por situar-se no limite ao sul, o clima relativamente frio era impróprio ao café, mas excelente para a saúde dos imigrantes, que progrediram com outras culturas.
         Acima de tudo, aquele mundo verde lhes parecia um prêmio à determinação de terem buscado a liberdade, afirmariam.

Parque ecológico ao
redor da hidrelétrica
        
            Da nascente à foz do  ribeirão Três Bocas a linha reta é de 42 quilômetros,  mas a extensão pela sinuosidade é desconhecida. Há trechos de corredeiras e quedas e a Empresa Elétrica de Londrina construiu a Usina Três Bocas, em 1943.
         Geradora de 440 kilowatts, encampada e desativada pela Copel, atualmente compõe o Parque Ecológico Municipal Daisaku Ikeda, nome de um filósofo budista japonês. Está em Londrina a maior comunidade nipo-brasileira do Paraná. A barragem encontra-se restaurada, com a passarela sobre as comportas pela qual se transpõe o lago. E quem subir no mirante, terá uma visão ampla dos arredores. 
         A 12 quilômetros da cidade, por rodovia asfaltada, o parque tem 51 alqueires nas duas margens do ribeirão, com remanescentes da floresta primitiva. Ali são encontradas 96 espécies de aves e 12 de mamíferos.