terça-feira, 4 de junho de 2013

Contrastes na geografia
humana dos municípios
 Telêmaco Borba - PR

 Igreja Matriz de Ortigueira: município é o terceiro maior em extensão do Paraná

Salto Tamanduá I - São Jerônimo da Serra



          Imbaú, expressão tupi que significa beber da bica, identifica o menor município na região do Médio Tibagi, 332 km², contrastando com Ortigueira, o mais extenso – 2.342 km². Em termos de renda e população, Telêmaco Borba está no topo, São Jerônimo da Serra é o mais pobre e Sapopema tem a menor população.
           O território municipal situa-se entre os rios Imbaú e Imbauzinho, mas a cidade Imbaú não é ribeirinha: é um ponto na Rodovia do Café (BR-376). Nos primeiros anos 60, a povoação evoluiu do acampamento da Cirol, construtora da rodovia e, inicialmente, nome do lugar.
          Mais tarde principal paragem entre o norte do Estado e Curitiba, o Imbaú foi distrito de Telêmaco Borba até ser emancipado, em 1.º de janeiro de 1997. Sua população atual é de 11.270 moradores. Produto Interno Bruto (PIB): R$ 115,3 milhões (2010). O valor representa R$ 10.228 reais por habitante, 50% abaixo da média estadual.
          Ortigueira ( 2.342 km²) é também o terceiro maior município paranaense (depois de Tibagi e Guarapuava). Os primeiros colonizadores chegaram em 1900 e tinham por referência Monjolinho, um pequeno monte. A povoação passou a se chamar Vila das Queimadas, em 1921; e Ortigueira, em 1943. É provável que Ortigueira venha de urtiga, aponta Vanderci de Andrade Aguilera no Atlas Linguístico do Paraná.
          Município criado em 1951, Ortigueira tem hoje 23.100 habitantes; sua população  economicamente ativa é de 12.110 pessoas. Baseado na agropecuária, ainda é um município de baixa renda: 11.178 reais per capita anualmente, inferior à média paranaense.
          A menor população, entre os municípios no curso médio do Tibagi está em Sapopema: 6.736 habitantes. Sapopema, nome de árvore encontrada pelos pioneiros, onde a povoação teve origem com a a Estrada do Cerne, em 1936. Primeiro nome: Conserva, pela moradia de operários na manutenção da estrada. A seguir, “Vila do Pito Aceso.
          Aquilo está fervilhando, parecendo pito aceso”, comentavam. Coisa de fazer inveja ao Lajeado, vilarejo próximo, relatou o memorialista Osório Alves Vieira à Folha de Londrina. Com a promoção a distrito de Curiúva, em 1951, oficializou-se o nome Sapopema, município a partir de em 1961.
          O Salto das Orquídeas é atração turística no rio Lajeado Liso, que desemboca no Barra Grande, formando um dos principais afluente na margem direita do Tibagi.   
          Fortalecido pelas sucessivas expansões da Indústria Klabin de Papel e Celulose, Telêmaco Borba está com 71.100 habitantes; o município estende-se por 1.385 km², mas a população é quase inteiramente urbana: 97%. Conforme dados do IBGE e do Ipardes, o PIB municipal atingiu a R$ 1,450 bilhão (2010) e do total apenas 18% correspondem à agropecuária. Os restantes 82% dividem-se quase igualmente entre os serviços e a indústria.
           
         
Jeronimenses ficam
com a menor renda
         
          Cabe a São Jerônimo da Serra o mair contraste social: renda per capita inferior a um terço da média paranaense.  De 2009 para 2010, o produto interno bruto municipal baixou de R$ 88,150 milhões para 83,672 milhões, conforme o IBGE. E assim a renda per capita diminuiu de R$ 7.404 para 7.381, 64% abaixo da média do Estado.

          Em 2007, constatou-se que  68% da população correspondiam às famílias inscritas no programa Bolsa Família. Uma das comunidades mais antigas, fundada em 1854 na terra indígena, São Jerônimo está com  11.300 habitantes. Por sua extensão, divide-se entre os cursos médio e baixo do rio Tibagi.
Jesuítas, índios e minas
de sal no médio Tibagi
Paisagem em Ortigueira

Usina Mauá, em Telêmaco Borba
            No curso médio do rio Tibagi, entre o Salto Mauá (município de Telêmaco Borba) e a foz do rio Apucaraninha (município de Tamarana), a referência colonizadora mais antiga é a redução jesuítica Nossa Senhora da Encarnação, que existiu entre 1625 e 1628, na margem esquerda, até ser atacada pelo caçador de índios Raposo Tavares.
          Chegou a ter 500 famílias indígenas, produzia inclusive uvas e explorava minas de sal.
          Na então região del Guairá, domínio espanhol, os padres da Companhia de Jesus (jesuítas) estabeleceram as primeiras reduções indígenas na margem direita do Paranapanema, a partir de 1610. Entre 1622 e 1625 eles atingem o baixo e o médio Tibagi, agregando índios na margem esquerda. Nossa Senhora da Encarnação é fundada em 1625, pelos padres Antônio Ruyz de Montoya e Cristobal de  Mendoza, “em terras de Taiati, dominadas pelo cacique Pindoviiú, à margem esquerda do rio Tibagi”.
          Presumivelmente, abaixo da foz do rio Barra Grande, área na margem esquerda do Tibagi hoje município de Ortigueira. Nos mapas arqueológicos do Paraná a redução tem o nome resumido a Encarnação. “...dimosle princípio la vispera de S. Lorenzo del año de 625 y levantamos una muy hermosa cruz (…) echamos suertes sobre el nombre que avia de tener el pueblo y salio três bezes el de encarnacion” — registrou Montoya.
          Os caingangues resistiram à presença jesuítica no médio Tibagi e houve a mudança da redução para lugar mais propício à agricultura. Do vasto registro sobre a ação jesuítica para  catequizar os índios, em maioria guaranis, a fonte para esta reportagem é a síntese do professor Igor Chmyz em Arqueologia e História da Vila Espanhola Ciudad Real del Guairá (Cadernos de Arqueologia – n.º 1, 1976 – Universidade Federal do Paraná).
          Em 1627, Encarnação mudou de lugar, por dois motivos: 1 – as invasões de  índios chamados “campeiros ou coroados” — os caingangues. 2 – Havia uma “ameaça de fome”. Por essa vaga menção supõe-se que o núcleo situava-se em lugar desfavorável à produção de alimentos. Já no outro lugar, a redução não está imune aos ataques de caingangues e também de tupis. Gradativamente, os caingangues se integraram à redução e os tupis acabaram aprisionados.
          “A fertilidade da terra e o clima aprazível possibilitavam fartas colheitas”, afirmam historiadores sobre o novo lugar de Encarnação, relacionando 500 famílias indígenas. “Outro aspecto interessante dessa redução: a descoberta de minas de sal em suas proximidades.” Valiosa alternativa. Antes, “o fornecimento de sal ao Guairá era feito da longínqua Assunção”.
          Havia na província espanhola do Guairá pelo menos três comunidades ou “cidades”  (Ontiveros, Ciudad Real del Guairá e Villa Rica el Espírito Santo), que produziam artefatos de ferro e até armas de fogo, e 14 reduções jesuíticas. A alguma reduções eram circum-muradas de taipa, possuíam armas de fogo e resistiam às investidas de bandeirantes. Não há indicativos de que Encarnação estivesse entre elas.

Ataque final
a Encarnação  
          Os portugueses, que a princípio respeitavam o índio cristianizado, “devido ao vulto" da ação jesuítica, passaram a buscá-los nas reduções, “as vantagens eram enormes”, porque haviam sido treinados para o trabalho. Já entre 1923 e 1924 Manuel Preto capturava índios diretamente nas reduções do Paranapanema e baixo Tibagi, sem destruí-las, porém.
          Com três mil portugueses e 900 mamelucos, a bandeira do caçador de índios Raposo Tavares chegou ao planalto paranaense através do vale do Ribeira. Em 8 de setembro de 1628, atravessou o Tibagi e destruiu Encarnação. A seguir deslocou-se para os vales do Ivaí e do Piquiri, rumo a outras reduções e aldeias, e regressou a São Paulo em 1.º de maio de 1629, levando 20 mil índios.