segunda-feira, 1 de abril de 2013


Esplendor e conflito político na
“capital brasileira do diamante”
Widson Schwartz

 Usina abandonada em Tibagi

Salto Conceição entre Tibagi e Telêmaco Borba


 Salto do Peludo, em Tibagi




            Procedente da Bahia, passando por garimpos em Mato Grosso, Minas Gerais e Goiás, Polybio Cotrim chega a Tibagi em 1933. Garimpeiro, lapidário e comprador, ele será também memorialista e, por suas anotações, o auge do garimpo no rio Tibagi se entre 1930 e 1936, “uma festa permanente, porque a alma do garimpeiro é o diamante e muito diamante havia”. A cidade do Tibagi passou a sera capital brasileira do diamante”. 
          E cresce a animosidade entre baianos e tibagienses (ou tibagianos), pesando a representatividade política dos garimpeiros, que ganham a simpatia do governo.
          Concentravam-se no Tibagi aproximadamente três mil baianos com 265 escafandros, segundo Polybio CotrimMas havia diamantes em outros rios da região e foi num serviço no Jaguariaíva que Polybio obteve o maior: 56 quilates e 10 pontos. Não se tem notícia que, desde então, um igual tenha sido encontrado no Paraná
          Pelas margens do rio passavamcapangueirosaté da Europa; levavam pedras valiosas e deixavamum dinheirãoque raros garimpeiros guardaram. “Capangueiroepedrista”, sinônimos de comprador. “Quem ganhou dinheiro foi o capangueiro, o garimpeiro era   extravagante”, comentou o Sezefredo Novais Taques aos 83 anos. Ele mesmo conhecera o Tibagipor cima e pelo fundo”, nas grandesinfluências”, inclusive oassombro”.
          Sezefredo disse que permaneceu pobre não por falta de diamantes, mas por causa da regra: perdulários eram quase todos os garimpeiros. “Caíam na farra, esquecendo-se do serviço enquanto durasse o dinheiro. Bebendo, jogando, envolvendo-se com mulheres.” Pensando que os diamantes nunca iam se acabaresperavam por novas oportunidades para guardar dinheiro.
          Na década de 40 ainda se vendem bons diamantes do Tibagi no Rio de Janeiro, mas o declínio do garimpo está em marcha; além do rareamento dasinfluências”, o governo passa a controlar rigidamente a atividade: acionar  umserviçoimplica requerer previamente a área e o garimpeiro ser matriculado num departamento. Aos desobedientes, cadeia.
          Os compradores, por sua vez, precisam ter as licenças aprovadas pela presidência da República. Polybio Cotrim guardou autorização assinada por Getúlio Vargas; a de seu irmão César, tem o visto de Eurico Gaspar Dutra. A falência da Companhia Monte Alegre, ainda na década de 30, contribuiu para a decadência, porque a Indústria Klabin comprou o patrimônio e fechou a área, não mais permitindo o garimpo


Ânimos acirrados
dividiram a cidade

          Conforme o historiador Aroldo Fonseca Mercer, baianos e tibagienses não se misturavam na cidade, era como se houvesse uma linha e quem a ultrapassasse, causaria o confronto violentoGuataçara Borba Carneiro, tibagiano, atribuiu aos baianos arbitrariedades, pelo mando político, e até assassinatos. Eles tinham a  conivência do interventor no Estado, Manoel Ribas, e o prefeito fora nomeado por indicação do líder baiano, segundo Guata.
          Embora admitindo dois assassinatos, Polybio Cotrim disse que foram cometidos por cuasa de desavenças pessoais e que a única disputa realmente envolvendo tibagienses e baianos foi política.
          Augusto dos Santos, o primeiro baiano que chegou, era coronel. A origem dessa patente não se sabe, mas forachefe políticona Bahia, posição que assumiu em Tibagi na condição de adepto da ditadura Vargas, a que se opunha a maioria dos tibagianos. Com o advento da constituição de 1934, Augusto é eleito deputado estadual, derrotando Laerte Munhoz, o candidato dos tibagienses. Em 1935, Guataçara Borba Carneiro é eleito prefeito, concorrendo com Nélson dos Santos, filho de Augusto. Mas o Tribunal Regional anula a eleição, acatando denúncia de fraude em algumas urnas.
          Afirma-se que o Ribas mandou anular o pleito. Guataçara recorre ao Supremo e ganha o direito de assumir a Prefeitura.