sexta-feira, 13 de setembro de 2013

(12 de setemnbro de 2013 – Widson Schwartz.)  

No Apucaraninha, o último ato da tragédia caingangue




         Na parte do antigo município de Tibagi que abrangia a margem esquerda do rio,  a Reserva Indígena do Apucaraninha existe desde 5 de julho de 1900, oficialmente Posto Indígena Xavier da Silva, nome do presidente do Paraná que assinou o decreto destinando-lhe a área. Primeira ocupação efetiva na região, precedendo a origem de Tamarana, por volta de 1920.
         Inicialmente com 80 mil hectares, não se sabe quantos caingangues recebeu. É o lugar do último capítulo da tragédia indígena no Vale do Tibagi, desde que José Félix da Silva iniciara a matança nos arredores da Fazenda Fortaleza, em 1800.
         Aos 90 anos de idade Alfredo Lodi recordou que tinha 11 anos de idade ao sair de Piraí do Sul com a mãe, Taider, em 1922. Passaram por São Jerônimo e adiante, oito léguas, atravessaram o rio Tibagi, indo Taider lecionar na Reserva do Apucaraninha. “Quando deu a febre forte, morreu quase toda a indiada e nós mudamos para São Jerônimo”, expressão de Alfredo, sem precisar o ano da mortandade, ainda na década de 20.
         Em 1935, padre Carlos Probst conhece a “Fazenda dos Índios”, entre os rios Apucaraninha e Apucarana Grande, que “se prolongava, passando o rio Tibagi, até cidade de São Jerônimo”, conforme anotou. Mas não era respeitada “pelos brancos que, entrando lá como intrusos, empurravam os índios cada vez mais para a margem do Tibagi onde, perto do Apucaraninha, se encontrava a sede da administração”.
         Já existia a vila de São Roque (mais tarde Tamarana) e tivera início a formação de fazendas. Com a região integrada à paróquia de Londrina, padre Probst se  empenhava na “pastoral das desobrigas”, reunindo moradores para os batizados, casamentos, comunhão, confissão, missa etc. Viajando em lombo de mula, estava ansioso na expectativa de conhecer os índios.
         Enorme a decepção ao vê-los. “Eu, leitor assíduo das obras de James Fenimore Cooper na infância, criara certa imagem sublime dessa raça privilegiada”, começa Probst a sua crônica. “Mas o meu ideal foi destruído na hora  em que avistei estes tipos degenerados que dormiam no seu rancho. Nada sobrava, na Fazenda dos Índios, da grandeza dos antigos donos do continente americano.”                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                           
         Conforme na Fundação Nacional do Índio (Funai), o Estado do Paraná e o SPI assinaram acordo em 1949, pelo qual a reserva de 80 mil hectares foi reduzida aos 5.574 atuais, onde estão 1.100 índios em dois grupos, dividindo o espaço em duas aldeias.   

Uma indenização
pela hidrelétrica


         Aproveitando o salto de 145 metros no Apucaraninha para gerar 6,3 megawatts, a Empresa Elétrica de Londrina construiu a usina em 1949, com acesso pela reserva indígena. Sucessora na hidrelétrica, a Copel assinou ajuste de conduta com o Ministério Público no final de 2006, envolvendo o pagamento R$ 14 milhões à comunidade indígena.
         Efetuou-se o pagamento em uma parcela de 20% do total e o restante em cinco prestações anuais, pagas desde 2007.  Conforme a empresa, trata-se de “indenização pelos passivos ambientais, sociais, culturais e morais” decorrentes da construção da hidrelétrica e sua geração”. E condicionou-se investir o valor em ações de sustentabilidade social e ambiental das famílias,  discutidas previamente com a comunidade.