segunda-feira, 18 de março de 2013


Companhia Monte Alegre, negócio fabuloso em terra de caingangue
 Widson Schwartz

 Vegetação nativa de Tibagi -PR
 Foz do Rio Iapó junção com o Rio Tibagi

          Desde a passagem de Thomas Bigg-Wither, em 1874, sucedem-se as informações de que o garimpo compensador sempre fora no monchão e em aluviões nas margens do Tibagi; raramente no leito do rio. A geologia, segundo o explorador, fazia supor “a cidade de Tibagi (…) situada em um campo de diamantes de considerável extensão, faltando apenas (…) meios modernos e inteligentes para explorá-lo”.     
          A fama de terra dos diamantes chega ao século 20 e os herdeiros da Fazenda Monte Alegre fazem uma sociedade. A seguir vendem a participação e surge,  com acionistas europeus e mexicanos, a Companhia Agrícola e Florestal e Estrada de Ferro Monte Alegre, com a finalidade de explorar os recursos naturais da fazenda e introduzir a agricultura com a participação de cinco mil famílias alemãs.
           Foge à história o nome do francês que conquistou a confiança dos herdeiros, fato inexplicado segundo a histriadora Hellê Fernandes no livro Monte Alegre, cidade-papel.
          Mesmo em sua grandiosidade de 143.500 hectares e tantos recursos a serem explorados, a Fazenda Monte Alegre valia bem menos de 30 mil contos de réis, valor constante no laudo obtido por aquele misterioso homem da França em 1926. “O certo é que ele integralizou o capital com apenas 250 contos de réis que possuía” e transformou o total da sociedade em 1 milhão e 200 mil ações. Sócio  menor, em dois anos negocia suas ações no exterior e compra a participação dos herdeiros da fazenda.
          “Encetou, então, na base de empréstimos, um dos mais fabulosos negócios vistos e havidos em terra de índio caingangue.”
          O titular da Companhia Monte Alegre  faz “especulações inacreditáveis” e atrai investidores, entre os quais um sindicato alemão, uma mineradora mexicana e uma imobiliária francesa. Em Londres, constitui-se a Tibagy Diamond and Gold Mines Cy Ltd., cujos acionistas esperam lucro de 3.600 quilates de diamantes. Antes, porém, havia que se fazer explorações, infraestrutura e adquirir máquinas, contratar técnicos estrangeiros. Os custos são pagos com empréstimos de bancos estrangeiros e do Banco do Estado do Paraná.
          Em 1931, cinco anos após o início da sociedade, a falência da empresa é requerida por um credor e os acionistas europeus “ficam apenas com (…)  os sonhos de riqueza fácil em ouro, diamantes (…) e terras nos sertões do Brasil”. O grosso do dinheiro havia sido gastos em viagens ao exterior e na contratação de técnicos e projetos; nenhuma atividade produtiva inciada.
          A falência requerida em 1931 é suspensa pelo Supremo Tribunal Federal, mas em 1932 o Banco do Estado do Paraná entra na Justiça. Com quatro mil contos de réis em haver, o banco requer a segunda e irreversível falência e arremata a fazenda em leilão, em 1933. Só havia o valor das terras realmente, porque as benfeitorias eram irrisórias, mesmo levando-se em conta a abertura de uma estrada de 42 quilômetros até a cidade, uma balsa próxima a Salto Peludo, no rio, e uma linha telefônica funcionando precariamente.


Quem eram
os herdeiros

          José Félix da Silva e a esposa, Onistarda, tiveram uma filha, que se tornou mãe de Manoel Ignácio do Canto e Silva. Quando morre o avô, Manoel Ignácio, casado com Cândida Novais, herda o latifúndio. A filha do casal,  Ana Luísa, se casa com o tropeiro e político José Bonifácio Batista, deputado estadual de 1854 a 1859, chefe do Partido Liberal e coronel comandante da Guarda Nacional em Castro, futuro Barão de Monte Carmelo, título que lhe será outorgado em 1886 por D. Pedro II.
          Nascido em 1827 na Vila do Príncipe (mais tarde Lapa), o Barão de Monte Carmelo morre em 1897. São os seus herdeiros e de Ana Luísa que fazem a sociedade em 1926 para explorar as riquezas florestais e minerais da Fazenda Monte Alegre e se retiram a seguir,  encerrando o domínio da descendência de José Félix da Silva há mais de um século.