segunda-feira, 5 de agosto de 2013

(1.º de agosto de 2013 – Widson Schwartz.)     


Baixo Tibagi perdeu 
beleza e cerâmicas





            Desapareceram a  flora e a fauna exuberantes encontradas pela expedição dos irmãos Borba no baixo Tibagi em 1876; o rio, hoje, é poluído por esgoto de chácaras e o agrotóxico da agricultura mecanizada. Na margem direita, abaixo de Jataizinho, Rancho Alegre (168 km² e 4.190 habitantes) e Sertaneja (446 km² e 6.520 habitantes) mudaram a economia do café e do algodão para a soja, trigo e milho principalmente.
            O Consórcio Intermunicipal para a Proteção da Bacia do Tibagi – Copati – vem coordenando o plantio de essências, mas ainda não se formaram matas ciliares protetoras. Há períodos de água suja, barrenta, consequência das enxurradas que conduzem o solo de áreas agrícolas para dentro do rio.
            Houve, também o alagamento pelo reservatório  da Hidrelétrica Capivara, que descaracterizou a foz e inviabilizou a continuidade de muitas olarias e cerâmicas por falta de argila.  
            Olarias e cerâmicas têm história no baixo Tibagi, onde o perímetro urbano de Jataizinho ocupa o imóvel antigamente conhecido por Olaria Velha, titulado pelo presidente da Província em 1873. Situava-se no “rocio [roça abandonada] da Colônia Militar”. Em 1929, o escocês Ian Fraser constrói, na barranca do rio, a olaria da Companhia Territorial Maxwell, empresa com interesse imobiliário em Jataí, que visava a um próximo mercado de materiais com a fundação de Londrina naquele ano.
            Natural de Pirassununga (SP), descendente de alemães, Dionísio Striquer arrenda a cerâmica Maxwell em 1933, limitando-se a produzir telhas “batidas a mão”. Em 1937, chega Antônio Vialta, um espanhol que passa a produzir tijolos.
            Desenvolvendo-se Londrina e outras cidades no Norte Novo, a indústria cerâmica de Jataizinho dá sucessivos saltos, chegando à melhor fase: a década de 70, com o Banco Nacional de Habitação (BNH), que financia casas populares e o saneamento básico. “Jataizinho, a capital nacional das cerâmicas”, eis um tópico na história. Já eram 35 produzindo telhas, tijolos e manilhas, com mercados no Paraná e outros Estados.
            Participante daquela evolução, o advogado Albino Striquer expôs dois conceitos: olaria, que significa a produção um tanto artesanal; cerâmica, já usando máquinas, tem caráter industrial. Em Jataizinho, as olarias, que faziam tijolos maciços, compraram máquinas e se transformaram em cerâmicas, produzindo tijolos furados.
            Sucedeu o declínio com a recessão econômica nos anos 80, a chamada “década perdida”. A inflação anual de 100% entre 1980 e 82 chegou a 200% em 83. E atingiria 1.700% no final da década. Vieram os planos econômicos, cessaram os investimentos e  quem estava com dinheiro punha na poupança. A produção das cerâmicas de Jataizinho tinha evoluído de quatro milhões de peças/mês e chegado à superoferta de 12 milhões. O excedente fez o preço do milheiro no mercado cair para a metade do custo de produção em 1983.   
            Desativa-se o BNH em 1986, seguindo-se o fechamento de muitas cerâmicas, entre as quais a Bela Vista, da família Striquer. De 35 cerâmicas em Jataizinho na década de 70, restam sete atualmente.

Inundação chegou
a 14.150 alqueires
           
             
            Estima-se que dezenas de olarias e cerâmicas cessaram atividade no baixo Tibagi ao perdeem acesso à argila. A hidrelétrica Capivara, no Paranapanema, fechou as comportas em 20 de dezembro de 1975 e na margem paranaense 11 municípios tiveram áreas inundadas pelo reservatório, perfazendo 14.150 alqueires.
            Quanto mais perto da foz, mais se elevou o nível do Tibagi, cobrido reservas de argila (os “barreiros”) nas margens. As cerâmicas, em sua maioria, ficam sem  matéria-prima e cessam a produção.

            Em Jataizinho,  bem  acima da foz, restaram disponibilidades e a concessionária da hidrelétrica, por um acordo, permite o aproveitamento. Mas a extração supre só 50% das necessidades das cerâmicas; a outra metade vem de Sapopema, a 100 quilômetros.