quinta-feira, 14 de março de 2013


Diamantes em Tibagi antes do troperismo
Widson Schwartz

Cará Cará - Tibagi-PR

Tibagi - PR

Tibagi - PR

Tibagi - PR

“Diferente das outras cidades aqui da região, Tibagi passou por vários ciclos econômicos, começou pela mineração, não pelo tropeirismo”, observa o dentista José Tibagy de Mello,  o “Zezito”. Aos 80 anos, ele é personalidade imediatamente lembrada quando se imagina Tibagi, tanto por conhecer a história do lugar como fazer parte dela.
          Três vezes prefeito do município, Zezito nasceu em Tibagi e seu aniversário coincide com a data do município, 18 de março. “O meu pai era paulista e eu nasci aqui, em homenagem a cidade ele pôs o meu nome”, explica. Pela vontade do pai, seria só “Tibagy de Mello,  mas os padres não registravam se não tivesse nome de Santo. Como eu nasci na  véspera de São José,  ele pôs José Tibagy. E 18 de março vem a ser o aniversário do município”.
          A ocorrência de diamantes em Tibagi é mencionada desde 1720, com sucessivas notícias de um século para outro. “De todos os rios dos Campos Gerais que têm diamantes e ouro, o Tibagi passa pelo mais rico”, anotou em 1820 o botânico francês Saint-Hilaire. “Existem mesmo diamantes nas terras próximas e, principalmente, a algumas centenas de passos da vila a que o rio dá o nome”, complementou.
          E depois de Saint-Hilaire, houve o atestado de Thomas Bigg-Wither, “um inglês que passou por aqui e disse que Tibagi está assentada em cima de um lençol de diamantes, porque onde se pesquisa tem cascalho”, comenta Zezito.
          No livro que escreveu, Bigg-Wither conta que chegou à “cidadezinha de Tibagi” em 1.º junho de 1874 às 10 horas da manhã. Já nas cercanias, surpreendera-se com “um campo fenômeno”, sua classificação para “um grande aglomerado de chácaras” onde vicejavam plantações, frutíferas e pastagens repletas de vacas e mulas. “Tão incomum na província do Paraná, a visão excitava algo mais do que surpresa ordinária e prodígio.”  Antes, só conhecera as imensas fazendas de baixa produtividade e colônias malsucedidas ainda que financiadas pelo governo.
          Sem nenhuma proteção governamental, aquele “caso resolvido” em Tibagi era resultado da mineração intensiva de diamantes que havia cessado, explicou ao visitante um inglês chamado Mercer. Recém-estabelecido, Mercer havia prosperado muito e estava para noivar com a filha de um dos fazendeiros mais ricos. Naquele “campo fenômeno”, 16 km² aproximadamente, havia o núcleo de moradias de mineradores. Escasseando os diamantes, em vez de irem embora, decidiram “cultivar  o solo (…) tão maravilhosamente fértil em comparação a outras terras de campo”. Autossuficientes e dispondo de animais cargueiros, passaram a colocar a produção excedente nas feiras de Ponta Grossa, Castro e Curitiba, obtendo preços vantajosos.
          A busca aos diamantes não cessou, porém. Deslocou-se a uma propriedade a cinco quilômetros de Tibagi.    
         

Novo caminho no
Brasi meridional


          A presença de Bigg-Wither no Vale do Tibagi se deveu ao projeto de uma ferrovia, mas ele se mostrou repórter da geografia humana. Thomas Plantagenet Bigg-Wither tinha 26 anos, um dos 16 engenheiros ingleses e suecos incumbidos de definir o melhor traçado de “um sistema misto de vias férreas e fluviais”, se pelo vale do Iguaçu, do Ivaí ou do Tibagi, para atingir Mato Grosso, o Paraguai e a Bolívia.
          A serviço do Visconde de Mauá e sócios, ele permanece no Brasil de junho de 1872 a abril de 1875. A seguir faz uma preleção na Real Sociedade Geográfica de Londres e escreve Pioneering in South Brazil  (“Pioneirismo no sul do Brasil”), editado na Inglaterra em 1878.  “Novo Caminho no Brasil Meridional – A Província do Paraná”, é a tradução de Temístocles Linhares, editada em 1972 pela Imprensa Oficial do Paraná. O livro é “dedicado, com a sua permissão, a Sua Excelência o Visconde de Mauá, a quem o autor é especialmente devedor pelas oportunidades que teve de viajar e fazer observações em região pouca conhecida” (...)