quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013


A completa influência
dos barões tropeiros
Widson Schwartz

 Rio Cará Cará, que passa pela Fazenda Bugio, em Tibagi

 Capela Santo Antônio, na Estrada BR-153, em Tibagi

 Nascente do Rio Tibagi, na Fazenda Bugio, em Tibagi


          Na recém-instalada Província do Paraná, o imposto sobre a movimentação de animais representa 70% da receita pública, assinalados na lei n.º 4 de 1.º de agosto de 1854, relativa à normatização do Registro de Rio Negro, o mais importante no caminho das tropas. Mas o porcentual, tão elevado, teria contribuições de outras passagens, faz presumir a lei do orçamento provincial, de 18 de setembro de 1854, que autoriza a designação de funcionários para “arrecadação e fiscalização do imposto de animais” em Palmas e na divisa com Itararé  “ou onde o governo julgar conveniente”.
           A província tem 62.257 habitantes e orçamento estimado em 123,6 mil contos de réis  no primeiro ano, expõe Samuel Guimarães da Costa no volume I da História da Assembleia Legislativa do Paraná. Inerente à força econômica é o prestígio político dos fazendeiros e tropeiros, que impõem a capital da Província.    
          “Conquistado pelos liberais e pelos fazendeiros liderados pelo Barão de Tibagi”, o presidente da Província, Zacarias Góes de Vasconcellos, “influi na Assembleia Provincial em favor da escolha de Curitiba, repetindo argumentos antes sustentados por Jesuíno Marcondes, que funcionara como auxiliar da presidência na administração provincial.” O Partido Conservador propusera Paranaguá.
          José Caetano de Oliveira, o Barão do Tibagi, é o pai de Jesuíno Marcondes, deputado e líder do Partido Liberal. Artigo primeiro da lei número 1, de 26 de julho de 1854: “A cidade de Curitiba é a capital da província do Paraná”.
          De oito títulos de nobreza concedidos entre 1842 e 1888 a residentes na 5.ª Comarca de São Paulo, a seguir Província do Paraná, seis couberam a tropeiros. Barão dos Campos Gerais corresponde à notável posição de David dos Santos Pacheco, natural da Lapa e que fora iniciado no comércio de tropas pelo padrinho de batismo, João da Silva Machado, futuro Barão de Antonina. Depois, associou-se a parentes, tornou-se um dos mais ricos no ramo, com criatório também no Rio Grande do Sul, David, eleito deputado e vice-presidente provincial. Organiza e equipa, por sua conta, 150 voluntários para a Guerra do Paraguai. Em 1880, hospeda D. Pedro II em sua residência  na Lapa.   
          O aluguel de pastos, para as tropas de passagem, impõe o declínio da pecuária nos Campos Gerais. É a imensidão do latifúndio que faz ser mais lucrativo alugar para invernada do que criar os animais e produzir alimentos. Tomas Bigg-Wither constata em 1874 que na Fazenda Fortaleza, a maior da província, de 100 escravos restam oito. E  o proprietário mudou-se para a cidade. Em Fortaleza, é possível engordar 16 mil animais em três meses, mediante o pagamento de dois mil réis por cabeça. A pastagem, porém, permanece vazia quase o ano inteiro.
          “Mais algumas fazendas como a Fortaleza nas mãos de homens como o sr. Manuel Ignácio Costa – o dono – transformariam toda a província do Paraná num deserto”, conclui Bigg-Wither.   


O latifúndio e o drama
da Fazenda Fortaleza


          Manuel Ignácio da Costa herdara o fantástico latifúndio de seu avô José Félix da Silva, abrangendo.  340 milhas quadradas, equivalentes a 544 quilômetros quadrados, calculou Thomas Bigg-Wither em 1874. “Todavia,s eu proprietário não a cultivava, a não se em insignificante extensão, nema vendia.” O latifúndio era formado pelas Fazendas Fortaleza, Lagoa e Mone Alegre.  e suas ramificações, a Alagoa e a Monte Alegre.
          David Carneiro escreveu “O Drama da Fazenda Fortaleza”, romance baseado em lendas e fatos anotados por Saint-Hilaire em 1820. José Félix maltratava escravos, empregados e a própria família; a esposa, Onistarda, reuniu cúmplices para assassiná-lo. Ele resistiu aos atentados, mas ao morrer – ainda na década de 1820 – estava coxo de uma perna, sem os dedos em uma mão e a outra atrofiada. A esposa havia sido condenada e Félix, por sua influência, a mantinha prisioneira na Fazenda Fortaleza.