segunda-feira, 8 de abril de 2013


No município das commodities,
o garimpo ficou para a história
Widson Schwartz


 Garimpo no Rio Tibagi, em Telêmaco Borba



  Salto Conceição entre Tibagi e Telêmaco Borba

         A busca aos diamantes nunca cessou no rio e pode ser constatada hoje, mas o resultado atual é inexpressivo comparado a outras explorações no país. Tanto é que o município de Tibagi recebeu em 2011 apenas R$ 5.690 de compensação financeira pela exploração mineral; Ortigueira e Telêmaco Borba, também com  garimpeiros ao longo do rio, R$ 5.140 e R$ 9.116 respectivamente.  Em termos de garimpo, a notícia continua a ser o passado, agora acervo do Museu Histórico de Tibagi, atrativo para os turistas.
          Bateias, escafandro, canoa e outros apetrechos compõem a seção do garimpo no
Museu Desembargador Edmundo Mercer Júnior, que abrange a história do município e de sua gente, a representatividade política e tradições. O diretor, Neiri Assunção, que já tem 20 anos de casa, pretende uma projeção maior. “O sonho é transformar esse museu, com uma divulgação melhor a nível nacional, e também ver se conseguimos fundar o museu da mineração. Eu acho que merece um destaque todo especial esse acervo nosso”, entusiasma-se.
          Há depoimentos de garimpeiros que emocionam os visitantes, tem observado Assunção, que destaca um dos fatos mais interessantes: a maioria  não amealhou riqueza, ao contrário dos intermediários. “Às vezes construíram seu ranchinho, sua família aqui em Tibagi, mas riqueza, não. A riqueza apenas com o sonho deles na procura do diamante.” 
          Tibagi atualmente se notabiliza pelas commodities agrícolas. Em 2011, o município produziu 306,2 mil t de soja (área de 87,6 mil hectares), 135,1 mil t de milho (14.200 ha) e 142,6 mil t de trigo (40,7 mil ha). A produtividade é muito alta e o clima favorece a obtenção de sementes da melhor qualidade. Com a melhoria da infraestrutura dos transportes, o turismo evolui. “Hoje vivemos o ciclo da agricultura e do turismo, o município é muito rico”, ressalta o ex-prefeito José Tibagy de Mello,  situando Tibagi entre os maiores produtores de trigo do país.  
          É o segundo maior município paranaense em extensão: 2.950 quilômetros quadrados. Sua população é de 19.480 habitantes. São menos de sete habitantes por quilômetro quadrado e renda per capita de 18.822 reais, em 2010. No Produto Interno Bruto (PIB), de 363,8 milhões de reais, a indústria representa apenas 1%. A agropecuária participa com 51% e os serviços a seguir,  48%.  Das 8.298 pessoas economicamente ativas (em 2010), 7.824 estavam ocupadas.
          Conforme o Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico – Ipardes –, Tibagi tem índice médio de desenvolvimento municipal; a classificação leva em conta indicativos de renda e emprego, saúde e educação.


O romance
do garimpo

           Baseado nas lavras diamantinas da Bahia, Cascalho, de Herberto Sales, introduz o ciclo do garimpo no moderno romance regionalista brasileiro, com a primeira edição em 1940. Provavelmente, entre os baianos que inspiraram personagens do romance,  muitos já estavam em Tibagi desde os anos 30, entre os quais Polybio Cotrim, amigo de Herberto Sales, ambos nascidos em Andaraí, onde cursaram o ginásio juntos.
          Na década de 50, contos de Polybio escritos em Tibagi são publicados em A Cigarra, revista de circulação nacional cujo editor é Herberto, que estimula o amigo. Outros escritos de Polybio ganham espaço no suplemento literário Singra, de circulação interestadual, encartado em jornais.
          “Punhados de diamantes saíram dos monchões, das grupiaras, dos leitos dos rios. Vinham da ganga bruta para as mãos calosas dos garimpeiros”, narra Polybio no conto Velhas histórias. Casado com Alda Moreira, desde 1936, na década de 70, em sua chácara no Imbaú, Polybio respondeu que ainda ganhava dinheiro com diamantes. Uma repentina enfermidade o matou em1979. Dos velhos garimpeiros ainda estavam vivos Moacir de Campos, o Sizote, João Pontes, Sezefredo Taques e Anastácio Martins Ferreira.