segunda-feira, 25 de março de 2013


Baianos iniciam o ciclo
diamantífero em Tibagi
Widson Schwartz
Garimpeiros do Rio Tibagi

 Usina abandonada em Tibagi

Usina abandonada em Tibagi

           Ao mesmo tempo em que fracassa a tentativa de acionar uma sofisticada exploração na Fazenda Monte Alegre, ocorre o surto diamantífero no rio Tibagi propriamente. Daí, entre 1930 e 1936, o garimpo  transformará a cidade na “capital brasileira do diamante”, com a presença de milhares de baianos – há menções de três mil a cinco mil – e o uso de escafandros. Chegam das Lavras Diamantinas da Bahia, atraídos pela notícia de uma “mancha” de cascalho assombrosa, tal a quantidade de diamantes. É o “assombro do Tibagi”, descoberto por Waldemar Santos, o Santinho.
          Estupefato, ele erguera as mãos juntas, pedindo: “Se for castigo, meu Deus, faça desaparecer essa mancha!”  E os baianos iriam ganhar até representatividade política, nomeando prefeito e elegendo deputado.
          A Companhia Monte Alegre pretendia monopolizar a mineração; os garimpeiros não permitiram e coube a eles iniciar o ciclo, muito breve, estendendo-se de 1930 aos primeiros anos 40. Liderados por Rogaciano Pereira, mobilizaram-se contra a “empresa francesa”, a Monte Alegre, que reconheceu a impossibilidade de assegurar o monopólio da atividade, ainda que a fazenda abrangesse as margens do Tibagi num longo trecho e outros rios diamantíferos.
          Supõe-se que o fato de uma empresa baseada na perspectiva de muito diamante e ouro no sertão do Paraná tenha sido a notícia que despertou a atenção dos baianos, tendo sido  Augusto dos Santos o primeiro a chegar. E a seguir a “grande corrida” motivada pelo “assombro”.   
          Os baianos estabelecem o garimpo até certo ponto empresarial, oferecendo participação nos resultados. Predomina o sistema de “meia-praça”, assim chamados os garimpeiros que entram com o trabalho em troca da alimentação, acampamento e de 50% dos diamantes. Os “meias-praças” são agregados ao dono do “serviço”, financiador da atividade. É quem fornece o escafandro e os acessórios indispensáveis à extração do cascalho no fundo rio e a apuração.
          Há um código de ética: cada mergulhador tem a sua produção honestamente controlada na superfície pelos companheiros. As informações sobre a presença e os métodos dos baianos constam em reportagens de Widson Schwartz e Dorico da Silva (Folha de Londrina de 15 de julho de 1976 e de 4 a 9 de julho de 1977), que alcançaram os últimos remanescentes do ciclo.
          No linguajar do garimpo, a palavra “influência” se traduz por ocorrência de preciosidades. E de todas as “influências” no Tibagi, o “assombro” se caracteriza pela intervenção maciça dos baianos. Moacir de Campos, o Sizote, contou haver sido um dos primeiros a mergulhar no “assombro”, ainda sem escafandro. “Para esquentar tomou uma meladinha” – cachaça com limão e mel – e foi bater num “cascalho encangado, duro como piso de calçada e... cheio de diamantes”. Em parceria, Sizote e Rogaciano Pereira apuravam o cascalho dentro da canoa e de início encheram “um prato”.

No “assombro” era
de se encher chapéu


          Falta certificar quando Waldemar dos Santos revelou o “assombro”. Em 1970, rico e morando em Curitiba, ele disse que foi em 1934 que chegou a”pegar chapéus cheios de diamantes” no rio Tibagi.
          A concorrência no “assombro” era tanta, que causava o congestionamento de escafandristas no fundo do rio; velhos garimpeiros contaram que os mergulhadores tinham o espaço restrito, ficavam quase juntos, tal a concentração. Daí as confusões de propósito. O escafandrista de uma equipe vendo o balde de um concorrente quase vazio, antecipa o sinal, dando puxões no cabo, para que façam subir o recipiente. Menos cascalho, menos diamantes. Era preciso cavoucar a superfície debaixo d'água para descobrir o depósito e o escafandrista podia permanecer até por três horas na tarefa, recebendo o ar enviado pela máquina na superfície. Mas o normal era o revezamento no “assombro”, havia muitos”meias-praças” dispostos ante a certeza que lá estavam os diamantes.