domingo, 16 de junho de 2013

Na mudança de curso, os vales suspensos no paredão do Tibagi



            A transição do médio para o baixo Tibagi ocorre entre os municípios de Tamarana (margem esquerda) e São Jerônimo da Serra (margem direita), início do trecho mais impressionante. Primeiro afluente a assinalar a mudança, à direita, o rio Apucaraninha tem bacia de 579,8 km² e com o salto de 125 metros de altura, próximo à foz,  compõe “um vale suspenso na margem do Tibagi”, definição de Reinhard Maack.
            A força geradora de 9.300 kilowatts é aproveitada desde 1949, quando a Empresa Elétrica de Londrina construiu a usina, atualmente propriedade da Copel, que paga royalties aos caingangues pela cessão da área em terra indígena. E é ponto turístico.
            Com a mudança de curso, o Tibagi passa também do segundo para o terceiro planalto; na margem direita, o rio do Tigre é o afluente que assinala a transição. Seu panorama assemelha-se ao do Apucaraninha na margem oposta. Com o salto de 148 metros de altura, o Tigre tem o próprio vale “em suspensão no paredão do vale do Tibagi”, segundo  Maack na Geografia Física do Paraná
            Situa-se em São Jerônimo da Serra, onde há outros rios nas alturas, sob uma linha reta que, a partir de Apucarana,  “corta” o vale do Tibagi do centro-norte para nordeste, passando por Tamarana e a Serra dos Agudos. Essa faixa se inclui nos 26% do território paranaense com altitude acima de 800 metros e até 1.150.
            Por um vale a 700 metros de profundidade o Tibagi transpõe a Serra dos Agudos, percorrendo 10 quilômetros até “quebrar” para oeste, quase em ângulo reto, e  por mais quatro quilômetros indo atingir a escarpa íngreme do terceiro planalto.  Os 14 quilômetros que deixou para trás, repletos de corredeiras, é o trecho mais emocionante de todo o percurso. Por ali, os maciços distribuem-se por altitudes acima de 800 metros.
            Os acidentes mais notáveis de longa distância são o pico com 1.224 metros de altitude, a leste, e a crista da serra, 1.212 metros, no sentido sudoeste-noroeste. O distrito de Terra Nova é um dos lugares que permitem avistar-se, parcialmente, o magnífico panorama, em que “o rio serpenteia entre as montanhas, lá embaixo, como  um risco prateado pelo reflexo do sol ou da lua cheia”, conforme a descrição de João Dias Ayres em seu  livro Portal da Esperança, crônicas do anteontem. Refere-se, em especial, à Serra dos Agudos, “beleza indescritível, muito bem evidenciada quando se aprecia de avião em baixa altitude”.
            Assíduo apreciador do Tibagi desde que chegou ao norte do Paraná, em 1937, para exercer a medicina, doutor João (1913-2008) observou que “o borbulhamento da água ao contato com as pedras e os golfos das corredeiras” expande o oxigênio, atenuando o efeito da poluição sobre os peixes. “Diríamos, então, que o Tibagi é um rio que se lava  a si próprio.”

O desafio invencível
em 200 milhas de rio

            Quem conhece tão-somente a nascente e a formação do Tibagi nas altas campinas, recebendo alguns ribeiros e regatos, não imagina a grandiosidade que atingirá, deduziu Thomas Bigg-Wither em 1874, após regressar de aventura até o curso inferior. Guiado por Telêmaco Borba e dois caingangues viajara  “300 milhas através do grande cenário de montanhas e florestas”, descobrindo o Tibagi “feroz e belo como o próprio  Éden”. 
            Os trechos mais bravios tiveram de ser contornados por terra. Mas Bigg-Wither pôde ver o rio “despenhando-se em cascatas e cataratas, até que, por fim, a suas águas se confundissem com as do rio ainda mais caudaloso, o Paranapanema”. Na viagem de regresso, a exemplo de expedições anteriores, a de Bigg-Wither e Telêmaco não conseguiu vencer o desafio das 200 milhas de rio entre a Colônia Militar de Jataí e a cidade do Tibagi.

            Numa das vezes, quando já se congratulavam por terem “saído bem” do desfiladeiro dos Agudos, subitamente lhes apareceu “um salto e catarata combinados”, formando “uma gigantesca e intransponível barreira de rocha, espuma e volume de água”.


Base do Pico Agudo 

Rio Tibagi vista Pico Agudo