sábado, 19 de outubro de 2013

(17 de outubro de 2013 – Widson Schwartz.)





Pesca predatória e degradação continuam a empobrecer o rio




            Os peixes grandes desapareceram, os pequenos estão rareando e “ninguém precisa ser especialista” para saber a causa. Quem afirma é Noel Soares, em sua chácara margeando o Tibagi em Maravilha, distrito de Londrina: “Primeiro, muita poluição e esse desmatamento; segundo, plantações na beira, com esses venenos brabos , que vão para dentro do rio quando chove. Não tem como o peixe reproduzir, né? Depois, vem a pescança”, refere-se à predação, que afirma ser tão flagrante quanto a ausência de polícia para coibi-la.
            “Essa tal de Força Verde – a polícia ambiental – funciona só no papel”, declara Noel.  “Pega essa margem de baixo até em cima, ali da ponte de Jataizinho até Tamarana, ou bem cedo ou na boca da noite vai ver o que tem de gente estendendo rede nesse rio.”
              Para Janderson Marcelo Canhada, secretário-executivo do Copati, o rio “comporta a pesca de subsistência, está passando por um processo de regeneração”, mas ainda “longe de saudável”, que ofereça condição para o repovoamento das espécies originais para a pesca econômica.
            A fauna original é prejudicada também pela introdução do tucunaré, da bacia amazônica, um predador. Estudos mencionados pelo biólogo Mário Luís Orsi, professor da Universidade Estadual de Londrina (UEL), indicam que o tucunaré já causou a extinção de sete espécies de pequenos lambaris na bacia do Paranapanema. Neste rio,  a foz do Tibagi “é afetada pela usina de Capivara, ou seja, isso já é uma descaracterização de hábito, e ainda vem a introdução de espécie, se torna bem complicado”, segundo Orsi.
            Contribui para a raridade dos peixes grandes ou nobres no Tibagi a degradação, “por mais que se faça todo um trabalho de recuperação, a bacia ainda sofre muito com o impacto de lavoura incorreta, despejo de agrotóxico”, segundo Orsi. “Uma sequência de eventos que vai diminuindo o tamanho dessas populações de peixes.
            E apareceu, em Maravilha, o “juro-que-pensei”. Segundo Noel Soares, pesava um quilo, parecendo pintado, pela mancha. Mas não pela cabeça, achatada. “Juro que pensei que fosse um pintado”, disse o pescador.
            Marcos Albuquerque, da Expedição CBN, constatou no curso superior “lugar de pescaria, que é a Fazenda da Viúva”. Situa-se na foz do Guaraúna, entre Ponta Grossa e Uvaia. “Ali a pescaria é intensa, pelo menos para a diversão serve. A gente vê as pessoas sempre com peixe.”

Só miudezas, até
onde o rio é maior


            Indicativo de que Aílton Luiz Boletti costuma ir ao rio é  a canoa com as iniciais de seu nome, no quintal da casa, em Maravilha, onde nasceu e mora há 45 anos. Seu parecer é uma incógnita:  “Peixe tem bastante, difícil é pegar”. E faz um inventário: “Dourado está difícil. O finado meu pai pegava dourado igual pegar lambari no córrego. Nas corredeiras (hoje) tem cascudo, piapara, curimba, pintado, dourado, surubim. O difícil é achar onde eles estão, mas tem...
            Para Noel Soares “o que mais tem é mandi”. Há uns quatro anos, ainda conseguiu pacu, curimba e até “aquele tambaqui” (amazônico talvez introduzido). “Cascudo tem bastante...”
            A largura do Tibagi é variável em Maravilha e em período de seca há um ponto em que se o transpõe a pé. Em Jataizinho, cerca de 40 quilômetros abaixo, já atingindo o maior volume e 700 metros de largura, também só   peixe pequeno. “Muito mandi e mandiúva, aquela amarela. Antigamente tinha muito cascudo (…),mas o pessoal começou a armar muita rede”, afirma Manoel Luiz Lopes, próximo à Corredeira do Tira-Fubá.  

            “O pescador se sente  hoje lesado por causa dessa fiscalização que é muito pobre”,  repete Manoel o “diagnóstico” comum rio acima. “A pessoa chega e atravessa uma rede daqui para o outro lado. O  pescador no barranco, que vem pegar o peixe para comer, não o tem.” Recorda o concurso anual de pesca amadora em Jataizinho, os competidores no barranco. “Tudo isso acabou faz tempo...”
(7 de outubro de 2013 – Widson Schwartz.)     



Matas ciliares e vigilância, o déficit na proteção ao rio




            Conforme dados mencionados pelo Instituto Ambiental do Paraná (IAP), só 3,8% da  bacia do Tibagi são ocupados por florestas e a vegetação secundária estende-se por 27,6%. O reflorestamento está em 9,4% e as pastagens, em 18,1%. A maior extensão é ocupada pela agricultura – 40,1%. O rio está bem menos contaminado, mas a tão desejada proteção ainda não existe.
            Fatos relevantes: a expansão do controle biológico de pragas, pela Embrapa-Soja, e a consolidação do plantio direto atualmente em cinco milhões de hectares no Paraná, 80% da área de grãos. Em abril passado, o pioneiro do método, Herbert  Bartz, recebeu o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Estadual de Londrina UEL).
            O plantio direto evita movimentar o solo; colhe-se uma cultura. planta-se outra sobre a palha, sem o deslizamento para o rio. Já o controle biológico diminui o uso de agrotóxicos. Mas o alcance dessas tecnologias não é total na bacia e o Tibagi permanece vulnerável pela ausência de matas ciliares.
            A proteção ribeirinha por matas menos degradadas está restrita a 200 quilômetros de margens, entre Ponta Grossa e Tibagi. Nos cursos médio e baixo os remanescentes são raros eo represamento em Ortigueira. Conforme a projeção técnica, o rio necessita de reflorestamento ciliar com 100 metros de largura em cada margem; nas represas, faixas de 50 metros a partir das nascentes. Isso não existe, mesmo que esteja em andamento a ação amenizadora do consórcio intermunicipal para a proteção da bacia.
            No trecho do lago (84 km²) da Hidrelétrica Mauá distingue-se a água clara, provavelmente pela interdição das margens e atividade agrícola menos intensa anteriormente, por causa da topografia menos favorável. Marcos Albuquerque, da Expedição CBN, teve a “sensação  de um lago de água parada” à primeira vista. O contraste aparece abaixo da represa, um trecho água turva em períodos de chuva. “Quando chove o Tibagi tem muito assoreamento, a água fica totalmente barrenta”, observa Marcos.E lá, no lago, a gente pegou chuva e a água estava limpa.”   
            O Consórcio Intermunicipal para a Proteção Ambiental da Bacia do Rio TibagiCopatisurgiu em 1989, com a participação de instituições particulares e de empresas. Iniciativa pioneira, contribuiu também para a legislação estadual no setor. “Nesse período todo de 24 anos, teve uma série de ações ambientais na bacia com relação ao plantio de mais de um milhão árvores; repovoamento de peixes, pesquisa, coleta seletiva”, informa o secretário-executivo, Janderson Marcelo Canhada.
            “A qualidade da água de 1989 para melhorou. Mas está longe do ideal”, prossegue Canhada, responsabilizando  “o IAP, a Sema Paraná e respectivos órgãos, que, via de regra, exercem uma fiscalização deficiente, por falta de fiscais, equipamentos”.
             

IAP aponta o rigor
nos licenciamentos
           
            Antes de se formar o lago da hidrelétrica, pesquisadores da UEL constataram metais pesados (cádmio, cobre e mercúrio) em peixes, com índices acima dos permitidos. Vinham, provavelmente, da mineração desativada.
            O Instituto Ambiental do Paraná (IAP) julga ter chegado a um controle aceitável do setor industrial na bacia. “Acredito que todos os cuidados que a gente está tendo com licenciamentos de grandes empreendimentos, Cargill, Klabin, Castrolanda e outras empresas no sistema de tratamento, é para que não haja uma contaminação na forma que se tinha no Tibagi anteriormente”, afirma o presidente,  Luiz Tarcísio Mossato Pinto.

            A preocupação mais recente se deve “a uma carga um pouco pesada de fósforo”, segundo Mossato, que ainda não tinha um estudo detalhado quando informou. “Não sabemos ainda se é do setor agrícola, do setor industrial. O que precisa é se fazer  um estudo detalhado, projetar, e é o que a gente está buscando para (…) definir aonde e que está tendo este aumento de fósforo”, disse.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

(7 de outubro de 2013 – Widson Schwartz.)     



Matas ciliares e vigilância, o déficit na proteção ao rio.



             Conforme dados mencionados pelo Instituto Ambiental do Paraná (IAP), só 3,8% da  bacia do Tibagi são ocupados por florestas e a vegetação secundária estende-se por 27,6%. O reflorestamento está em 9,4% e as pastagens, em 18,1%. A maior extensão é ocupada pela agricultura – 40,1%. O rio está bem menos contaminado, mas a tão desejada proteção ainda não existe.
            Fatos relevantes: a expansão do controle biológico de pragas, pela Embrapa-Soja, e a consolidação do plantio direto atualmente em cinco milhões de hectares no Paraná, 80% da área de grãos. Em abril passado, o pioneiro do método, Herbert  Bartz, recebeu o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Estadual de Londrina UEL).
            O plantio direto evita movimentar o solo; colhe-se uma cultura. planta-se outra sobre a palha, sem o deslizamento para o rio. Já o controle biológico diminui o uso de agrotóxicos. Mas o alcance dessas tecnologias não é total na bacia e o Tibagi permanece vulnerável pela ausência de matas ciliares.
            A proteção ribeirinha por matas menos degradadas está restrita a 200 quilômetros de margens, entre Ponta Grossa e Tibagi. Nos cursos médio e baixo os remanescentes são raros eo represamento em Ortigueira. Conforme a projeção técnica, o rio necessita de reflorestamento ciliar com 100 metros de largura em cada margem; nas represas, faixas de 50 metros a partir das nascentes. Isso não existe, mesmo que esteja em andamento a ação amenizadora do consórcio intermunicipal para a proteção da bacia.
            No trecho do lago (84 km²) da Hidrelétrica Mauá distingue-se a água clara, provavelmente pela interdição das margens e atividade agrícola menos intensa anteriormente, por causa da topografia menos favorável. Marcos Albuquerque, da Expedição CBN, teve a “sensação  de um lago de água parada” à primeira vista. O contraste aparece abaixo da represa, um trecho água turva em períodos de chuva. “Quando chove o Tibagi tem muito assoreamento, a água fica totalmente barrenta”, observa Marcos.E lá, no lago, a gente pegou chuva e a água estava limpa.”   
            O Consórcio Intermunicipal para a Proteção Ambiental da Bacia do Rio TibagiCopatisurgiu em 1989, com a participação de instituições particulares e de empresas. Iniciativa pioneira, contribuiu também para a legislação estadual no setor. “Nesse período todo de 24 anos, teve uma série de ações ambientais na bacia com relação ao plantio de mais de um milhão árvores; repovoamento de peixes, pesquisa, coleta seletiva”, informa o secretário-executivo, Janderson Marcelo Canhada.
            “A qualidade da água de 1989 para melhorou. Mas está longe do ideal”, prossegue Canhada, responsabilizando  “o IAP, a Sema Paraná e respectivos órgãos, que, via de regra, exercem uma fiscalização deficiente, por falta de fiscais, equipamentos”.
             

IAP aponta o rigor
nos licenciamentos
           
            Antes de se formar o lago da hidrelétrica, pesquisadores da UEL constataram metais pesados (cádmio, cobre e mercúrio) em peixes, com índices acima dos permitidos. Vinham, provavelmente, da mineração desativada.
            O Instituto Ambiental do Paraná (IAP) julga ter chegado a um controle aceitável do setor industrial na bacia. “Acredito que todos os cuidados que a gente está tendo com licenciamentos de grandes empreendimentos, Cargill, Klabin, Castrolanda e outras empresas no sistema de tratamento, é para que não haja uma contaminação na forma que se tinha no Tibagi anteriormente”, afirma o presidente,  Luiz Tarcísio Mossato Pinto.

            A preocupação mais recente se deve “a uma carga um pouco pesada de fósforo”, segundo Mossato, que ainda não tinha um estudo detalhado quando informou. “Não sabemos ainda se é do setor agrícola, do setor industrial. O que precisa é se fazer  um estudo detalhado, projetar, e é o que a gente está buscando para (…) definir aonde e que está tendo este aumento de fósforo”, disse.

domingo, 6 de outubro de 2013

(2 de outubro de 2013 – Widson Schwartz.)





Uma época de rios e gente intoxicados





            O modelo agrícola americano no Brasil implicou a poluição das águas pela erosão do solo, agrotóxicos e a agroindústria. Despontou a rotação soja-trigo, com o atrelamento do setor primário à indústria de máquinas e implementos e à de agroquímicos. “Cambé não beberá água do rio Tibagi”, afirmou nos primeiros anos 80 o então prefeito, Luiz Carlos Hauly, ante a perspectiva de captação para abastecer Londrina e a sua cidade.
            No Paraná, a soja evoluiu de apenas cinco mil hectares para 304 mil na década 1960-1970 e chegou a 2,4 milhões de hectares em 1980. O governo federal cogitou, na década de 70, a autossuficiência em trigo, baseado principalmente na produtividade paranaense. Não chegaria a tanto. Mas, em 1981, o Estado colheu 1,350 milhão de toneladas, 51% do trigo brasileiro. E 35% da soja, 5,4  milhões de toneladas, colocando-se em segundo lugar.
            a participação do café paranaense na produção nacional havia recuado para 15,8%, apenas.
            A modernização com insumos abrange culturas temporárias e permanentes e o Sistema Nacional de Crédito Rural, isento de juros e correção monetária, condiciona 15% do total do custeio à compra de defensivos químicos, fertilizantes, sementes selecionadas e até a contratação de pulverização aérea (aviação agrícola).
            Uma fase de rios e agricultores intoxicados, morrem dezenas entre milhares atingidos. Documento minucioso da transformação é a Circular Iapar n.º 49  (fevereiro/1987), do Instituto Agronômico do Paraná, mencionando estatísticas do IBGE, análises do Ipardes (Instituto Paranaense de Desenvolvimento) e levantamentos da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado. A rotação soja-trigo evoluiu de cerca de 7% da área total cultivada no Paraná em 1970 para 31,3% em 1979; o café, que ocupava 42,69% de toda a área, desceu a 30,34%.
            Tratores no período 1970-1980: nas propriedades menores de 50 hectares aumentaram de 9 026 para 35 184 (+ 290%); nas maiores de 50 hectares, de 9 593 para 44 498 (+ 364%). Total: de pouco menos de 20 mil para 79.600 em dez anos
            Sem o plantio direto e outras métodos preservacionistas que ainda viriam a se expandir, a mecanização causava a erosão do solo para os rios, geralmente desprovidos de matas ciliares.  Na década de 70, Herbert Bartz, na Fazenda Renânia, em Rolândia, e Rolf Derpsch, na Fazenda Maravilha, em Londrina, experimentavam inicialmente o plantio direto; a Embrapa-Soja ainda se estruturava e só na década seguinte o controle biológico de pragas daria os primeiros passos. Enviado pela Missão Agrícola Alemã, Derpsch integrava um programa de cooperação com Instituto de Pesquisas Agropecuárias Meridional (Ipeame), do Ministério da Agricultura, e contribuiu – a exemplo de Bartz – para a pequisa do Iapar (Instituto Agronômico do Paraná) em termos da adequação de máquinas às condições de solo.


Notificados eram só 10%
da intoxicação humana


             De 1970 a 1980, os gastos no Paraná com pesticidas nas propriedades menores de 50 hectares cresceram 276% e nas maiores, 550%, verificando-se no algodão índice de aplicação entre os mais elevados. Seguramente havia excesso, atingindo os próprios trabalhadores na agricultura em geral: 3 603 intoxicados e 73 mortos entre 1982 e 1984, relatório de Reinaldo Skalisz, da Secretaria de Agricultura.
            Referia-se, porém, somente aos casos notificados. E isso era apenas  10% das ocorrências segundo entidades ambientalistas e sindicatos de trabalhadores. Afirmava-se que no Brasil morria uma pessoa intoxicada a cada hora e meia, além daquelas incapacitadas e, assim, aposentadas precocemente.

            Segundo a Associação Nacional de Defensivos (Andef), o Brasil havia consumido 105,4 mil toneladas de agrotóxicos em 1983, das quais 21,9 mil no Paraná, segundo maior mercado depois de São Paulo, com 37,8 mil toneladas.