sábado, 27 de julho de 2013

(25 de julho de 2013 – Widson Schwartz.)       




De Jataí à foz um rio
exuberante em 1876


Jataizinho - Enchente

            No ensolarado amanhecer de 1.º de janeiro de 1876 quase toda a população da Colônia Militar do Jataí  – naquele ano 296 pessoas das quais apenas três militares conforme estatística oficial – encontra-se no porto, espreitando os arranjos da expedição dos irmãos Nestor e Telêmaco Borba, que irá descer o último trecho do Tibagi e através do Paranapanema atingir o Paraná. Objetivo: Sete Quedas, em Guaíra.
Vão em duas canoas, uma com 16 metros de comprimento por um de largura, escavada em tronco de peroba, com um toldo de dois metros de extensão na popa, coberto de folhas de palmeira. A segunda, de cedro, tem dez metros por 70 centímetros de largura.
            Quem os acompanha é Bento, o mulato, e dois caiguás, o cacique Bandeira e Bruno, o mais hábil canoeiroou pilotodo Tibagi e Paranapanema.
            Muito mais irão navegar no Paranapanema e Paraná, mas os 78 quilômetros do Tibagi entre Jataí e a foz serão de sobressaltos, tantas as corredeiras. Mesmo descendo, vão demorar dois dias. Em compensação, terão paradas em alguns lugares paradisíacos. 
            Às 9 horas entram na corredeira do tira-fubá, com seus canais ao longo de três quilômetros. Largura do rio: 500 a 600 metros, conforme anotações de Telêmaco. Ao entardecer, encostam na Ilha dos Cágados, assim denominada pela abundância dessa pequena tartaruga. Suas ninhadas cobertas de areia contém de 16 a 20 ovos, “tesouro alimentar para o homem”.
            Dormem na Ilha dos Cágados, estimando-se que tenham vencido metade dos 78 quilômetros de Jataí ao Paranapanema. No dia seguinte, passam pelas corredeiras do Cerne e do Congonhasnomes de afluentese entram na mais perigosa de todas: Sete Ilhas. notícia de naufrágio e mortes nesta corredeira em 1856, uma canoa carregada de “trem bélico” em que morreram seis soldados e um cabo do 2.º Batalhão de Artilharia, em trânsito para Mato Grosso.  “É a mais violenta do baixo Tibagi, pesadelo de todos os pilotos”, observa Telêmaco. “Apesar de tudo, um dos lugares mais pitorescos do rio.”
            Dezoito quilômetros adiante de Sete Ilhas as canoas entram em um dos raros trechos calmos do Tibagi. É ao término da corredeira do Biguá que começa o remanso da Ilha das Araras, habitat da  majestosa ave de plumagem azul e vermelha.
            Há centenas de araras na pequena ilha, onde se vê uma choça de índios coroados, que apreciam a carne e usam as penas para fazer trajes festivosOutras aves muito notáveis: o maracanã, a jandaia, a pomba parda. E a jacutinga, nome de um dos principais afluentes na margem esquerda e de um ribeirão na margem direita.
            Altera-se o panorama com o rápido São Xavier e o baixio do Jacu, que os navegantes atingem ao entardecer do segundo dia. Estão chegando à foz do Tibagi, mas decidem pousar, evitando entrar no Paranapanema ao anoitecer. “Dia 3, oito horas. Eis o Paranapanema!”                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                    
            A foz (ou barra) do Tibagi  tinha 205 metros de largura e profundidade de 2,50 metros no canal. Medições dos engenheiros Keller em 1865.

Um dourado
e cinco anzóis

Cacique Bandeira e Bruno, índios caiguás, preferem pacu; os Borba e Bento apreciam dourado. E pescam na Ilha dos Cágados.
            “Nestor admira-se de perder cinco anzóis de sua vara inglesa. Telêmaco fisga enorme dourado. Um metro. E na boca do peixe encontra os cinco anzóis perdidos por Nestor!”
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(FONTES: “O indomável republicano”, Túlio Vargas – O Formigueiro, 1970; e Boletim do Arquivo do Paraná n.º 6 – abril/1980.)