segunda-feira, 1 de julho de 2013

“Catequese e civilização”
de índios no baixo Tibagi

 
Catedral de São Jeronimo



            Na primeira metade de 1800, os caingangues têm grupos submetidos a massacres no Alto Tibagi, até serem expulsos, mas permanecem em áreas margeando o curso inferior do rio. E o governo imperial decide confiná-los, para ceder as terras a outros interessados, que tinham a posse facilitada.
            Já em 1845, o imperador Pedro II havia regulamentado as “missões de catequese e civilização de índios”, a cargo de capuchinhos italianos contratados e remunerados. Atendia os interesses do Estado e da Igreja Católica. Na Província do Paraná, criada em 1853, quem determina a localização dos aldeamentos é o senador João da Silva Machado, Barão de Antonina, o maior latifundiário. Pelo seu próprio interesse e o do governo, colonizar, Machado já mandara abrir o caminho de Castro a Jataí, na década de 1840.    
            Caingangues armados de flechas e lanças assaltam a Fazenda São Jerônimo, em 14 de novembro de 1859. Para não ser morto, o administrador foge e os índios se apoderam de ferramentas e de quase tudo que podem levar.
            Meses antes, a fazenda havia sido “doada” pelo Barão, para ser convertida em aldeamento. Caingangues: mais conhecidos por coroados, porque “tonsuravam no alto da cabeça. E assim ficavam com uma coroa – ou careca – semelhante  à dos padres recém-ordenados, a prima tonsura”. A descrição é do naturalista francês Saint-Hilaire, que os conheceu. Os coroados pertencem ao tronco . Frei Luiz de Cimitille relatou que os conheceu “altivos e independentes, exímios caçadores, ferozes e vingativos” na resistência ao branco.
            Os índios na Província do Paraná, em 1856, seriam 40 mil de diversas nações, segundo uma estimativa. Ou 10 mil, conforme outra mais acreditada. Possivelmente 10 mil, apontou o engenheiro, estudioso e vice-presidente da Província, Henrique Beaurepaire Rohan, em relatório à Assembleia Legislativa. O número de índios aldeados mais tarde confirmaria seria uma amostra da estimativa de Beaurepaire.
            Em 1879, estão “definitivamente” em São Jerônimo 405, exclusivamente coroados, dos quais 168 com menos de 10 anos de idade, conforme relatório ao presidente da Província assinado pelo “missionário-diretor”, frei Luiz de Cimitille, que assumira o cargo em 1867. Anteriormente, haviam sido diretores Joaquim Francisco Lopes, John Henry Elliott e Telêmaco Borba. Frei Luiz permanece até 1881,  retorna à Itália e morre em 1902.

Um norte-americano
entre os caingangues
           
            Filho de inglesa e norte-americano, John Henry Elliott chegou ao Brasil em 1825, numa fragata da marinha dos Estados Unidos. Tinha apenas 16 anos de idade, transferiu-se para a marinha brasileira, no posto de tenente, e foi combater na Guerra Cisplatina. Aprisionado por forças inimigas do Uruguai, consegue fugir após dois anos,  quando passa ao serviço do Barão de Antonina. Explorador e cartógrafo, Elliott faz o mapeamento de rios e terras ao sul do país, Minas Gerais e Mato Grosso, até se fixar em São Jerônimo.
            Em 1874, Elliott relatou a Thomas Bigg-Wither que toda a margem direita do Tibagi “havia sido libertada de índios hostis. Ou que foram expulsos ou forçados a viver em paz com os colonizadores”.

            A John Henry Elliott se deve a primeira novela indianista paranaense, “talvez concebida nos sertões de São Jerônimo”. A informação é do historiador Ermelino de Leão sobre  Aricó e Caocochée,  “história baseada em fatos, dedicada ao Ilmo. e Exmo. sr. Barão de Antonina”.  Pulicada inicialmente no periódico “O Jasmim”, em 1857, veio a merecer um suplemento da “Ilustração Paranaense” em 1928, com apresentação do próprio Ermelino. Os personagens são caingangues dos Campos de Palmas (sudoeste), mas Elliott já estava em São Jerônimo quando escreveu a novela, deduziu Ermelino de Leão. Resta uma contradição: Elliott, que expressou simpatia pelos índios ao escrever, ao mesmo tempo trabalhava para limitar o espaço deles.