terça-feira, 19 de fevereiro de 2013


A evolução das paragens
nos caminhos de tropas
Widson Schwartz
 Morro do Jacaré, em Tibagi

 Monumento das Águas do Tibagi

 A evolução de Tibagi em 1833, assinalada pela construção da igreja, teve influência do tropeirismo

 Ladeira da Nhá Cota
  

            A exemplo de outras povoações, a evolução de Tibagi em 1833, assinalada pela construção da igreja, teve influência do tropeirismo, que se iniciara com a corrida ao ouro de Minas Gerais nas primeiras décadas de 1700, estimulando paulistas a criar bois e muares nos Campos Gerais, para suprir aquele mercado, a Bahia e o Rio de Janeiro. Em 1727, o capitão-general de São Paulo, Caldeira Pimentel, mandou abrir o que seria o primeiro Caminho das Tropas ou o trecho que faltava, pois os historiadores se referem àestrada de Laguna”, localidade catarinense de onde prosseguiria no sentido de Rio Negro.
          Conhecido também por Caminho de Viamão, pelo qual a primeira tropa passou em 1731: Cristóvão Pereira de Abreu conduziutrês mil cavalgaduras e 500 vacasdo Rio Grande do Sul a Sorocaba, “retificando inclusive o caminho, tornando-o mais fácil e transitável”, registra o Dicionário Histórico-Biográfico do Estado do Paraná (Editora do Chain/Banestado – 1991).  .
          A Feira de Sorocaba, propriamente, começa em 1733 e logo se transforma no maior  entreposto comercial de bois e principalmente de  mulas e burrosos muares –, excelentes para tração e carga.
          Na realidade, eram caminhos de tropas, e não apenas o caminho, no decorrer do século, observa em Contribuição ao Estudo da História Agrária do Paraná, de Brasil Pinheiro Machado.  Desde o Rio Grande do Sul, passando por Santa Catarina, o Caminho de Viamão chega ao Paraná por Rio Negro, estendendo-se a Lapa, Palmeira, Ponta Grossa, Castro, Piraí e Jaguariaíva. Já o caminho a partir de Cruz Alta tem um trecho de Chapecó (SC) a Palmas, sudoeste paranaense. De Palmas estende-se a Guarapuava, Tibagi e Castro. São caminhos paralelos interligados por dois atalhos: entre Palmas e Palmeira, passando por Imbituva; e entre Guarapuava e Ponta Grossa adiante de Castro havia um caminho.
          As tropas se diferenciavam em números, de dezenas a centenas de animais, por vezes até um mil ou mais. Conduzi-los podia demorar meses, com sucessivas interrupções da jornada para o descansoTibagi a última paragem. Os animais, magros e cansados, pousam por três semanas ou até por mais de um mês. Assim recobram a resistência e o peso antes de chegarem a Sorocaba, 320 quilômetros adiante
          “Para ser bem-sucedido no comércio de mulas era preciso ter constituição de ferro, a quem a fadiga e as privações não alquebrassem”, anotou o engenheiro inglês Thomas Bigg-Wither, baseado no depoimento de um velho tropeiro de Tibagi, em 1874. Era precisoser bom cavaleiro, bom laçador efinalmente, bastante conhecedor da natureza dos muares, em todas suas características físicas e morais”. Nosquadros vivos pintadospelo tropeiro surgiam ataques noturnos de índios, encontros com jaguares, debandadas de animais. Reuni-los exigia trabalho vigoroso. “Tudo isso e muito mais o velho tropeiro traçou graficamente” e o repórter teve a sensação deestar ouvindo alguma história nova e emocionante, narrada por um talentoso capitão do far west”.

A província
de tropeiros

            A importância do tropeirismo se traduzia econômica e politicamente. Tropeiro era João da Silva Machado, representante da 5.ª Comarca na Assembleia Provincial de São Paulo, que determinou a criação da Província do Paraná e se tornou mais conhecido por Barão de Antonina.         Paraná, uma província de tropeiros, efetivada em 19 de dezembro de 1853. a primeira sessão da Assembleia Provincial, marcada para 15 de maio de 1854, teve de ser adiada para 15 de julho. O presidente da Província, Zacarias de Góes e Vasconcellos, pediu o adiamento por dois motivos: 1 – não concluíra o bem-detalhado relatório a ser apresentado; 2 – dos 135 deputados, um número substancial se encontrava na Feira de Sorocaba e não poderia regressar a tempo. Convenientemente, o presidente da Província evitaria dirigir-se a um legislativo esvaziado.