quinta-feira, 17 de janeiro de 2013


E surgiu em Carambeí
a primeira cooperativa
 Widson Shwartz


Castrolanda

 Foz do Rio Pitanguí

 Foz do Rio Pitanguí

          Aproximando-se o fim do contrato pelo qual se tornarão proprietários dos bens acumulados em 10 anos, pagos com produtos agropecuários para alimentar os trabalhadores na construção da Estrada de Ferro São Paulo Rio Grande, os holandeses em Carambeí constituem a empresa De Geus e & Cia., no início de 1925. E passam a vender o queijo também na cidade de São Paulo, representados pela firma do cônsul holandês, o sr. Berkhout.
          E por sugestão do cônsul, o queijo recebe a  marca Batavo, referência a uma tribo germano que, no inicio da era Cristã, habitava o delta do rio Reno, nos países baixos, origem dos holandeses em Carambeí. 
          Logo, em 1.º de julho de 1925, De Geus & Cia. é sucedida pela Sociedade Cooperativa Holandesa Batavo, supostamente a primeira cooperativa no Paraná, inspirada na experiência que Gerrit Los, um dos fundadores, tivera na Holanda. São 14 sócios. Empréstimo de 12 contos de réis concedido pelo fazendeiro Juca Pedro permite a construção de uma nova fábrica de queijo. Nos próximos anos a  Cooperativa tem “altos baixos” e  atinge o equilíbrio.
           Morre em 1929  Art Jan de Geus, que havia chegado em 1913, trazendo capital que permitiu financiar a compra de 100 vacas para os novos colonos. Em 1930 o Brasil é atingido pela depressão mundial, causada pela quebra da Bolsa de Nova York. Agravante; sucedem-se no país as revoluções de 30 e 32, que fecham a divisa com São Paulo, impedindo a Batavo de chegar ao seu mais importante mercado.
          A colônia entra em crise. Tentativas de convencer conterrâneos a saírem da Holanda para Carambeí trazendo capitais não deram certo. Só em 1933 o governo da Holanda envia um representante.
          Provavelmente informado sobre a fracassada Colônia Gonçalves Júnior, em 1911, o enviado  da Holanda tem a melhor das impressões em Carambeí. Se em 1911 fora preciso repatriar quase todas as famílias, em 1933 Carambeí afigura-se ideal para receber mais holandeses. E apoio governamental.
          Entre 1934 e 1940, chegam a Carambeí sete famílias holandesas, entre as quais reemigrantes da Indonésia. Ainda em 1940, a sociedade muda o nome para Cooperativa Agropecuária Batavo Ltda., com 17 sócios holandeses e alemães. A Batavo compra, da Brazil Railway, os restantes cinco mil hectares da Fazenda Carambeí.
          “Os holandeses quebraram o tabu da inutilidade agrícola dos Campos Gerais” e abriram caminho para novas e bem-sucedidas colonizações, resumiu o historiador Alberto Elfes, em Campos Gerais – Estudo da Colonização (edição do Incra – 1973). Eles atingiram a maior produtividade de leite no país, com o rebanho de origem holandesa aprimorado nos Estados Unidos. Na década de 70, levaram a soja, o trigo, o milho e outras culturas a serem predominantes em seu âmbito. Atualmente, a Batavo está em 27 municípios, com 670 associados, e o faturamento em 2012 passou de um bilhão de reais.  Mantém-se a suinocultura e sua industrialização. Já os produtos lácteos, sinônimo de Batavo na memória brasileira, constituem uma divisão do conglomerado Brazil Foods.

Batavo e Castrolanda

          Castrolanda associa Castro – o município – e Holanda, país dos colonos. Trazendo máquinas agrícolas e gado leiteiro, as primeiras cinco famílias chegaram em 30 de novembro de 1951. Logo, em 1954, as Cooperativas Batavo e Castrolanda fundam a Cooperativa Central de Laticínios do Paraná (CCLP), para industrializar e vender a produção agropecuária.
          Em 2012, a Castrolanda, a Batavo e a Agropecuária de Arapoti iniciam a construção do frigorifico de suínos, em Castro. A previsão é de faturar R$ 520 milhões anuais já na primeira fase, a se inaugurar  em novembro de 2013. Processará inicialmente 2.300 suínos por dia e colocará no mercado tender, mortadelas, bacon, presunto etc.
    

A ferrovia prosseguiu e os
holandeses permaneceram
Widson Schwartz
 O solo de Carambeí era “magro” e o historiador Alberto Elfes concluiria que a permanência dos holandeses
 se deveu às “altas qualidades humanas”

 “Algumas vilas dessa trilha que hospedavam os tropeiros tornaram-se mais tarde estações da linha de Farquhar” 

          Numa área vendida pelo governo brasileiro a preço subsidiado, alemães e holandeses fundaram, em 1908, a Colônia Gonçalves Júnior, em Irati, inviável por causa das densas florestas de araucária adjacentes, o solo pouco fértil e os ataques de insetos e mamíferos silvestres.
          Grassava o tifo e a malária. Sem assistência, a colônia ganhou a fama decemitério de mulheres”, abandonada em 1911, quando o governo da Holanda repatriou a maioria de seus imigrantes, que eram 48 famílias e 282 pessoas. Coincidentemente, naquele ano, a Brazil Railway Company daria início à construção do subtrecho Castro-Ponta Grossa da Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande (SPRG), oportunidade para que remanescentes da fracassada colônia fossem bem-sucedidos na antiga Fazenda Carambeí. 
          Em 7 de setembro de 1911, a Brazil Railway e três holandeses – Leendert, Verschoor e Vrisman – assinam contrato em Carambeí. A fazenda passara ao domínio da ferrovia. Objetivo: produzir para alimentar os trabalhadores na construção, oferecendo a Brazil Railway os insumos indispensáveis. Condições aos colonos: pagar 200 mil réis em garantia do contrato e ter capital de 1 conto de réis, cada um, para se manter até a primeira colheita. Assim se tornaram arrendatários (cada um)  de três vacas, uma casa, um lote de 25 hectares e o direito de utilizar 70 hectares de pasto natural. O número de vacas poderia se elevar a 9 já no primeiro ano.
          O contrato tem prazo de 10 anos, estabelecendo que, ao término, cada colono receberá a  escritura dos bens acumulados, no valor de 8 contos e 900 mil réis, equivalentes a 12.050 marcos, que deverão ter pago em produtos. As prestações, anuais, não excederão a metade do valor dos cereais, animais e leite fornecidos. 
          Os envolvidos podem trabalhar na construção da ferrovia, também, e a maior parte dos alemães e poloneses que aderiram à colônia, ao término do primeiro contrato preferem seguir os trilhos, ou pela certeza do trabalho nos trechos adiante de Ponta Grossa ou pela expectativa de conseguir terras melhores. O solo de Carambeí eramagro” e o historiador Alberto Elfes concluiria que a permanência dos holandeses se deveu àsaltas qualidades humanas: , tenacidade e, inclusive, teimosia”.         
          Em 1913, as famílias holandesas em Carambeí aumentaram para 12, entre as quais as de Art Jan De Geus, Hendriki Arms e de Jacob Voorsluys, “que conhecia o segredo de se fazer bons queijos”. Quando a Brazil Railway encerra o seu laticínio, em 1916, os holandeses passam a fabricar nas chácaras o queijo e a manteiga, cujo mercado inicial é Ponta Grossa. E a colônia cresce sem nenhuma ajuda financeira ou técnica, nem assistência cultural do Brasil e da Holanda. Situa-se no município de Castro, entre os rios Iapó e Pitangui, afluentes do Tibagi.      

Ferrovia no antigo
caminho das tropas

          O traçado da São Paulo-Rio Grande “seguia em grande parte a trilha usada desde o Brasil Colônia pelos tropeiros para levar bois e mulas desde o Rio Grande do Sul até (…) a feira anual de gado em Sorocaba, no sul do Estado de São Paulo”, relata  Charles Gauld na biografia do megainvestidor norte-americano Percival Farquhar, que formou a Brazil Railway para construir e administrar ferrovias. “Algumas vilas dessa trilha que hospedavam os tropeiros tornaram-se mais tarde estações  da linha de Farquhar.”
          Autorizada ainda no Império, a construção da SPRG estacionara entre Itararé e Jaguariaíva e Farquhar comprou de um grupo francês os direitos, em 1906. Empolgara-se com um fato inusitado: estavam inclusos na concessão da ferrovia 2,4 milhões de hectares no Paraná e Santa Catarina. Pelo clima temperado do sul, Farquhar imagina colonizá-los com europeus.