quarta-feira, 26 de dezembro de 2012


Ereta a vila no Iapó, o povo
dá “vivas” à  rainha Maria I 
Widson Shwartz
     
Situa-se Castro “numa colina alongada que se estende do sul ao norte até o rio Iapó”, visão de Saint-Hilaire em 1820


          Embora Saint-Hilaire mencione apenas Castro, o lugar se denominava Vila Nova de Castro quando de sua passagem; de freguesia, elevara-se a vila em 24 de janeiro de 1789, em homenagem a Martinho de Mello e Castro, ministro dos Negócios Ultramarinos de Portugal. As terras paranaenses estavam na jurisdição da Ouvidoria e Comarca de Paranaguá, Capitania de São Paulo, governada por Bernardo José de Lorena.
          Historiadores mencionam uma “ouvidoria gigante”, Paranaguá, abrangendo também partes de São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, alcançando a fronteira com a Argentina.
          Quando o ouvidor, Francisco Leandro de Toledo Rendon, declarou ereta a Vila Nova de Castro, “o povo prorrompeu em estrepitosos vivas à rainha, D. Maria I, e se ouviram descargas [das armas de fogo] pela tropa de cavalaria”.
          O toque dissonante com o advento da vila foi a designação do sargento-mor, o paulista Miguel Pedroso Leite. Ostentando a patente de capitão da guarda, ele tinhas péssimos antecedentes em outras capitanias; sua ficha corrida incluía cumplicidade em homicídio. Nomeado assim mesmo, assumiu ainda em 1789 e arvorou-se em autoridade absoluta, cometendo todo tipo de arbitrariedade. Extorquia moradores e até ameaçou rapazes, para induzi-los a casarem com suas filhas. “Foi a tal ponto o terrorismo que a população, de medo, já não concorria à missa.” A Câmara de Oficiais da Vila decidiu enfrentá-lo, e conseguiu que fosse removido em março de 1791. Restou na Câmara “formidável representação contra este Pedroso”.
          Situa-se Castro “numa colina alongada que se estende do sul ao norte até o rio Iapó”, visão de Saint-Hilaire em 1820. A leste da vila, onde a topografia é menos elevada, o viajante observou o predomínio das pastagens e uma orla de araucárias contornando o banhado.  No lado oeste, “o mais montanhoso e pitoresco as araucárias coroam as colinas”. Debaixo dessas árvores majestosas existem algumas choupanas e um vasto tabuleiro de relva alcança a cidade.
          “O rio Iapó serpenteia aos pés das colinas a oeste” tendo nas margens arbustos repletos de líquens esbranquiçados, que parecem barba de velho. O mais abundante é o pau-de-sebo, uma leguminosa, cuja madeira é muito mole e da qual “se comem os frutos chamados vulgarmente cambuí”.
          Em 1820, Castro tem uma centena de pequenas casas de taipa e no distrito inteiro cinco mil habitantes. Pessoalmente Saint-Hilaire constatou o número de habitações, que formavam três ruas e tinham semelhança com as dos camponeses de Sologne, na França. “Três ou quatro comerciantes, mulheres da vida [prostitutas], alguns operários formavam, mais ou menos, toda a população permanente da vila”, segundo o visitante. “A instrução pública é absolutamente nula.”
          Há uma produção de milho, feijão, arroz e trigo, “mas os habitantes da campanha pensam menos em cultivar a terra do que em criar animais de chifres e cavalos”. Além do mercado, a criação de animais exige “cuidados pouco variados”. Uma evolução teria início, porém.   

Elevação a cidade
e nome definitivo

          Rocha Pombo assinala “verdadeiro e admirável progresso de Castro” no período que vai de 1820 a 1860. “Em 1840 se levantou uma nova ponte sobre o Iapó (…) e o vigário da paróquia, padre Inácio de Almeida Faria e Souza, benzeu a sacristia da nova matriz em construção.”
          Nas primeiras décadas de 1800 as terras paranaenses constituem a Comarca de Paranaguá e Curitiba, a seguir 5.ª Comarca de São Paulo. São estabelecidos o “termo” – ou jurisdição – de Castro, em 1842, e a comarca em 1854. Em 21 de janeiro de 1857, com a transformação legal da vila em cidade, o nome é restrito a uma palavra: Castro.
          Assim a admirável evolução, assinalada por Rocha Pombo, desde os primórdios numa redução jesuítica fundada em 1627, ou perto da barra do Iapó ou na Fazenda Pitangui.


  

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