segunda-feira, 8 de julho de 2013

Uma disputa de 140
anos na terra indígena

Estância Rio Branco - Tamarana PR          

Face à perda do habitat primitivo, à contaminação e o aculturamento, o quase extermínio dos coroados não significou para São Jerônimo o progresso. Instalado o município em 1920, sucede fato inusitado em 1928: a Justiça Federal determina o despejo do poder público e de toda a população urbana: a cidade ocupa terra indígena. A sentença  acaba não sendo executada, mas em 1932 a comunidade é rebaixada a distrito de Jataí, assim permanecendo até 1939.
          O então prefeito de Jataí, Odilon Borges de Carvalho, sugeriu ao interventor no Paraná, Manoel Ribas, que propusesse à União a transferência dos índios para a Reserva Apucaraninha. E se liberasse São Jerônimo às 2.752 pessoas que exploravam a terra que, legalmente, pertencia a “148 índios errantes e vagabundos, consumidos pela tuberculose e pelo álcool, doentes e inúteis”.  
          Apesar da reserva, que se mantém, São Jerônimo recupera a condição de município em 1939 e muda de nome em 1943: Araiporanga. Mas permanece “em situação de atraso, sem luz e sem água. Não possui os requisitos de uma modesta sede”, informa o prefeito, major José Scheleder, em relatório ao interventor no Estado. A solução seria mudar a cidade para fora da terra indígena, em lugar oferecido pela empresa J. Sguário, na Fazenda Alagoa. Proposta rejeitada.  
          Em 1944, Araiporanga é rebaixado a distrito do recém-criado município de Congonhinhas. Só em 16 de outubro de 1947 o antigo município é restabelecido, agora denominado São Jerônimo da Serra.
          Acordo entre o Estado do Paraná e o Governo Federal, em 1948, diminui a reserva indígena de 14 mil para 2.200 alqueires.  Legaliza-se a cidade e os arredores. O tratado inclui em permuta as glebas Água Branca e Cedro, que o Governo do Paraná transfere aos índios. Essas terras, porém, estão parcialmente ocupadas por detentores de 40 títulos expedidos no tempo do Império e legitimados pelo Estado.
          Começa um novo litígio, que só terminará entre 1980 e 1990, após uma sucessão de conflitos, por vezes sangrentos, entre índios e invasores na Água Branca. Sentença da Justiça Federal determinou a expulsão dos intrusos; já as  famílias portadores dos títulos aceitaram trocar a gleba do Cedro por lotes em Tamarana. Desde a origem de São Jerônimo, em 1854, a disputa na terra indígena havia durado 140 anos. Atualmente, são  770 os índios, em duas reservas: São Jerônimo e Barão de Antonina.
          O primitivo município de São Jerônimo tinha aproximadamente 3.300 km²; atualmente, 663,8 km2. No antigo território estão desmembrados 10 municípios. 

Os últimos sinais
de Lopes e Elliott


          John Henry Elliott era desenhista e entre as aquarelas que legou, uma retrata o Aldeamento de São Jerônimo, fundado por ele e Joaquim Francisco Lopes. Em 1874, Thomas Bigg-Wither conheceu Elliott no aldeamento, casado com Reginalda, “mulata e megera, uma loucura de meia-idade”, que dava ordens ao marido “como se ele fosse um cão”. Alquebrado fisicament, Elliott possuía a casa e a terra que recebera do Barão de Antonina. Teve cinco filhos, um deles  com o nome do pai aportuguesado, João Henrique, se tornou tabelião substituto de São Jerônimo.
          Em 1920, o advogado Sá Carvalho, a serviço de herdeiros do Barão de Antonina, encontrou um neto de John Henry, chamado Claro Elliott, intérprete na reserva indígena Apucaraninha.
          Lopes e Elliott morreram e foram sepultados em São Jerônimo, em 1884.  Sá Carvalho localizou os túmulos e guiado por Claro chegou, também, aos últimos sinais da  Colônia Militar de Jataí. Num “batelão” desceram o Tibagi até a foz do Congonhas. Lá estava a pedra em que Lopes e Elliott, em 1846, gavaram as iniciais de seus nomes.
          Joaquim Francisco Lopes era natural de Minas Gerais e casou-se três vezes; a segunda esposa, filha natural do Barão de Antonina, chamava-se Maria Conceição Vergueiro. Dos três matrimônios, ele teve 12 filhos.