terça-feira, 4 de junho de 2013

Jesuítas, índios e minas
de sal no médio Tibagi
Paisagem em Ortigueira

Usina Mauá, em Telêmaco Borba
            No curso médio do rio Tibagi, entre o Salto Mauá (município de Telêmaco Borba) e a foz do rio Apucaraninha (município de Tamarana), a referência colonizadora mais antiga é a redução jesuítica Nossa Senhora da Encarnação, que existiu entre 1625 e 1628, na margem esquerda, até ser atacada pelo caçador de índios Raposo Tavares.
          Chegou a ter 500 famílias indígenas, produzia inclusive uvas e explorava minas de sal.
          Na então região del Guairá, domínio espanhol, os padres da Companhia de Jesus (jesuítas) estabeleceram as primeiras reduções indígenas na margem direita do Paranapanema, a partir de 1610. Entre 1622 e 1625 eles atingem o baixo e o médio Tibagi, agregando índios na margem esquerda. Nossa Senhora da Encarnação é fundada em 1625, pelos padres Antônio Ruyz de Montoya e Cristobal de  Mendoza, “em terras de Taiati, dominadas pelo cacique Pindoviiú, à margem esquerda do rio Tibagi”.
          Presumivelmente, abaixo da foz do rio Barra Grande, área na margem esquerda do Tibagi hoje município de Ortigueira. Nos mapas arqueológicos do Paraná a redução tem o nome resumido a Encarnação. “...dimosle princípio la vispera de S. Lorenzo del año de 625 y levantamos una muy hermosa cruz (…) echamos suertes sobre el nombre que avia de tener el pueblo y salio três bezes el de encarnacion” — registrou Montoya.
          Os caingangues resistiram à presença jesuítica no médio Tibagi e houve a mudança da redução para lugar mais propício à agricultura. Do vasto registro sobre a ação jesuítica para  catequizar os índios, em maioria guaranis, a fonte para esta reportagem é a síntese do professor Igor Chmyz em Arqueologia e História da Vila Espanhola Ciudad Real del Guairá (Cadernos de Arqueologia – n.º 1, 1976 – Universidade Federal do Paraná).
          Em 1627, Encarnação mudou de lugar, por dois motivos: 1 – as invasões de  índios chamados “campeiros ou coroados” — os caingangues. 2 – Havia uma “ameaça de fome”. Por essa vaga menção supõe-se que o núcleo situava-se em lugar desfavorável à produção de alimentos. Já no outro lugar, a redução não está imune aos ataques de caingangues e também de tupis. Gradativamente, os caingangues se integraram à redução e os tupis acabaram aprisionados.
          “A fertilidade da terra e o clima aprazível possibilitavam fartas colheitas”, afirmam historiadores sobre o novo lugar de Encarnação, relacionando 500 famílias indígenas. “Outro aspecto interessante dessa redução: a descoberta de minas de sal em suas proximidades.” Valiosa alternativa. Antes, “o fornecimento de sal ao Guairá era feito da longínqua Assunção”.
          Havia na província espanhola do Guairá pelo menos três comunidades ou “cidades”  (Ontiveros, Ciudad Real del Guairá e Villa Rica el Espírito Santo), que produziam artefatos de ferro e até armas de fogo, e 14 reduções jesuíticas. A alguma reduções eram circum-muradas de taipa, possuíam armas de fogo e resistiam às investidas de bandeirantes. Não há indicativos de que Encarnação estivesse entre elas.

Ataque final
a Encarnação  
          Os portugueses, que a princípio respeitavam o índio cristianizado, “devido ao vulto" da ação jesuítica, passaram a buscá-los nas reduções, “as vantagens eram enormes”, porque haviam sido treinados para o trabalho. Já entre 1923 e 1924 Manuel Preto capturava índios diretamente nas reduções do Paranapanema e baixo Tibagi, sem destruí-las, porém.
          Com três mil portugueses e 900 mamelucos, a bandeira do caçador de índios Raposo Tavares chegou ao planalto paranaense através do vale do Ribeira. Em 8 de setembro de 1628, atravessou o Tibagi e destruiu Encarnação. A seguir deslocou-se para os vales do Ivaí e do Piquiri, rumo a outras reduções e aldeias, e regressou a São Paulo em 1.º de maio de 1629, levando 20 mil índios.



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