sexta-feira, 3 de maio de 2013


Indústria preservou araucária no
maior reflorestamento do mundo 



         
 Levantamentos chegaram a três milhões de metros cúbicos de araucária na Fazenda Monte Alegre em 1943, reserva suficiente para os primeiros dez anos da indústria de papel. Conífera de fibras longas, a araucária entra com 80% na composição da celulose e o eucalipto, de fibras curtas, com 20%, o processo à época. A pasta mecânica de papel-jornal, porém, é só de araucária, economicamente industrializável a partir da idade mínima entre  20 e 25 anos.
          Sendo uma árvore de longo prazo, já em 1942 a Klabin iniciara o reflorestamento com araucária no alto e médio Tibagi.
          Em 1943, as madeiras em geral já representam 49,5% do valor da exportações paranaenses e na década de 1950, o pinho – ou seja a araucária – passa a ser a madeira predominante. Com a metade dos pinheiros em idade de corte no sul do país em 1953, o Paraná põe no mercado 1,750 milhão de m³, equivalentes a 54% da produção nacional, vendida em toras, beneficiada, em laminados e compensados — estatística no livro A Madeira na Economia Paranaense, de Aída Mansani Lavalle (Grafipar/Secretaria da Cultura e do Esporte do Paraná – 1981).
          As serrarias avançam do sul para sudoeste, fazendo supor a extinção da árvore. Mas, até 1951, a Klabin já havia plantado 70 milhões de araucárias, sete mil hectares. E previa a continuidade com 20 milhões de mudas anualmente em áreas desmatadas e de campo.
          Em 1954, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) informa que, incluindo outras essências, “o maior reflorestamento particular do mundo” está em Monte Alegre.
          Com a seca prolongada em 1963, incêndios destroem florestas e matam animais e gente. “O interior do Paraná está pegando fogo”, escuta-se no rádio em 29 de agosto de 1963. No médio Tibagi, fagulhas atravessam o rio das Antas, passando aos pinhais e eucaliptos da Fazenda Monte Alegre.
          Em 4 de setembro, as chamas se aproximam de Harmonia; preventivamente, parte da população se refugia na fábrica, há notícias de mortos em outros lugares e ao hospital chegam, procedentes de Ortigueira, pessoas queimadas. Quatro mil homens do Exército, Marinha, Força Aérea, da Polícia Militar e bombeiros entram em ação, além das equipes da Klabin e voluntários; um helicóptero orienta as unidades militares.
          “Monte Alegre bastou-se, mas nos seus arredores morreram famílias inteiras.” O fogo durou pelo menos 20 dias na região e no Estado chegou a 40 municípios durante quatro meses. 
          Arderam 36 mil hectares reflorestados na Fazenda Monte Alegre e também pinhais nativos. Das araucárias plantadas, 70% queimaram, conforme a história no livro Monte Alegre, cidade-papel. A chuva, que começou em 18 de setembro, ajudou a apagar o fogo e se constatou que aves e mamíferos silvestres morreram aos milhares.
          “Os pinheiros carbonizados permaneceram de pé, esqueletos negros num cemitério de cinzas com milhares de hectares” e o plano de autossuficiência da Klabin ficou irremediavelmente prejudicado. Mas, “dos grandes pinhais, por onde passara o primeiro fogo, restaram áreas extensas; araucárias chamuscadas resistiram, numa promessa de recuperação”.

Na cobertura de 17%
resta pouca araucária
         
          Primitivamente, a cobertura florística do Paraná cobria 164.800 km² (= 16,4 milhões de hectares): 83,7% da superfície estadual, dos quais aproximadamente a metade, 43,8% ou 7,2 milhões de hectares, de araucária.
          Atualmente, conforme o levantamento da Universidade Federal do Paraná divulgado em 2003, a cobertura arbórea nativa, que se observa em três estágios de regeneração, ocupa 17% da superfície do Estado. Acrescentando-se várzeas, campos, cerrados etc., chega a 18%. Os índices de regeneração no ecossistema da araucária totalizam 24%, contra 10% no restante. Portanto, evoluindo.
          As araucárias em estado avançado de regeneração, porém, constituem “poucos e dispersos fragmentos em franco processo de desaparecimento, por estarem sob risco de extração, queimadas, substituição etc.”  — segundo analistas da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental.

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